A jovem sentou-se no sofá, desde que Júlia começou a trabalhar como a preceptora da pequena Bella, o descanso era algo que não conhecia, respirou fundo pensando em sua situação.
O pai da menina ligava, duas vezes por dia, falava com a filha por alguns minutos ou fazia chamada de vídeo. Júlia não teve chance nem mesmo de ouvi-lo. Maurice sabia que a filha tinha uma nova preceptora, mas não se interessou em saber quem era.
Bella nos primeiros dias ficou desconfiada com a presença da nova preceptora, mas depois acabou aceitando a moça. O pai da menina continuava viajando, Janice tinha dito que alguns problemas no escritório da Alemanha não tinham sido resolvidos.
O pai de Maurice, o senhor Eddie era um homem agradável que gostava de contar histórias para as duas, toda noite depois do jantar. Ele lhes dizia como tinha construído tudo do zero, junto com seu melhor amigo que veio a ser o pai da esposa do filho.
Soube também que ele era o único que mantinha amizade com Dolores, avó de Bella e com Evelyn a irmã gêmea de Louise, que segundo Adele, a empregada e amiga que Júlia fez na mansão, era apaixonada por Maurice desde a adolescência, mas o cunhado nunca quis nada com ela.
Eles também tinham uma filha chamada Brenda que estava recém-casada com Scotty. Os dois estavam em lua de mel, pela Europa e ficariam fora por alguns meses.
Montava a árvore genealógica do patrão quando a pequena apareceu na sua frente com o rosto completamente suja:
— Bella, vamos é hora de tomar banho, daqui a pouco você tem que jantar.
— Senhorita Júlia será que amanhã podemos dar comidas aos pombos? O papai não está aqui e todo sábado ele me leva pra brincar na grama e alimentar os bichos.
— Humm, deixa eu ver? — Júlia fez uma expressão de pensativa, pegou a menina no colo e levou para o banheiro — Vou pensar no seu caso amanhã.
Júlia sabia que a menina queria distrair a preceptora para continuar brincando, deu banho na menina e lhe colocou uma roupa limpa, além de pentear seus cabelos, quando desceram para a sala de jantar a menina estava novamente apresentável.
— Boa noite!
Eddie e Janice esperavam as duas, logo o jantar foi servido e Júlia ficou no canto com os empregados.
—Vovó cadê meu pai?
— Querida, Maurice ligou na hora do almoço e me disse que se tudo correr bem, no domingo ele chega em casa.
Eddie tocou a mão da esposa assim que entraram na sala de jantar. Júlia achou tão meigo a forma que o casal se tratava, depois de anos de casado. Infelizmente quando seu pai era vivo, a mãe não era bem tratada como a senhora Janice.
A jovem ficou em pé enquanto os patrões jantavam e depois do jantar, Janice veio ter com ela na sala de estar, a neta estava sentada no chão
— Senhorita Júlia, o que está achando dessa primeira semana? Minha neta está dando muito trabalho pra você?
— Não estou não vovó, eu obedeço a tudo que a senhorita Júlia fala, estou me comportando muito bem.
Janice caiu na gargalhada, Júlia concordou com Bella.
— Senhora além de ser uma boa menina, é obediente e estudiosa, ela não me dá trabalho algum. E gostaria de pedir permissão para levar Bella amanhã até a orla, para dar comida aos pombos. Ela me disse que o pai a leva, todo fim de semana, se vocês dois não se importarem, eu posso fazer isso.
Janice concordou de imediato não sabia se Maurice voltaria como o combinado, não seria a primeira vez que se ausentava por um longo período.
— Vá, mas vá cedo, caso Maurice chegue amanhã quero Bella em casa. Saiam por volta das oito da manhã.
Antes das dez horas da noite, a menina já estava pronta para dormir e já tinha feito sua oração. Quando Bella pegou no sono, a jovem fechou a porta e suspirou, poderia enfim descansar.
Júlia foi para o quarto, ler um pouco, quando olhou no relógio já era quase meia-noite. Estava com insônia, decidiu tomar um copo de leite morno, isso sempre a ajudava a dormir.
Saiu do quarto, foi com cuidado até a cozinha, todos já estavam dormindo, a moça não quis acender todas as luzes, decidiu ligar apenas a lanterna do celular preparou seu leite, o colocou no micro-ondas, um minuto era mais que o suficiente.
Pegou o copo quente com cuidado e ao virar-se para voltar para o quarto, espantou-se com uma sombra parada na cozinha, a pessoa parecia olhar pra ela. Pela silhueta era um homem, mais alto que ela, a sombra então veio em sua direção e a jovem acabou deixando o copo cair.
Ele acendeu a luz e ela pegou os cacos rapidamente, mas acabou ferindo a mão com o vidro.
O homem veio até ela, pegou sua mão e tirou do bolso do paletó, um lenço branco e colocou no corte.
Quando Júlia levantou o olhar, o homem a encarava abertamente, ele era um escândalo de bonito, os olhos castanhos queimavam a sua pele, ela engoliu em seco, quando ele sorriu, mas a sensação boa deu espaço a um olhar furioso por parte dele.
— Quem é você e o que está fazendo na cozinha da minha casa? Quem te deu permissão?
Júlia fechou os olhos, deu um suspiro de tristeza, pela cara do chefe ela, com certeza, seria despedida na manhã seguinte.