Diana narrando
Eu e a Isabela passamos o dia inteiro largadas na piscina, como duas folgadas que não queriam saber de mais nada. A água morna do sol batendo, a cervejinha gelada descendo leve, uns petiscos que a gente improvisou ali na cozinha e um gin caprichado com bastante limão. A tarde foi passando como se o mundo tivesse parado só pra gente aproveitar. E a verdade é que eu precisava dessa pausa, dessa tranquilidade, desse espaço onde eu me sentia segura — mesmo com aquele homem circulando ali pela casa.
Quando o sol começou a baixar, a gente tomou um banhozinho juntas, daquela água gostosa que lava a alma. Depois caímos na cama dela dizendo que íamos assistir um filme, mas nem durou dois minutos e já estávamos apagadas. O dia inteiro no calor, na piscina, bebendo… o corpo desligou. Acordei com ela socando um travesseiro na minha cara.
— Anda, amiga! Vamo pro pagode, bora! Tá rolando geral na praça!
Eu virei pro lado, me enterrando mais ainda no colchão, preguiçosa até a alma.
— Não vou, que saco. Quero dormir, vou pra casa, vai tu, dá pros machos aí que hoje eu só quero sonhar com minha cama — resmunguei, enterrada no travesseiro.
— Você vai comigo sim, sua ingrata! — ela rebateu, jogando um vestido preto em cima de mim.
Fingi que ignorei, continuei ali deitada, imóvel. Até que a desgraçada pulou em cima de mim. A gente começou a se empurrar, rindo, e eu acabei derrubando ela no chão.
— Sai, garota chata — eu xingo ela e derrubo ela da cama — Cara, tu é muito chata. Quando eu tirar folga eu vou sair da favela, porque além de tirar folga do serviço, tenho que tirar folga de você também! — respondi rindo, já levantando pra jogar uma água no corpo de novo. Enquanto isso, escovei as lentes, e comecei a fazer a maquiagem. Já conheço esse roteiro. Toda vez que eu tiro folga, é a mesma novela.
Peguei o celular, mandei mensagem pro meu pai. Ele respondeu dizendo que tava tudo tranquilo no bar, que minha mãe tava com ele e que eu podia aproveitar meu dia. Respirei aliviada. Eu sabia que podia confiar neles, mas era meu costume checar, saber se tava tudo certo com a nossa correria. Se eles precisavam de mim, porque eu largo tudo na hora e vou.
Voltei pro quarto e olhei o vestido que ela me jogou. Era curto. Bem curto. Um pretinho nada básico, com um decote estilo balão, que descia pelo meio dos p****s e vinha todo cheio de babado. Quando coloquei, senti o poder. Ele subiu na coxa de um jeito indecente, grudou na minha pele, e armou na cintura como se tivesse vida própria. Passei perfume e, enquanto me olhava no espelho, só conseguia imaginar a reação do Grego ao me ver assim.
O cheiro dele ainda tava na minha memória.
O olhar de mais cedo.
A tensão que crescia toda vez que estávamos no mesmo ambiente.
Depois de ouvir a conversa com a Isa sobre a Michele, de ver que ele mesmo afirmou que o casamento tava por um fio — ou nem existia mais —, alguma coisa dentro de mim se libertou. A vergonha diminuiu. O desejo cresceu. E agora, mais do que nunca, eu queria ver ele perder o controle.
— Ai que delícia! — Isabela fala, girando na frente do espelho com um vestido rosa que mais parecia uma afronta.
— Teu bofe vai te matar se te ver nesse vestido aí, hein — zombei, já rindo com ela.
— Ih, já discuti com ele. Já acordei por conta desse macho — ela respondeu, revirando os olhos.
Eu só balancei a cabeça. Eles são ferro e fogo. Não vou me meter, mas não consigo ainda visualizar os dois juntos.
Terminamos de nos arrumar, tiramos altas fotos no quarto. Ela subiu na cama, fez pose. E descemos pra garagem. Eu sentei na moto dela, empinei a b***a, joguei o cabelo pro lado e pedi:
— Tira uma de mim assim.
Ajeitei o vestido propositalmente pra subir mais um pouco, deixei a tatuagem das costas à mostra — aquela que desce pelas costas toda, até sumir ali, no comecinho do perigo. Ela tirou a foto e eu olhei no visor, sorrindo satisfeita. Gostosa demais. Guardei a foto. Não postei. Ainda. Ia postar na hora certa. Na hora que ele visse.
Montamos na moto e descemos pra praça. O som já tava alto, gente pra caramba, o clima de sexta fervendo no ar. Isa estacionou e falou logo:
— Vamo lá falar com meu tio.
Assenti, ajeitei o vestido antes de descer da moto e senti o olhar dele me rasgar antes mesmo de eu levantar a cabeça.
Era como se ele já soubesse. Como se tivesse sentido meu cheiro chegando. Quando meus olhos encontraram os dele, lá no canto do barzinho onde ele sempre senta, com todos os seguranças em volta, eu vi.
Ele me devorou com os olhos.
De cima a baixo.
Sem disfarçar.
O copo parou na metade do caminho até a boca. A expressão mudou. O semblante fechou, como se precisasse controlar algo dentro dele.
Meu coração disparou. As pernas deram aquela fraqueza clássica de quando a gente sabe o poder que tem. E gosta do impacto.
— Oi, tio! — Isabela chegou animada, como sempre, se jogando nos braços do Grego com aquele carinho natural que os dois compartilhavam.
Ele, no entanto, não retribuiu com a mesma leveza. A expressão no rosto dele endureceu assim que bateu o olho no vestido da Isa. Aquela cara de poucos amigos, o cenho franzido e a voz grave que cortava o som do pagode como navalha.
— Tu sabe que eu não gosto que tu ande com essas p***a dessas roupa curta, Isabela. Palhaçada isso aí. Parece que não tem dinheiro pra comprar roupa direito — ele soltou, direto, com um tom de ciúme escancarado.
Ela deu risada, tirando sarro da bronca.
— Ih, vou lá pro outro bar hein! Vou ficar aqui não — falou rindo, fingindo que ia embora, mas ele já tava com o olhar fixo em mim.
E foi aí que ele largou o papo reto, sem rodeios, sem meias palavras, com a voz baixa mas firme, que mesmo no meio da praça cheia, ecoou nos meus ouvidos com nitidez:
— Se quiser ficar aqui na mesa fica. Tu é minha filha, tu vai ficar à vontade. Só que se tu quiser ficar na mesa pra lá, com a tua amiga… — ele me olhou de cima a baixo, me mediu inteiro com os olhos, como se me despisse ali mesmo — pode ir que tá na minha conta.
Ele me encara novamente, passeia com seus olhos por todo o meu corpo e volta a me encarar negando bolado.
Isabela não disse nada. Engoliu o seco, com a expressão meio chateada. Mas ela sabia que quando ele falava assim, era pra encerrar o assunto.
— Precisa pagar não, tio. Tá de boa. Eu tenho dinheiro aqui, que o senhor me dá, tá? — ela falou baixinho, dando um beijo no rosto dele. Ele só balançou a cabeça, sério, sem responder.
A gente se afastou dali e eu senti o olhar dele grudar na minha b***a enquanto eu caminhava. Eu sabia. Sentia o peso dos olhos dele queimando minha pele, me acompanhando a cada passo. E aquilo… ao invés de me intimidar, me incendiava.
Notei que a Isa também encarou o Bin por uns segundos. Eles trocaram olhares rápidos, mas não se falaram. Era uma coisa silenciosa, contida. Diferente do furacão que tá demonstrando ser com o Jhonny. Não entendi bem qual era, mas algo ali tava m*l resolvido.
O tal “bofe” dela não estava. Fomos pra uma mesa mais afastada, que já tava pronta, como ele disse, “por conta dele”. Quando vi o combo chegando, com direito a tequila, energético e frutas cortadas, gin, eu amei!
— Ai, cara… eu não acredito que minha mãe vai perder meu tio de bobeira — Isa disse, olhando pra nossa antiga mesa.
Segui o olhar dela e lá estava. Uma p**a sentada no colo do Grego.
A b***a dela praticamente encaixada, as mãos dele ali, firmes nas coxas. E aquele sorriso de canto que ele dava.
Meu estômago embrulhou.
A raiva subiu seca pela garganta.
Não tinha o menor sentido eu me sentir assim. Eu sabia disso. Ele não era meu. Mas ver aquela mulher no colo dele me deu um misto de ódio e de frustração que eu não soube disfarçar.
— Amiga, vamos dançar. Vamos sambar, vamos se divertir. Você sabe que a sua mãe tá vacilando e sabe que ele nunca vai permitir que você interfira nessa história, né? O respeito que ele tem por você dá pra ver e sentir de longe. Então deixa que eles se resolvam no problema deles.
Ela assentiu, sem falar nada. Só pegou a dose de tequila, brindamos rindo e viramos juntas. A bebida desceu queimando, mas o calor não era da bebida. Era dele. Do olhar dele. Da presença dele.
A música acelerou. O grupo chamou mais gente pro meio da roda de samba e eu puxei Isa comigo. Começamos a sambar juntas, rindo, se provocando, empinando o corpo uma pra outra, entrando naquela energia deliciosa de liberdade.
A batida entrava na pele. O corpo respondia sozinho.
Cabelo jogado, quadril solto, risada solta.
Quando percebi, já estava no centro do salão.
Os cantores nos chamavam pelo nome, animando, e a galera abria espaço.
Eu fui no embalo. Me entreguei ao som, ao ritmo, ao suor que começava a descer pelas costas. Senti o vestido subir mais, colar ainda mais no meu corpo. E de repente, virei… e lá estava ele.
Parado. Me olhando.
Copo na mão, mas sem beber. Sem piscar.
A boca semiaberta, os olhos fixos em mim, como se cada movimento que eu fazia fosse uma provocação pessoal.
E era.
Passou a ser.
Comecei a sambar de frente pra ele.
O olhar dele era tão intenso que parecia me tocar.
Comecei a rebolar mais. A descer devagar.
Levantei o cabelo, mostrei a tatuagem das costas.
Dei a volta em mim mesma, deixei ele ver o vestido colando entre minhas coxas.
Ele travou.
Não bebia.
Não falava.
Só… desejava.
E eu queria mais.
Aquela noite não tinha acabado.
Nem começado.
E eu sabia que eu ainda ia fazer esse homem endoidar
— posso ? — o Michael da barbearia me tira pra dançar é claro que eu aceito e passo a mão pelo seu ombro e ele gruda o corpo no meu e eu ouço um barulho de copo quebrando e sei bem quem quebrou…
Continuo dançando e não me dou nem ao trabalho de olhar pra mesa dele…
Eu quero deixar esse homem em chamas assim como ele me deixa toda vez que ele me olha…