Às vezes nos perguntamos o porquê de insistirmos em beber quando sabemos o resultado de tanta bebida no dia anterior e era assim que eu me sentia.
Mesmo que eu soubesse que seria domingo e que por sorte não teria que ir ao trabalho, o simples fato de dormir até tarde iria significar o quão tarde havia voltado para casa, o quanto de bebida eu havia ingerido...
Antes mesmo de me recompor e levantar da minha cama, pensei que dentro de alguns dias eu estaria morando sozinha, no meu apartamento, onde quem iria estabelecer as regras seria eu.
Encontrei mamãe e papai na mesa tomando o café da manhã — que por sinal estava recheado — e a única coisa que eu precisava era uma enorme xícara de café preto forte.
— Não vi a hora que chegou ontem. — Papai comentou, lendo o jornal que estavam em suas mãos.
— Nem eu sei ao certo a hora que cheguei, mas acredito que não tenha sido muito tarde. — Expliquei.
— Se divertiu? — Mamãe perguntou, ela, ao contrário de papai, estava prestando atenção em mim.
Apenas assenti com a cabeça e senti que papai olhou por cima do jornal para ver a minha reação.
— Vocês dois beberam muito ontem? — Eu estava certa, uma hora papai começaria fazer aquelas perguntas indesejadas.
— Não. — Neguei com a cabeça, mentindo.
— Ele tratou você bem? — Segunda pergunta.
— É claro. — Olhando por um lado, Rafael havia me tratado bem, apenas bebeu em excesso e deixou-me sozinha, mas não havia sido um ogro ou algo do tipo.
E o interrogatório veio mais forte do que eu imaginei que viria.
Algumas perguntas me deixavam constrangida, já que estava entre os meus pais e aquilo me deixava desconfortável.
Por sorte o telefone começou a tocar e resolvi que iria atender para quebrar o clima tenso.
— Alô?
— Gostaria de falar com a senhorita Carolina da Silva? — A voz do outro lado da linha pertencia a uma mulher, não sabia dizer exatamente qual era a sua idade, mas a voz não era muito legal de se escutar.
— A própria. — Concordei.
— Nós temos o seu nome anotado como uma das compradoras de um apartamento, correto? — A mulher pediu para que eu confirmasse.
— Correto. — Confirmei.
— Nós queríamos dizer que a entrega será antes do tempo previsto, na semana que vem a senhora já pode estabelecer-se em seu apartamento. — Ela havia ligado no momento certo, quando o que eu mais precisava era de uma notícia boa como aquela.
— Muito obrigada pela informação. — Agradeci, desligando o telefone.
Meus pais estavam me olhando. Eles não sabiam do que se tratava a ligação que eu acabara de receber, mesmo porque eu não disse nada que pudesse facilitar.
— Quem era no telefone Carolina? — Papai perguntou.
— A mulher informando que meu apartamento estará pronto na semana que vem. — Respondi.
Agora, o assunto havia saído do meu “encontro” na noite anterior e havia sido direcionado para a mudança que eu faria na semana que vem.
Posso afirmar que meus pais não gostavam da ideia de me ver longe deles e ainda mais agora sabendo que demoraria exatamente uma semana e não mais um mês.
Resolvi que precisava sair de casa, mas não iria para um lugar qualquer. Iria para o apartamento da Mariana onde poderia contar sobre a minha noite h******l e sobre a certeza que eu tinha que não iria mais sair com Rafael.
Estava pensando em desistir de bater naquela porta, as pontas dos meus dedos já estavam cansados do contato contra a mesma.
Mariana abriu a porta enrolada em uma toalha, é claro que a porta tinha olho mágico, caso contrário ela não havia aberto a porta daquela maneira.
— Você demorou, já estava indo embora. — Reclamei, deitando em seu sofá.
— Pelo visto a noite anterior foi boa para que você viesse até o meu apartamento. — Mariana brincou, insinuando o seu pensamento sujo com segundas intenções.
— Para o meu azar, foi péssimo. — Contei.
Ela não iria colocar uma roupa, pelo menos não antes de escutar o que eu tinha para falar.
— O que aconteceu? Ele é um psicopata? Tentou abusar de você? — Ela estava preocupada comigo, a final, foi ela quem bolou essa lista.
— Nós bebemos, é claro que eu bebi em menor quantidade. Ele queria que eu dançasse, eu não sabia dançar. Havia uma loira que também havia bebido, os dois se grudaram na parede e ele me abandonou. — Expliquei resumidamente, antes que ela tivesse um ataque na minha frente.
Mariana estava chocada, como prova disso, sua boca estava aberta e uma das suas mãos tampava a mesma.
— E como você foi embora? Ligou para os seus pais? Aposto que seu pai ficou uma fera. — Perguntou rápido demais, não dando chance para que eu respondesse suas perguntas.
— Um estranho me ofereceu uma carona, ele estava na festa. — Contei.
— E você aceitou? Como você é louca! — Acusou-me.
— Não esqueça que você quem me colocou nessa furada. — Apontei para ela, que talvez agora estivesse se sentindo culpada.
Mariana sentiu-se culpada, mas querendo ou não eu poderia ter negado o seu pedido de fazermos uma lista para que eu pudesse encontrar o cada ideal.
Mesmo sabendo que seria loucura encontrar o homem da minha vida em um ambiente assim, de uma maneira que não faria muito sentido, mas eu precisava de alguém, eu sentia isso.
Havia necessidade em encontrar alguém.
— Eu acho que você deveria desistir da lista, não foi uma boa ideia. — Mariana confessou por fim, decepcionada.
— Não há o porquê de desistir agora. — Afirmei. — Quero continuar com a lista, pode ser bom para mim.
— Mas e se alguma coisa acontecer com você? — Perguntou preocupada.
Agora era como se estivéssemos acabado de trocar de lugar. Toda a preocupação que eu passara a sentir após saber da lista, agora havia passado para Mariana que estava aflita ao meu lado.
Estávamos estudando a possibilidade do próximo encontro com o segundo homem da minha lista. Estava ansiosa para saber quem era, já que a minha melhor amiga havia tomado posse da minha agenda, onde se encontrava a lista.
Guilherme Ferreira.
Esse era o nome do meu próximo possível amor.
— Irei procura-lo nos seus contatos. — Mariana avisou.
— Devo dizer que o nome é familiar, acho que lembro-me dele. — Contei.
E de fato o nome dele me chamava a atenção. Sabia que ele havia estudado comigo no ensino médio e que pode parecer estranho uma pessoa não lembrar de outras. Mas, a minha sala era enorme, digamos que cerca de cinquenta alunos. Tirando o fato de que eu era antissocial, principalmente por passar os três anos da minha vida, ligada nos livros e cadernos para passar em Direito.
Pelo simples fato de lembrar do seu nome, algo me dizia que aquele encontro seria diferente. Sentia-me mais à vontade agora.
A primeira experiência foi terrível, mas isso não queria dizer que as outras tentativas terão o mesmo resultado. Se bem que, eu tenho uma grande parcela de culpa em ter aceitado primeiramente a ir em uma festa — onde eu não sabia onde ficava, as pessoas que iriam estar —, por mais que alguns rostos na noite anterior fossem familiar e ter sido levada para casa por um homem generoso, isso não acontece sempre.
Como o mundo está cada vez mais perigoso, nós necessitamos estar atento a todos que nos rodeiam.