Capítulo 04

1338 Words
Analisar a situação em que me encontrava naquele momento parecia-me infantil. Na verdade, estava me sentindo uma adolescente que foi deixada pelo “acompanhante” e não havia uma maneira para voltar para casa naquele momento. Era incrível como as pessoas daquela rua não se importavam com o barulho que as caixas de som estavam fazendo. O chão chegava a tremer, mesmo estando lá fora, ainda assim o barulho era muito alto e incomodava os ouvidos. — Moça? — Uma voz jovem, porém rouca, tirou-me dos meus devaneios. — Pois não? — Perguntei, ao notar o homem alto que se encontrava em pé ao meu lado. — Você está se sentindo bem? — Perguntou, olhando-me de maneira estranha. Era possível perceber que ele havia ingerido bebida alcóolica, mas que não havia sido em uma grande quantidade como Rafael. — Estou. — Assenti. — E por que não está aproveitando a festa, assim como as outras pessoas? — Por que esse estranho estava falando comigo? — Longa história. — Bufei, percebendo que passaria mais tempo ali do que o esperado. O homem que provavelmente tinha a mesma idade do que eu, sentou-se ao meu lado, mantendo um espaço considerável entre os nossos corpos. Não me sentia totalmente confortável com a sua presença, já que para mim ele era um total desconhecido. Porém, de alguma maneira sentia-me segura por já não estar sozinha lá fora. — Acredito que você esteja esperando por um amigo? — A sua pergunta saiu mais como uma afirmação. E sim, ele estava correto. — Na verdade, talvez era para ter sido um encontro. — Expliquei. — E ele a deixou aqui sozinha? — Franziu a testa, em sinal de total estranhamento. — Ele é um velho colega de escola e convidou-me para esta festa, a questão é que ele bebeu demais e conseguiu ficar com uma loira, já que eu não estava dando conta. — Precisei explicar apressadamente da maneira mais resumida para que eu não precisasse contar cada detalhe daquele frustrante encontro. O homem que eu não sabia o nome, pareceu impressionado com a breve história que havia terminado de contar. Talvez sem querer, deixou uma pequena risada escapar. — Desculpe-me. — Pediu. — Não se preocupe, olhando por um lado é engraçado. — Dei de ombros. O silêncio novamente voltou e a situação ficou estranha. Não sabia o que dizer para puxar conversa, mesmo porque não o conhecia, como poderíamos conversar? Não éramos amigos e nem nada do tipo. — E você, por que não está lá dentro? — Perguntei, tentando mostrar-me interessada. — Eu acredito que eu esteja velho demais para essas festas. — Explicou, mostrando que estava exausto. — Ah, você ainda está novo. — O que eu estava querendo dizer exatamente? Ele era jovem, era um exagero dizer que estava velho para essas festas. — Realmente vinte e seis anos não é muito, mas ainda assim acredito que não fui feito para essas coisas. — Explicou. Ele era um ano mais velho do que eu. — Não sei se você aceita, mas se quiser posso te dar uma carona até a sua casa. — Sugeriu, fazendo com que os meus olhos brilhassem. Por um segundo desejei que Rafael fosse aquele homem gentil que estava sentado ao meu lado. Querendo ou não, ele havia deixado de fazer o que estava fazendo para sentar-se ao meu lado e agora estava me oferecendo uma carona, que era tudo que eu precisava naquele momento. Caso meus pais estivessem acordados por algum motivo — ou até mesmo me esperando para ver que horas exatamente irei chegar —, iriam estranhar o fato de que cheguei em outro carro. A questão era que eu estava muito cansada e não iria ficar esperando Rafael, mesmo porque, sabe-se lá se ele irá sair daquela festa sozinho e bom o suficiente para dirigir um carro. Resolvi aceitar a carona do desconhecido. — Eu não quero atrapalhá-lo. — Precisava ser educada, assim como ele estava sendo comigo. — Não se preocupe, não está me atrapalhando. — Afirmou. Ele levantou e logo em seguida estendeu a mão para que eu pudesse me levantar e assim eu fiz. Fazia tempo que não era tratada dessa maneira. Quer dizer, não conta o fato de muitas vezes os homens do escritório ou até mesmo os clientes tentarei ser “gentis” para um bem maior. Fazia tempo que não tinha esse contato com o s**o oposto. O homem charmoso fez questão de abrir a porta do seu carro para que eu pudesse entrar. Sempre que estava com alguém desconhecido, principalmente dentro de um carro onde eu não era a motorista, sentia um desconforto irreconhecível. Precisava manter a calma. Ele estava fazendo uma boa ação. — Eu acredito que você esteja pensando que é muito bom para ser verdade. — Ele falou do nada, despertando-me dos meus pensamentos. — O que você quer dizer exatamente? — Perguntei confusa. — Você está sozinha, eu chego do nada e começo a conversar com você sem segundas intenções. Ouço o seu desabafo. Conto um pouco sobre mim. Te ofereço uma carona. Tudo isso sem nada em troca. — Ele estava lendo a minha mente, essa era a única explicação. Gostaria de poder dizer que ele estava errado e que eu não estava pensando aquilo dele, mas estava correto. — Eu sou assim com desconhecidos, desculpe-me. — Expliquei. — Não peça desculpa, você está totalmente certa. — Concordou. — Se eu tivesse uma filha e ela tivesse aceitado a carona de um homem e de alguma maneira eu ficasse sabendo, acredite, a coisa ficaria f**a para o lado dela. — Brincou. Ele estava falando como papai. Acredito que qualquer mulher que se prese não aceitaria carona de um desconhecido, ainda mais em um local onde você não lembra, ou pelo menos não reconhece ninguém. Mas eu precisava ser diferente e querer achar que nada irá acontecer comigo. — Pode me passar o seu endereço, por favor? — Pediu, deixando-me ainda mais tranquila. Deus estava comigo naquela noite, fui deixada em segurança na porta da minha casa que estava totalmente sem iluminação, ou seja, meus pais estavam dormindo por sorte. — Agradeço por ter sido bom comigo e por ter me deixado em casa. — Agradeci, mesmo sabendo que só um obrigado não era o suficiente pelo seu ato de bondade por uma desconhecida. — Eu que agradeço pela companhia. — Afirmou. — Você é um cara muito bacana. — Pisquei, abrindo a porta do carro para que eu pudesse sair. — Lembre-se: faça o bem para colher o bem. — Falou, com o vidro aberto para que eu pudesse escutá-lo. Quando ele estava quase saindo da frente da minha casa, voltei até perto do carro. — Qual é o seu nome? — Perguntei alto, já que o mesmo estava com o som ligado. — Pode me chamar de Silveira. — Foi o que ele me respondeu e em seguida foi embora. Esse era o nome do homem que me acompanhou? Era o seu sobrenome? Ou a maneira como ele gostava de ser chamado. O lado bom de chegar em casa tarde — mas não tanto — é que ainda não deu o horário para seus pais acordarem e te esperarem. Ou seja, antes de dormir não precisei enfrentar um interrogatório sobre como havia sido a minha noite. Com certeza papai faria a maior quantidade de perguntas, principalmente se: 1.      O homem com quem eu sai havia me tratado bem. 2.      O quanto eu havia bebido. 3.      O quanto ele havia bebido. 4.      Se nós estávamos tendo algum tipo de relacionamento. 5.      Se eu vim direto para casa. 6.      Se eu me cuidei. Dentre outras diversas que ele faria questão de criar apenas para me colocar contra parede e ter um motivo para brigar. O problema do papai é que ele nunca estava satisfeito com o que eu fazia. A grande realização era eu me formar e trabalhar seguindo sua carreira, mas ainda assim não era o suficiente para ele.
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