Capítulo 03

1461 Words
Nunca havia me imaginado passar uma semana inteira pensando em qual seria a roupa certa para utilizar na festa. Talvez eu devesse perguntar para Rafael como ele estaria vestido, porém, já havia saído da moda combinar roupas. As pessoas costumam saber o que vestir, ainda mais agora que tudo que você precisa poderá encontrar na internet. A questão era que todas as roupas, penteados e maquiagens que eu via em outras mulheres, pareciam não ficar boas em mim. Mariana sugeriu que eu usasse algo que pudesse valorizar ainda mais o meu corpo, para talvez chamar ainda mais a atenção do Rafael. Mas eu não tinha nada em casa. Para isso, a minha melhor amiga fez questão de aparecer no sábado atarde antes da festa para me produzir. Ela precisou trazer algumas roupas da sua casa — que por sorte eram do meu tamanho —, e assim escolheu a dedo. Quando pensei que ela iria trazer algumas peças de roupas, não imaginei que seriam tantas. Mariana chegou com uma bolsa enorme, abrindo-a e despejando toda a roupa que havia lá dentro. — Eu não imaginei que iria trazer tanta roupa. — Comentei. — Tudo para a melhor amiga do mundo. — Que ela estava mais animada do que eu para a festa que eu iria com o Rafael, isso dava para ver de longe. — Será que eu vou gostar dele e ele de mim? — Perguntei preocupada, enquanto analisava as roupas. — Você é bonita, jovem e inteligente, qual é o cara que não irá gostar de você? — Respondeu como se eu tivesse feito uma pergunta, na qual a resposta era óbvia. Imagino que a parte que as meninas/mulheres mais gostam é enquanto elas estão se arrumando. Imagine-se dedicar alguns segundos para ficar mais bonita. Analisando-se como o seu corpo fica bonito em uma roupa específica. A maneira como os seus olhos ficam mais destacados com a maquiagem — que embora seja feita em pouca quantidade —, ainda assim parece ter demorado horas fazendo. Ou quem sabe olhando para os seus cabelos, que muitas vezes deseja outro, mas com uma maior exatidão lhe deixa mais viva, com mais brilho. O problema é que eu não me via exatamente assim. O ato de estar me arrumando era a parte mais chata de ter que ir a algum lugar. Não gostava de passar horas em frente ao espelho ou procurando uma roupa para utilizar, principalmente por não saber mais o que vestir e em como eu era. A minha vaidade havia sido perdida. As únicas roupas que eu comprava eram as sociais que seriam necessárias para utilizar no escritório ou nos julgamentos que eu frequentava. Normalmente eram roupas escuras, neutras. Por fim a Mariana apareceu com um cropped preto, um shorts branco com um tecido que não sabia exatamente como se chamava, havia alguns detalhes nele, e uma sandália na cor preta, que combinaria com o cropped. Eu não estava acostumada a me vestir daquela maneira. Cada vez que me olhava no espelho, via o quanto aquelas roupas pareciam pequenas perto do meu corpo. Porém, segundo Mariana, a roupa estava valorizando o meu corpo. A mesma disse que deixar as minhas pernas de fora era essencial, já que as mesmas eram bonitas e chamavam atenção. — Amiga você está maravilhosa. — Assoviou, chamando a atenção dos meus pais. Eles estavam passando pela porta do meu quarto naquele exato momento. A mamãe até teve uma reação boa, sorriu ao me ver. Já papai prendeu o sorriso, sua fisionomia estava séria, ele não estava gostando do que estava vendo. — Carolina você irá sair com essa roupa? — Papai perguntou, tentando manter a calma já que a minha melhor amiga estava comigo. — Sim, algum problema? — Perguntei, como se não desse importância para a opinião dele. — Ela está linda, não está? — Mariana tomou a voz, dessa vez com certeza para livrar a minha cara de qualquer sermão que papai estivesse prestes a dar. Mamãe fez sinal de positivo com a mão, sendo que papai não estava a vendo. Mariana foi embora minutos antes de Rafael estacionar seu carro em frente à minha casa. — Cuide-se querida e não volte muito tarde. — Mamãe aconselhou, já que segundo ela papai já havia ido se deitar. Ela ficou encostada na porta olhando de longe eu ir de encontro ao Rafael. Ele estava encostado no seu carro, exatamente na frente da porta do motorista. Não que eu costumasse reparar na roupa que as pessoas usavam, mas dessa vez, permitir-me analisar o que ele estava vestindo. Camisa branca — que deixava o seus músculos marcados —, calça jeans escura, não era daquelas grudadas no corpo. O seu cabelo estava penteado para trás, talvez a “mamãe” tivesse passado gel demais em seu cabelo, mas aquele era apenas um detalhe que eu poderia desconsiderar. — Mas que bela dama. — Comentou, assim que cheguei na sua frente. — Boa noite Rafael. — Sorri ao sentir o seu lábio ir de encontro a minha bochecha. — Eu não imaginei que estaria tão bonita. — Comentou. Nós estávamos indo de encontro ao local da festa — onde eu não imaginava onde seria —, mas mesmo depois de tanto tempo, mesmo não lembrando quem era o Rafael, confiei nele. Enquanto ele dirigia, foi que eu percebi que estava saindo com um estranho. Sim, ele era um estranho. Sabe-se lá qual era o trabalho dele. Eu estava saindo com um homem que eu não conhecia, que eu não lembrava. Por alguns minutos fiquei aflita, não sabia ao certo o que eu estava fazendo. — Você está se sentindo bem? — Perguntou, talvez percebendo como eu estava me portando. — Claro. — Sorri, esfregando uma mão na outra. — Você provavelmente verá algumas pessoas que estudaram conosco. — Avisou, estacionando seu carro atrás de outro em uma rua que estava completamente cheia. Estava me sentindo mais calma com a presença de diversas pessoas na casa. Ele não havia me sequestrado. Ele não era um louco. Havia muitos rostos familiares, muitos sorrisos foram abertos de acordo com nossos passos. Rafael me conduzia para os lugares segurando-me pela cintura, arrastando-me cada vez mais para dentro. — Imagino que você esteja gostando, mas precisa se soltar mais. — Avisou, entregando-me uma garrafa pequena de cerveja. Não iria me comportar como uma menina mimada e fazer careta pela cerveja que ele havia me entregado, porque particularmente não gostava de cerveja. Na minha opinião era uma das bebidas que não fazia nenhum sentindo. Não gostava do sabor, a maioria era amarga — a não ser a cerveja “preta” — que era doce e dava um gosto diferente. Fora isso, eu realmente evitava a cerveja. Como Rafael não sabia dos meus gostos, resolvi encarar a pequena garrafa de cerveja que poderia durar bastante na minha mão. Agora estava começando a entender o motivo pelo qual — não gostava — do Rafael. Ele havia me convidado para ir à festa com ele. O problema é que após ter me entregado a cerveja, esqueceu da minha existência. Quer dizer, não foi exatamente assim. Ele estava ao meu lado e pedia-me para dançar, a questão é que eu não sabia o que fazer. Não sabia como me mexer. Não estava acostumada com esse tipo de atenção. A música agora estava começando a me incomodar. Rafael estava analisando uma loira que estava ao nosso lado. Posso afirmar que a roupa dela era muito mais vulgar que a minha e provavelmente era este o motivo pelo qual ele estava babando por ela. — Eu quero vê-la dançar para mim. — Ele pediu baixo no meu ouvido, podia-se perceber que havia bebido um pouco mais do que o necessário. Não que eu fosse forte para a bebida. A questão é não fazia nem meia hora que havíamos entrado na festa e ele estava um pouco tonto ao meu lado. — Acho que você bebeu mais do que deveria. — Comentei ao seu lado. O problema era que eu não conhecia exatamente o local onde eu estava, eu não estava com dinheiro na festa. A única coisa que eu tinha na minha pequena bolsa era o meu cartão, carteira de identidade e meu celular. Em poucos minutos Rafael estava colado com a loira em uma parede, talvez assim como ele, ela havia bebido além do que o esperado, já que ambos estavam mais para lá do que para cá. Talvez eu devesse ligar para o meu pai e avisar que não havia carona para voltar para casa e dizer que o homem que ficou de me levar estava bêbado, agarrando-se com uma loira na parede. Mas, eu preferi ir até a rua e me sentar na calçada.
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