Helena:
Dia seguinte, acordo um pouco mais disposta e tiro a parte da manhã para tomar café com meus pais.
Nós não éramos tão próximos, mas eu fazia questão de os visitar quando podia e me manter presente, mesmo que não fossem tão presentes em minha vida.
Tomo um banho fresco, assim que termino, saio, me seco e vou até o closet escolher a roupa. Olho por minutos para as roupas no cabideiro e escolho, por fim, um vestido florido, com flores amarelas e o fundo claro.
Visto uma lingerie confortável, coloco o vestido, calço uma rasteira brilhosa, passo uma maquiagem leve, pego minha bolsa e saio de casa, entro no automóvel e logo dirijo para a casa dos meus pais.
Depois de quase meia hora, eu chego, estaciono e saio do carro, tranco tudo e logo caminho até a porta da casa. Assim que chego, bato algumas vezes, após minutos a porta é aberta.
— Bom dia, senhora — diz a senhora que cuidava deles.
— Bom dia, Rute, tudo bem?
— Sim, e você? Pode entrar.
— Obrigada. Estou bem.
Entramos e assim que chegamos na cozinha, lá estavam eles, arrumados e me esperando em frente a uma mesa posta e linda.
— Bom dia, mãe, bença. Bom dia, pai, bença.
Abraço e beijo ambos.
— Bom dia, filha — diz ela sorrindo amena.
— Bom dia, boneca — diz meu pai sorrindo largo.
— Como estão?
— Estamos bem — diz ela sorrindo, mas sincera — e você?
— Estou bem — digo sorrindo, como ela me ensinou.
A mesma mordeu os lábios com receio, ela sabia que eu não estava bem, mas também não perguntaria para não me fazer chorar e me tornar uma mulher fraca.
— Está namorando? — questiona meu pai, se servindo.
— Não…
— Está com quantos anos, minha filha?
— 29.
— Não acha que chegou a hora de arrumar alguém? A vida passa rápido, você precisa de alguém para ficar com você na velhice.
— Não me dou bem com os homens.
— Já parou para pensar que nem todos são iguais?
— E como achar o que não é igual, se a maioria é?
— Sou como todos? — questiona meu pai.
Na hora, na minha mente, surgem lembranças, meu pai chegando bêbado por diversas vezes, nos tratando com a maior ignorância, às vezes nos xingando e, por muitas vezes, tínhamos que ir atrás dele na rua, até o achar jogado na sarjeta.
— Não vamos falar disso. Saibam que no momento não preciso de homem nem um, só quero continuar meu trabalho e, na hora certa, a pessoa certa vai aparecer.
— Não sei como consegue viver assim, sozinha… dinheiro não é tudo, Maria, às vezes precisamos casar, ter filhos… esse é o sentido da vida.
— Às vezes não, esse pode ser o sentido de vida da senhora, o meu pode ser esse, ser alguém importante, ter dinheiro e uma vida boa/confortável e morrer sozinha.
— Credo — a mesma bate na madeira da mesa três vezes, não diga isso nunca mais.
— Vamos comer?
Todos calam, entendo isso como um consentimento, então comemos e conversamos sobre outras coisas mais banais.
Depois do café, eu vou para casa, não me obrigava a todo dia estar na empresa, embora eu sempre ficasse de olho nas compras, vendas, empresas, funcionários, caixa e coisas importantes da empresa.
Chego em casa e vou tomar banho de piscina antes do almoço, queria aproveitar o sol.
Coloco um biquíni e vou para a piscina, fico na água por longos minutos, mas logo me sento na espreguiçadeira, depois começo a ler um livro.
O livro estava em um capítulo ótimo, envolvente, mas um latido me tira o foco, olho para onde vinha o barulho e vejo um cachorro correndo em minha direção. Na hora, meus olhos arregalam, até levanto para sair da frente dele, mas o mesmo pula em cima de mim, eu caio na grama, deixando meu livro cair também e sinto a língua babada lamber meu rosto.
— Socorro! — Grito o mais alto que consigo.
— Billy, saí! — Escuto uma ordem firme.
O cachorro sai de cima de mim e logo pula na piscina. Vem um homem na minha direção e me estende a mão, seguro e levanto, limpo meu rosto, pego meu livro do chão e não reparo em quem seja.
— A senhora está bem?
— Se estou bem? Fui atacada por um cachorro que invadiu meu quintal e agora está na minha piscina! — quase grito grosseira.
— Vou pegar ele.
O homem pula na piscina e eu passo a mão molhada no rosto para limpar mais um pouco, logo o mesmo sai trazendo o cachorro.
— Desculpa pelo transtorno — diz ele e por fim o olho.
O mesmo era um moreno dourado do sol, seu cabelo baixo e bem cortado, seus olhos castanhos claros brilhavam com a luz do sol, sua sobrancelha grossa e escura me fazia olhar com intensidade, acho que elas o deixavam chamativo.
— Quem é você? — pergunto mansa e piscando várias vezes para saber se era real essa imagem.
Não se via homens bonitos todos os dias por aqui.
— Gean. Meu tio me chamou para ajudá-lo, ele é seu jardineiro. Perdão por trazer os cachorros, é que passeio com eles… é meu trabalho.
Na hora que diz isso, lembro o quanto eu não suporto animais, só de pensar já começo a me coçar.
— Espero que limpe tudo — digo rude.
Pego meu livro e entro em casa, vou para meu quarto tomar um banho, mas às vezes espiava pela janela e via o homem dos cachorros, ele falava bastante com o jardineiro e seus cachorros latiam quase que sem pausa.
Balanço a cabeça para fazer os pensamentos sumirem, vou para o banheiro, tomar banho e prender meus pensamentos em coisas mais produtivas.
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Fim de semana chegou e com ele um tempo nublado, e dias assim me mostravam o quão era r**m não ter ninguém para abraçar e ouvir a respiração perto do meu ouvido.
Minha mãe tinha razão, eu também sentia que precisava de alguém para envelhecer junto e viver meus melhores momentos, mas onde acharia alguém disposto a pensar da mesma forma que eu? Ser fiel, amoroso, companheiro, verdadeiro.
Era difícil achar alguém parecido comigo, que pensasse da mesma forma.
Então viverei meu dia nublado, só devaneando e fugindo da realidade dos sonhos, para não sofrer como sempre.