A vida é feita de segredos. E eu, Natalina Ferreira, sou rainha deles. Durante o dia, sou a Dona Natalina: véu na cabeça, saia até o tornozelo, crucifixos pendurados até no sutiã. Vendo creme da Avon, perfume da Natura e batom do Boticário com um sorriso que engana até padre. À noite, viro outra. A que corre atrás do pecado como criança atrás de pirulito.
Mas hoje, o pecado veio atrás de mim.
Kill bateu na minha porta com três homens armados até os dentes. Eu tava arrumando as amostras de perfume da Jequiti, de vestido florido e cabelo preso num coque tão apertado que doía a testa.
— Dona Natalina, preciso da casa da frente — ele disse, sem nem um "bom dia". — Vou pagar o dobro.
Olhei pra ele, depois pros fuzis. Não era pedido, era ordem.
— Dou desconto se não quebrarem as paredes — r
