Saí correndo do quarto de Misha como se não houvesse amanhã. Nunca havia passado por uma situação tão constrangedora como a que acabara de viver. Cheguei ao meu quarto, tranquei a porta, me encostei nela e escorreguei até o chão. Meu coração nunca havia batido tão freneticamente, e eu não sabia como lidar com isso. Levei as mãos ao rosto, totalmente encabulada, relembrando a cena anterior...
"Ah, dessa forma, vou enlouquecer!" – Pensei.
Depois de anos, Misha chega e desperta sentimentos, cria situações inusitadas, e eu quase sempre quero matá-lo... Porém, ele era lindo; meu coração quase parava com apenas um beijo, eu até mesmo esquecia de respirar...
"Como vou conseguir superar essa situação?" - Eu me perguntei.
– Claire, você sabe muito bem que não há como superar isso! – Eu falei a mim mesma. – A realidade é que não vou conseguir enganar meu coração por muito mais tempo. – Suspirei, vencida.
– Bom, se não posso fugir disso tudo, então posso me aproveitar um pouco. – Levantei do chão com ar de convencida e de quem irá aprontar.
Arrumei a roupa, caminhei até o banheiro e fui tomar um banho, porque Misha havia me ocupado bastante da noite e até agora eu não havia conseguido.
Antes de ele chegar ao meu quarto pedindo ajuda, eu estava lendo os relatórios do dia da fazenda porque amanhã o Dr. Eduard (fiz careta de nojo) viria à fazenda verificar as vacinas que estavam para vencer.
– É... amanhã estou ferrada. – Suspirei embaixo do chuveiro. – Aguentar o Misha até dá, mas os dois juntos será uma dor de cabeça tremenda.
Terminei o banho, coloquei meu pijama e fui me deitar. Amanhã será um longo dia e eu precisava ter uma boa noite de sono para aguentar.
Meu despertador tocou às 7h. Fiquei tateando até encontrá-lo ao lado da cama, no pequeno criado-mudo que havia do lado direito. Cheguei à conclusão de que dormi pouco na noite passada porque estava com a sensação de que um caminhão me atropelara; em outras palavras, estava super cansada.
Saí da cama arrastada e fui até o banheiro realizar minha rotina de higiene matinal habitual. Após uns 20 minutos, saí do banheiro, me troquei, colocando uma calça jeans escura com cinto preto, camisa xadrez vermelha e preta, botas pretas, amarrei meus cabelos e peguei o chapéu preto, meu amigo de todas as tarefas na fazenda.
Dei uma rápida conferida se faltava algo, peguei os relatórios, saí do quarto e desci as escadas porque precisava urgentemente de um café.
Quando cheguei à mesa para o café na sala de jantar, Misha já estava tomando o seu café bem tranquilamente, lendo o jornal, que nem percebeu minha presença.
Ele estava vestido com uma calça jeans clara, camiseta preta com decote em "V", uma camisa de manga longa de um jeans bem fininho entreaberta no peito, botas pretas e seus cabelos estavam soltos. Engoli em seco... Que visão linda... Precisava me recuperar antes de dar o famoso "Bom dia".
– Bom dia! – Falei, ríspida, passando por ele para pegar o café.
Ele levantou os olhos do jornal e me olhou.
– Bom dia. – Ele falou, levando a xícara de café aos lábios.
– Dormiu bem? – Continuei, puxando assunto sem saber por quê. Era uma situação bem embaraçosa.
– Dormi, sim. – Disse, comprimindo os lábios. – E você? – Perguntou ele, um tanto distante.
– Dormi m*l, acordei super cansada, como se um caminhão tivesse me atropelado. – Falei, me sentando.
– Deixe-me ver. – Disse ele, levantando-se e caminhando até minha direção.
Ele parou ao meu lado, colocou uma das mãos no meu queixo e o levantou para que eu pudesse fitá-lo. Sim, me arrepiei toda por causa do seu toque.
– É... Você está com olheiras, Claire. – Disse ele, soltando meu rosto e voltando para o local onde havia sentado.
– Sério? – Eu falei, com o cenho franzido. – Não quis usar maquiagem hoje para esconder.
– Você precisa de maquiagem hoje? – Perguntou ele, com uma sobrancelha levantada. – Vai ter algum evento?
– Sim, o Dr. Eduard daqui a pouco estará aí. – Fiz cara de nojo.
– Entendi o motivo de você não querer usar maquiagem. – Disse ele, dando um sorriso de compaixão para mim.
– Você está muito ocupado hoje? – Perguntei automaticamente, já querendo sabotar seus planos.
– Bom, hoje tirei o dia para mim porque preciso colocar algumas coisas em dia.
– Jura? – Disse, sorrindo malevolamente. – Você "tinha" que colocar. – Enfatizei o "tinha".
– Eu tinha? – Perguntou ele, confuso.
– Preciso que você me acompanhe hoje para verificar os animais que precisam renovar as vacinas e tudo o mais.
– Precisa mesmo que eu vá? – Ele perguntou, parecendo sem vontade de ir.
– Sério que você não está querendo passar o dia comigo? – Falei, brava.
– Não é que eu não queira, apenas estou analisando como você reage a mim, e está bem interessante.
– Então, aproveite essa oportunidade para analisar mais, mas, de preferência, nas horas em que o Dr. Eduard estiver junto. – Falei, sorrindo, mas ao mesmo tempo querendo matá-lo.
"Sim, nestes últimos dias, minhas emoções estão feito montanha-russa." – Pensei.
– Prevejo ele ficando no meu pé, em vez do seu. – Disse ele, suspirando.
– Culpa sua por passar para o mundo todo que era um "garanhão". Só aguente. – Falei, sorrindo.
– A verdade é que você adoraria que eu a acompanhasse, né? – Disse ele, com um meio sorriso no canto esquerdo, me fitando fixamente.
– Óbvio, já que é meu noivo, não? – Falei, sorrindo com ar de triunfo.
"Touché! Um ponto para mim!" – Pensei.
– Como negar um pedido tão meigo da minha amada? – Disse ele, sorrindo.
– Ué... Concordou assim, do nada? Tem algo aí. – Falei, colocando o cotovelo na mesa e descansando meu queixo na mão, sinalizando que o estava analisando.
– Sou inocente aqui. – Falou ele, levantando as mãos em sinal de rendição. – Até agora, só estou fazendo a sua vontade.
Ri do gesto dele; foi bem engraçado, e ainda bem que, nesse momento, não estava bebendo minha xícara de café. Levei alguns segundos para voltar ao normal.
– Foi tão engraçado assim? – Disse ele, se divertindo com a situação.
– Foi, sim. – Eu falei, olhando para ele. – Você não está bravo? Normalmente, quando eu tirava sarro de você, você ficava bravo e brigava comigo.
– Então, como posso dizer isso? – Falou ele, cruzando os braços sobre a mesa. – Naquela época, eu não tinha como revidar da melhor forma, mas agora eu tenho.
– Revidar da melhor forma? Não entendi. – Falei, com o cenho franzido.
– Deixa eu te explicar melhor. – Disse ele, levantando-se e vindo na minha direção. Parou ao meu lado, abaixou-se bem próximo da minha orelha e falou:
– Naquela época, eu não podia te beijar, mas hoje posso! – Disse ele, levantando-se e saindo da sala de jantar.
– Mas o quê? – Eu falei, com os olhos arregalados.