A luz da verdade meio encoberta

3011 Words
Dias se passaram e a Montanha Ao não foi visitada por ninguém além do sol que aquecia as pedras e passava pela rachadura, mas foi a Lua que fez seu trabalho iluminando o breu e tocando em um ponto especifico. Esse ponto era apenas um vidro que cobria algo muito especial. De um material que imitava a superfície da água devido ao seu aspecto límpido permitindo que seu conteúdo fosse visto e a luz conseguia iluminar a vista para que se pudesse ter uma ideia do que ele escondia, mas uma rachadura em sua perfeita superfície impossibilitava uma visão adequada. Começou com um traço fino que foi aumentando à medida que a luz ia se intensificando naquele local até que simplesmente rachou completamente e uma parte do vidro despencou da cama onde guardava o tesouro. O ar puro vindo da rachadura na pedra da caverna somado ao ar gélido da caverna fez o tesouro então ofegar trazendo ar para os pulmões e sua mente começou a clarear. A nuvem que embaçava sua mente se esvaiu com o calor do sol e seus olhos se moveram até que abriram encontrando a escuridão e um feixe de luz tímido em sua bochecha. Um grunhido saiu de sua boca se contorcendo por sua garganta provocando um vapor iluminado pela luz natural. Seu corpo estava rígido como gelo sem qualquer movimento normal. Seus dedos se moveram e um estalar foi ouvido no silencio mortal a cada movimento como se estivesse passando óleo em suas dobradiças para se mover. Com lentidão e estalos ele conseguiu se sentar ainda confuso. A luz estava agora em seu peito aquecendo sua roupa. Sua mão foi até o coração que voltava a bater rapidamente e sentiu o calor do sol em sua mão. Branca como uma folha de papel refletiu a luz e o fez esticar os cantos dos lábios cheios, mas branco azulados. Tocou as botas no chão frio e sentiu o arrepio por sua coluna e a tontura em sua mente com o levantar brusco. Apoiou se onde estava deitado que era uma pedra polida do tamanho de seu corpo e tentou se voltar ao equilíbrio. Assim que voltou ao normal andou lentamente até onde a luz vinha, mas parou diante de uma parede. Havia fechado? Como? Questionou se a pessoa confusa ainda tentando saber quanto tempo havia dormido quando colocou a mão na pedra e fechou seus olhos reunindo um pouco da força restante. Sua palma ficou quente e então de repente a rocha rachou abrindo se em duas. A poeira subiu e ele tapou seu nariz e fechou bem a boca. Seus olhos piscaram pela poeira, mas também pela luminosidade cegante. Aquilo havia doido bastante, como se fosse um t**a em sua bela face e então ele pode ver. Depois de tanto tempo ele conseguiu visualizar o verde e azul. O verde das árvores e grama abaixo de seus pés. Olhando para cima ele visualizou o céu azul com poucas nuvens brancas passageiras que o fizeram sorrir largo. A brisa suave e morna aqueceu sua pele branca e deu cor aos lábios brancos azulados tornando o avermelhado. -Finalmente – Falou a pessoa com uma voz seca e rouca que provocou uma tosse h******l – nossa... que sede... Olhou em volta a procura de uma fonte de água, mas nada viu. O silencio era preenchido pelo vento e o balançar das árvores. Porém se fechasse os olhos e se concentrasse ouviria ao fundo o cair da água. Seguindo o som ainda de olhos fechados ele encontrou um pequeno córrego de água limpa e brilhante. Se abaixou sentindo o corpo estalar e mergulhou as mãos brancas um pouco rosadas na água sentindo o molhado e levou aos lábios sorvendo com bastante calma. Ela desceu por sua garganta como uma promessa deliciosa. Assim que ele ficou satisfeito decidiu cumprir a promessa que havia feito a um certo alguém que se conhecesse bem-estaria irritado e emburrado. A lembrança o fez sorrir ao caminhar entre as árvores saindo em uma estrada deserta. Onde ele estava mesmo? Sua mente ainda estava embaralhada demais para entender a direção, mas pelo que se lembrava devia haver uma placa em algum lugar... -Sai da frente – Pediu uma voz idosa vindo com bastante raiva – você mesmo, saia antes que eu mesmo te tire. Ele encarou o idoso e franziu a testa confuso. O idoso era muito curvado segurando um cajado e levava um porco rosa que era maior que o homem. Os olhos eram finos e enrugados, mas a boca era torta e muito fina. Ele maldizia o animal que parava parar comer e o jovem a sua frente que não saiu rápido o suficiente e foi empurrado com violência. -Com licença – Disse ele com uma voz fina e então tossindo para ajustar a voz depois da expressão do homem para ele – desculpe interromper, mas sabe para onde fica a cidade Hiraki? O idoso olhou para o porco que imitiu um ruído alto como resposta. Depois ambos se viram para o rapaz que ficou desconfortável com aquele olhar que dizia ‘Que tipo de pergunta é essa?’ -Garoto por que quer ir lá? – Perguntou o idoso fechando ainda mais os olhos assim como o porco. -Como assim? – Retrucou ele nervoso sob o olhar do animal que rosnou. -Hiraki fica naquela direção – Falou o idoso apertando a corda nas mãos velhas – se eu te conhecesse te daria um conselho, mas você é livre para ir onde quiser. -Obrigada por me mostrar a direção – Agradeceu ele com educação e uma reverencia antes de seguir a estrada deixando aqueles dois para trás. O idoso observou o andar elegante do mais jovem e puxou o porco na direção oposta. O animal da cor rosa resmungava em seu dialeto animalesco e parecia incomodado com algo. -Eu sei Pink, mas o que posso fazer? Os jovens hoje em dia gostam de ir a lugares perigosos e não sou o pai dele – Disse o idoso para o porco que continuou a resmungar a cada passo. Ele caminhava animado olhando tudo com admiração. Tudo parecia brilhante e perfeito. Do céu até a poeira da estrada deserta. Ele saltitava e olhava as flores silvestres. Um sorriso jamais deixaria seu rosto enquanto vivesse, essa era seu lema. A quanto tempo ele não sentia a pele aquecida pelo sol? A cada passo ele tentava arrumar suas roupas senão a Senhora Tae ficaria horrorizada. Era engraçado lembrar em como ela gritava quando ele e seu melhor amigo apareciam enlameados e banguelas. Como juntos faziam daquela casa mais animada e divertida... seus passos eram rápidos e ele se sentia mais forte por conta do sol a quem não menospreza nem um pouco. O calor lhe dava forças para continuar, mas mesmo que as tivesse seu corpo continuava cansado pelo esforço repentino. Seus pés doíam, mas ele não parou até que ele avistou ao longe o que seria Hiraki. Se bem se lembrava Hiraki era de longe o lugar mais rico do país. Com mansões para todos os lados e inúmeros funcionários correndo de um lado para o outro. Apenas pessoas de famílias influentes e nobres ali moravam. Foi ali que ele encontrou seu lar ainda muito jovem, não ter uma linhagem na Terra ou dinheiro, mas por amizade. Certa vez ele estava passado por aquela mesma estrada quando ouviu gritos de crianças que lhe pareciam estranhos demais então ele foi atrás encontrando cinco crianças chutando uma outra, mas esta estava caída no chão. Sem nem perguntar ele pegou o galho e bateu na perna que machucaria a caída no chão fazendo as outras se afastarem pela sua presença repentina. -Fiquem longe – Avisou vendo se a criança estava bem. O menino caído no chão levantou a cabeça que estava escondida pelos braços e encarou seu salvador que se posicionou a frente das outras mais calmas e raivosas. -Quem você pensa que é para falar assim comigo? – Perguntou uma delas com bastante fúria. -Não preciso ter um título para demonstrar caráter – Retrucou ele deixando a criança de boca aberta e as outras escondiam as risadinhas que foram ouvidas. -Meu pai... – Começou a criança enfurecida apertando as mãos em punhos. -Seu pai o que? Se ele é tão importante então o traga aqui para ver esse seu comportamento ridículo, vai lá, vai! – Interrompeu com deboche e segurando a madeira apontou na direção do oponente que se segurava – o que vai fazer? -Seu... – Enfureceu se a criança olhando o outro de cima a baixo quando sorriu m*****o – você está no lugar errado, suas roupas, ou melhor seus trapos me dizem que nem deveria estar levantando a cabeça. -Não! Agora as roupas falam? Só porque não tem argumentos validos você não pode me ‘criticar’ pela minha aparência, não vale então senão tem um bom argumento para o seu preconceito eu peço que permaneça com a boca bem fechada – Debochou o que segurava o graveto ajudando o que havia sido espancado a se levantar – vou te acompanhar até em casa. Ele deu meia volta ignorando os gritos da criança e levou seu mais novo amigo para um lugar seguro. Eles entrariam pela porta dos fundos e seriam cuidados por uma criada gentil que trataria a criança machucada de ‘Jovem Mestre’. Um tropeço trouxe então o protagonista de volta a realidade temporal certa. Ele havia tropeçado em nada mais nada menos do que em uma placa. Ao movê-la com a ponta da bota já desgastada ele pode ler as inscrições meio apagadas na madeira podre ‘Cidade Imperial Hiraki’, sorrindo ele levantou seus olhos e perdeu qualquer vestígio de alegria. Seu coração afundou e quase parou. A Gloriosa Cidade Imperial de Hiraki era um amontoado de... lixo. As mansões feitas sob medida com cada detalhe gravado com cuidado havia desaparecido. A música suave das aulas de canto que as damas tinham havia sido trocado por gralhas irritantes. -Mas o que? – Pensou ele um pouco alto ao adentrar a cidade com surpresa e choque. As ruas pavimentadas com pedras brancas agora eram de terra. As árvores frutíferas e floridas eram magras e raquíticas. A grama verdejante e macia agora eram afiadas adagas bege e finas, perigosas ao toque da pele e de faíscas. O que havia ocorrido? Quanto tempo ele havia dormido? Tantas perguntas e nenhuma resposta, nada lhe dizia o que realmente havia ocorrido de fato. Precisava encontrar... ele correu como podia tentando encontrar os pontos de referência. A fonte que parecia um bolo de casamento... a ponte arqueada de madeira sobre o lago cristalino de carpas brancas... nada mais estava ali... Tudo desapareceu, mas nada fazia o menor sentido por isso o rapaz se sentou na beira do caminho ao lado de uma casinha e pôs-se a pensar. Da última vez que estivera ali nenhuma guerra além da que seguia ele mesmo, estava ocorrendo e ela não se alastrou para aqueles lados então... -Cuidado – Avisou alguém antes de inúmeros ramos de flores roxas cair na cabeça do moço – eu avisei, um pouco tarde? Mas avisei... não fique sentado por ai... esses jovens de hoje em dia... A pessoa que havia jogado saíra de sua casa de madeira e despejara as ervas daninhas na rua, mas não esperava que um moço desarrumado e sujo estivesse ali. Pensando se tratar de um vagabundo ela nem se perguntou se ele estaria bem e já entrou na própria casa. Ele tirou as flores de cima de suas roupas quando parou... em sua palma havia uma flor de pétalas longas e torcidas naturalmente na cor roxa, traziam um pouco abaixo um círculo plano onde as sementes da flor permaneciam... era uma autêntica Flor Lunária, mas porque a mulher as estava jogando fora? Ela não sabia de seu valor? Com pressa ele se levantou e bateu na porta da mulher que de longe veio xingando grosseiramente antes de abrir a porta e sua face torna-se amarga. -Não quero comprar, ajudar, entender nem saber quem ou o que você ajuda – Grunhiu a senhora já fechando a porta quando o outro mostrou as flores – pode levar! -Não, senhora! Não sabe o que elas são? – Falou ele com rapidez impressionante. -Ervas daninhas horríveis – Respondeu ela impaciente – veio até aqui me dizer o obvio? -São Flores Lunária – Corrigiu ele com animação quando a expressão amarga tornou se medrosa e seus olhos procuraram testemunhas batendo na mão do rapaz e fechando a porta, mas lá dentro ela gritou – não mexa com esse tipo de coisa, bata três vezes na madeira e cuspa no chão, antes que venham atrás de você. Ele ficou sem palavras com a atitude nem um pouco gentil da mulher para com as pobres flores então ele se agachou e recolheu todas rapidamente as levando consigo. Se ela não as queria então ele mesmo as usaria. Precisava se arrumar para ver o amigo, mesmo que a cidade estivesse daquele jeito com toda certeza o amigo estaria naquele lugar, não é? Ele olhava para todos os lados tentando entender o caminho quando se escondeu atrás de uma casa, ou melhor, um projeto dela só podia. Ele se encolheu e separou as flores dos círculos planos de sementes. Deixou as flores de lado e pegou o primeiro círculo plano deixando o entre as duas palmas. Fechou os olhos. Esperava que ainda funcionasse... sentiu apele arrepiar e então separou as mãos. Na palma onde havia o círculo plano verde da planta agora jazia uma moeda de prata com gravura da Lua. O sorriso dessa vez voltou ainda mais largo. Ele havia conseguido, pelo menos uma coisa não mudou, ele não mudou... não muito pelo menos. Começou a fazer isso com todas as flores que tinha o círculo e terminou com mais moedas do que poderia de fato carregar então vasculhou suas roupas atrás de um bolso encontrando um onde as moedas foram postas, mas deixavam um volume estranho. Era muito suspeito... -Meu jovem está bem? – Perguntou uma voz gentil o fazendo se virar e encontrar uma senhora de aspecto bem r**m. Não que ela fosse f**a, apenas era tão magra que seu rosto era cadavérico. A mão que havia esticado para chamá-lo tinha dedos finos e ossudos. Ela tinha um olhar gentil, mesmo que desconfiado ao com a outra mão oferecer um saquinho. -São pedaços de pão, te vi entrando aqui, não vasculhe o lixo atrás de comida, pode acabar passando m*l e médicos hoje em dia valem ouro – Aconselhou a mulher deixando o saquinho nas mãos do rapaz que quase chorou com sua bondade – meu nome é Hwa, mas pode me chamar de Senhora Akira, seu nome? -Chen Ren – Respondeu o rapaz apertando o caquinho em mãos e vendo a mulher sorrir – muito obrigada! -Preciso ir Jovem Chen – Falou Hwa se virando e indo embora em volta pelo manto escuro e esburacado que usava como roupas. Chen Ren arregalou seus olhos com a partida dela. A mulher devia ter apenas aquilo e lhe havia dado então ele tinha que lhe ajudar. As moedas seriam mais importantes para ela, pensou Chen Ren se levantando decido a ajudar aquela senhora com algumas moedas, mas ao sair de trás da casa não a viu em lugar nenhum. Seria possível uma senhora naquele estado andar tão rápido? Ela parecia m*l, mas havia desaparecido. Seria coisa de sua cabeça... -Eu não ligo – Gritou uma voz masculina irritada demais para um dia tão lindo. A cabeça de Chen Ren se virou imediatamente e seus pés se moveram por vontade própria ao ver a Senhora Akira de alguns segundos sendo segurada pelo homem que gritava para todos ouvirem e ninguém se importou. A mulher desabou no chão em silencio e o homem continuou os insultos. -Vou avisar mais uma vez, em respeito a sua pessoa, ou você paga ou tomarei aquele barraco que chama de casa – Ameaçou o homem passando as mãos nas têmporas sem ajudar a mulher que tinhas suas mãos tremulas. Akira Hwa não era uma mulher de personalidade forte, era verdade que sempre fora muito mansa para tudo, mas naquele momento suas mãos tremiam e seu coração se partia novamente com a lembrança da amarga solidão. Foi quando de repente mãos alvas e jovens seguraram suas mãos e a tremedeira passou. Ela levantou seus olhos e viu o rapaz que acabara de ajudar. Ele parecia diferente agora, mesmo com folhas no cabelo despenteado e amarrado de qualquer jeito, ele detinha um sorriso caloroso que lhe confortava como um abraço de alguém amado. -Senhor por favor não grite com ela, não vê que está m*l? – Falou Chen Ren preocupado com a Senhora que parecia mais calma, mas ainda um pouco perdida. -Quem é você? – Perguntou o agiota desconfiado que fosse alguém querendo bancar de herói. O rapaz piscou confuso por nem ele mesmo ter muita ideia do que responder. Ele olhou a senhora idosa que tinha as maças do rosto muito proeminentes devido a desnutrição e a leveza do corpo da mesma. Ele então tomou sua decisão. Encarou novamente o homem com seriedade e segurando a mulher respirou fundo. -Meu nome é Akira Chen Ren sou o filho dela – Respondeu o rapaz para o choque de todos até da senhora que mantinha sua vista no chão – então por favor abaixe o tom de voz ao falar com uma dama e uma pessoa mais velha que você, agora me diga o que está acontecendo? -Onde esteve todo esse tempo? Sua mãe está sozinha nessa cidade a tanto tempo – Questionou um transeunte desocupado. -Estive no exército, minha mãe me colocou lá quando era pequeno, pois não tínhamos condições de viver, só pude me ausentar a alguns dias, por isso vim o mais rápido possível, ela não havia me contado de sua situação - Mentiu ele com tamanha facilidade que o assustou já que ele nunca havia mentido desde que era criança – então qual é o problema?
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