O plano

1731 Words
-Mãos macias demais – Falou a mulher com uma certa desconfiança – parece que nunca tocou em nada além da água de lírios. -Minha mãe sempre diz que uma boa dama deve ter mãos macias – Mentiu Chou Lianhua torcendo para que fosse creditada. -Mãe sabia, uma mulher deve ter mãos macias – Concordou a mulher segurando seu pulso e a arrastando dali – vamos te arrumar para a averiguação. Mais o que? Todo mundo naquela época era s*******o? Aquela senhora o arrastava pelo corredor e então virou e entrou uma sala, mas lá havia um tablado alto e largo com almofadas que se assemelhavam a um sofá coberto por um tecido. Ao lado havia uma porta pela qual ambas passaram e ela foi fechada com uma tranca por outra mulher mais velha. Chen Ren encarou o que tinha diante de si. Um cômodo grande senão fosse por roupas largadas pelo chão, almofadas, camas e muitas mulheres jovens. Uma choravam e outras consolavam, mas suas expressões estavam na mesma. -Mais uma – Falou a velha empurrando a novata para frente e sendo aparada por outra – cuidem dela, o Capitão virá hoje e não queremos erros como da última vez. Todas se encolheram e concordaram. Da última vez? Ela tinha medo de pensar o que havia ocorrido para causar isso então ela apenas permaneceu em silencio e observou atentamente como cada mulher agia. Elas se encolhiam quando aquelas duas mulheres mais velhas se aproximavam. Seguravam seus rostos e analisavam. Foi quando finalmente começou a perceber que havia cortes nos rostos delas e estas elas largavam como se houvesse algo contagioso. Elas balançavam a cabeça em decepção e continuavam a vistoria... a pressão em seu braço aumentou e ela olhou para trás encontrando uma mulher muito assustada que era meramente familiar... -Se quiser sair daqui intacta é melhor usar isso – Sussurrou ela segurando sua mão e colocando algo nela antes de se afastar sutilmente. Chou Lianhua abaixou o olhar rapidamente e abriu levemente a mão encontrando uma lâmina pequena e afiada. Ela havia lhe dado uma lâmina para se ferir? Ao voltar seus olhos para as mulheres ao redor da sala ela finalmente entendeu. Elas se feriam para se salvarem? Mas do que realmente? Seu corpo começou a se arrepiar, a adrenalina corria por suas veias e um sentimento estranho a fez ficar muito alerta. Sério o instinto feminino? Porque aquilo a fazia notar pequenos detalhes que lhe passariam desapercebidos. Cada mulher se cobria com mantos finos demais e dava para ver seus corpos embaixo... aquilo era ainda mais estranho se fosse levar em conta o “motivo” delas estarem ali que para ele já era ridículo acusarem e condenarem alguém que não tem a mesma crença que você, ainda por cima falando m*l de sua mãe! Ele fechou a cara quando a velha se aproximou analisando sua expressão e ignorando o que aquilo significava. -Poderiam me dizer do porquê estou aqui? – Perguntou ele inocentemente suavizando a expressão rapidamente – poderia me informar? -Educada – Pontuou a velha ignorando sua pergunta –bonita, mãos macias, pele branca como se nunca tivesse tomado sol... perfeita para o Capitão, mas me diga é virgem? -Por quê? – Retrucou corando de nervoso e não de timidez como foi confundido. -Ótimo, ela será a única a se apresentar essa noite – Anunciou a velha sorrindo orgulhosa mostrando os dentes amarelados. Capitão? Quem era esse sujeito que achavam que Ele iria ser Ela para o sujeito? Muita graça na sua opinião, mas precisava focar. Ficar ali era estranho, sentia-se estranho. Procurou por uma janela, qualquer coisa para mostrar a Jae onde estava, mas nenhuma se mostrava. Que lugar não tem janelas? Aparentemente aquele, pensou Chen Ren arrumando as mangas da roupa rosa que vestia e notando como era uma bela cor. Distraído com o caimento e tecido não notou que o silencio havia sumido e vozes erma ouvidos, assim como choros. Lamentos e outros. -Está tudo bem Akame fique calma – Pediu uma mulher que abraçava a outra em prantos – tudo vai ficar bem. -Bem? – Gritou outra em desespero olhando em volta – defina bem, estamos presas aqui com um bando de homens nojentos, onde estamos bem? -Ela quis dizer que por enquanto estamos bem e não seguras – Retrucou outra mais calma – precisamos pensar em um modo de sair daqui... -Por que estamos aqui? – Perguntou Chou Lianhua atraindo atenção das mulheres – digo, vocês na verdade porque eu vim por causa de um acidente que nem merecia tanta atenção... -Agora até acidentes? Daqui a pouco será apenas o fato de sermos mulheres que incomodara esse povo – Resmungou aquela que consolava a tal Akame – tudo por causa de uma “denúncia” -No meu caso nem denuncia houve, meu pai me mandou para cá depois que me viu admirando a Lua, só por olhar pela janela! – Contou outra que sentada no chão segurava as lagrimas que avermelhavam seus olhos caídos – por olhar... -A quanto tempo isso tem ocorrido? – Perguntou Chou Lianhua se aproximando da que estava sentada no chão e ainda com a lâmina na palma da mão. -Não faço ideia – Respondeu ela suspirando – só escolhem as mulheres que “parecem Damas da Noite” e elas nunca mais são vistas. -Dalay era noiva – Murmurou Akame que fungou alto e abraçou os joelhos – eles riram quando descobriram, disseram que a devolveriam ao noivo depois de “testá-la”, ela se matou logo depois de agonia e nojo. -Eles deveriam ter morrido – Rosnou a que estava sentada ao seu lado quando de repente se virou com um olhar estranho – você será a próxima, sua presença nos deu mais um dia salvas, sabia? Chen Ren franziu o cenho chocado com tamanha audácia e sinceridade, mas logo a perdoou ao reconhecer nos olhos castanhos o pânico e esperanças. Precisava urgentemente resolver aquilo, seu corpo já demonstrava alguns traços de que o feitiço estava agindo e o mudando. Um comichão em seu corpo a fez se levantar. Parou em frente a todas e respirou fundo pensando. Como fugir? Como Jae iria agir? Quando? Perguntas demais para nenhuma resposta à vista, então como sua mãe dizia ‘Se você não tem respostas prontas cria-as’ ou deveria seguir Si Woo? Ele sempre dizia ‘Quando não temos escolhas temos que seguir o contrário, se precisamos atravessar um rio então vamos nadar senão corte uma árvore e faça sua própria ponte’, ou seja, cause uma confusão, era assim que ele resolvia seus problemas. Chen Ren então teve o brilho de uma ideia surgindo em sua mente e um sorriso rasgou sua face. -Por que ela está sorrindo daquele jeito? – Sussurrou Akame segurando o braço da que a consolava a pouco – Jiao, ela está me assustando. O cômodo onde estava era espaçoso, mas lembrava um salão na parte de trás de um teatro o que significava que havia uma porta perto ou ao lado da coxia onde poderiam fugir, mas elas seriam seguidas. Como dar tempo par a fuga? Uma distração. Ela pensava consigo mesma elaborando um plano e rodava a lâmina nos dedos a cada pensamento que brilhava na sua mente, porém não havia muito tempo para simplesmente gastar pensando então voltou a se sentar e matutar. Sua cabeça doía por não chegar a lugar nenhum, mas continuava a mostrar um rosto. Si Woo, na última vez que o viu. Rosto de traços delicados e suaves. Juvenis e inocentes demais para alguém que transmitia a cada sorriso e fala o perigo de se apaixonar. Lábios finos e rosados. O que faria Si Woo naquele momento? Possivelmente tacaria fogo em tudo, Respondeu uma voz em sua cabeça o fazendo sorrir e analisar aquela situação, se isso acontecesse ele deveria dizer ao outro que era errado e que deveriam tentar por algo mais pacifico como... música! Uma distração musical... -Ei – Exclamou a novata assustando a mulher ao seu lado – desculpa, eu preciso saber se há instrumentos musicais por aqui -Por quê? – Retrucou ela confusa com a curiosidade em um momento como aquele. -Tem ou não? – Insistiu Chen Ren ignorando a pergunta. -No palco – Respondeu ela sem entender – mas teria que ir até lá... e aqueles homens... -Ótimo – Interrompeu rapidamente emitindo um assobio que trouxe a atenção das outras mulheres – se aproximem preciso contar uma coisa importante. Elas se entreolharam confusas, mas se aproximaram, afinal era algo para esquecer o momento e nada melhor do que uma informação importante pelo olhar sério da novata. Quando todas estavam juntas, ele pode notar muito melhor pequenos cortes nas bochechas das damas, alguns vermelhos e outros já cicatrizados. -Nós vamos fugir – Contou vendo as caretas delas por acharem ser uma brincadeira – não estou brincando, estou falando sério. -E como pretende fazer isso? – Perguntou Akame esperançosa juntando as mãos no colo. -Meu amigo vai vir aqui e nos tirar, mas preciso fazer uma distração grande o suficiente para que ele consiga tirá-las daqui em segurança – Explicou calmamente para o silencio que se seguiu. Apenas os olhos se moviam. As respirações eram baixas. O silencio era tão grande que era possível ouvir os batimentos acelerados delas. Elas queriam acreditar, mas como? Não era a primeira vez que alguém tentava fugir. Ele notou o medo delas e suspirou. -Não precisaram fazer anda além de seguirem minhas instruções, tenho um plano e ele vai funcionar se todas concordarem em seguir cada regra – Completou com firmeza – aceitam ou não? -Em nome de Mahina eu aceito – Exclamou Akame para o choque de todas – reconheço uma adepta a Mahina de longe. -Desde quando? – Questionou alguma. -Nasci sob a Lua Cheia então é claro que minha mãe seria crente a ela – Respondeu Akame mais confortável e sem menção de choro – nada temo... -Enquanto a Lua estiver sob mim e em meu caminho – Completou com satisfação – saúdo então minha irmã. Akame sorriu largo sem medo algum. Aquela que a consolava se manteve quieta. Muitas abominavam essa divindade por causa de uma construção social machista, mas só tinham a ela a quem recorrer e duas adeptas estavam com um plano e arriscariam suas vidas então todas concordaram em engolir o preconceito e desconforto para seguir o plano.
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