NERVOUS

CAPÍTULO 3

Na quarta-feira o dia amanheceu bastante chuvoso, um dia que eu com certeza classificaria como triste. Não consegui avisar nenhum raio de sol durante todo o dia. 

Como todas as manhãs, levantei e logo fiz a minha higiene matinal. Logo depois que me vesti e arrumei meu cabelo, recolhi todos os livros que eu havia levado para casa e precisaria utilizar naquele dia, coloquei eles na mochila e desci direto para a cozinha. 

"Pensei que iria se atrasar hoje. Vi que foi dormir tarde ontem." Aaron disse antes de dar a primeira mordida em sua torrada. 

"Sabe que eu raramente me atraso, e bom dia." Digo me sentando em uma das cadeiras vazias que haviam na mesa. "Apenas estava sem sono." Dou de ombros. 

"Meu deus, antes que eu esqueça, Alexis!" Abby levantou da mesa, correu até a sala e voltou poucos segundos depois entregando um envelope branco em minhas mãos. "Você precisa levar isso amanhã para poder receber sua carteira de motorista." Ela disse com um sorriso animado. 

"Aaah, não acredito que eu vou realmente começar a dirigir." Me levantei e comecei a dar pulinhos junto a ela enquanto escutava umas risadas abafadas do Aaron. 

"Assim que buscar sua carteira iremos comprar seu carro, combinado?" Escuto meu irmão mais velho dizer enquanto levanta da cadeira. 

"Combinado!" A tentativa de conter o grande sorriso no meu rosto não estava dando muito certo. Meu grande sonho estava a ponto de se realizar. 

Okay, isso é algo super normal, mas eu sempre quis ter meu próprio carro e agora esse momento chegou. Por sorte meu irmão irá pagar uma parte do carro que eu escolher, juntei um bom dinheiro desde os meus 10 anos para isso. 

Sim, estou economizando desde que eu tinha 10 anos. Esse sempre foi meu sonho, então, quanto mais cedo eu começar a investir melhor, certo? 

Como de costume, deixamos Abby no trabalho e logo depois nos dirigimos para a escola. Ao chegar lá, logo encontrei meus amigos parados na entrada embaixo da maior árvore que havia no pátio. 

"Hellooooooooo!!!" Chego gritando ao lado de Olivia e Emma enquanto dou várias balançar as nelas. "Adivinhem? Vou buscar minha carteira hoje." Antes que eu termine a frase, as duas começaram a gritar e eu me juntei a elas. 

"Obrigado por terem me deixado surdo." Leo revidou os olhos assim que paramos de gritar. 

"Querido, Leo. Hoje eu estou com um humor tão bom, que nem o seu mau humor irá estragar o meu dia." Digo me apoiando em seus ombros com as mãos e depositando um beijo demorado em sua bochecha. 

"Não sei se onde sai tanta alegria." Revirou os olhos novamente. 

"Olha, não lembro muito da minha avó, mas ela dizia que se eu revirasse muito os olhos eles iriam acabar ficando assim, então acho melhor você parar, a não ser que queira ficar mais vesgo." Ele abriu a boca para falar mas eu logo tampe a boca dele com a mão. "Por favor, nos poupe de ouvir suas bobagens agora." 

Após isso o Leo permaneceu calado durante o resto do dia. Algo que era raro, porque mesmo com esse nosso pouco tempo de convivência ele vivia falando e sempre que podia acabava arrumando algo para implicar comigo. 

Mas parecia que algo estava errado, ele ficou de cara fechada o tempo todo e quando não estava prestando atenção no celular, ele estava olhando para algum ponto fixo. 

Depois do recreio não tivemos mais nenhuma aula juntos e na hora da saída ele não apareceu para nós encontrar. 

Aaron havia me avisado que teria que ir para casa mais cedo, então Hardin acabou me deixando na porta de casa, assim que eu saí do carro, vi Abby parada ao lado do portão da garagem. 

"Ei, tá fazendo o que aí?" Perguntei enquanto me aproximava mais da mesma. 

"Esperando a surpresa..." Olhou para o final da rua e sorriu. "Parece que chegou, surpresa!" Ela disse animada começando dar pulinhos. 

Eu virei em direção à rua e vi Aaron dirigindo uma Range Rover vermelha com um grande laço branco no capô. 

Não. Pode. Ser. Possível. 

Fechei os olhos e comecei a dar pulinhos enquanto gritava histericamente. Assim que ele estacionou, corri até o carro e parei tocando no capô. 

"É MEU?" Perguntei aos gritos e Aaron afirmou com um grande sorriso no rosto. "EU NÃO ACREDITO!" Continuei a gritar e a pular. Corri até o Aaron e o abracei o mais forte que consegui, logo depois Abby se juntou ao abraço e ficamos uns minutos ali apenas aproveitando aquele belo momento em família. 

"Tá, eu amei o presente, mas o dinheiro que eu tenho não vai cobrir nem a metade disso." Digo logo depois que saímos do abraço. 

"O dinheiro é seu, esse carro é um presente meu e da Abby, seu presente antecipado de formatura. Até porque, você mais do que merece um carro desse." Aaron disse abraçando a noiva de lado com um grande sorriso no rosto. 

"Eu já disse que amo muito vocês?" Os abracei novamente o mais forte de pude. 

Depois desse belo momento de abraços e beijos em família, almoçamos juntos e logo depois Aaron e Abby voltaram ao trabalho. 

Peguei meu carro -MEU CARRO- e fui até o local que a Abby havia me indicado. Não demorou muito tempo até que eu tivesse minha carteira em mãos. 

Ao sair do local uma chuva forte começou a cair e eu peguei o caminho mais rápido para casa. Quando passei em frente ao Walmart vi Leo sentado na calçada, na chuva e com uma garrafa de whisky quase vazia em mãos. 

Estacionei o carro próximo à calçada, sai do carro e corri até onde ele estava começando a levantar o mesmo. 

"O que você tá fazendo aqui? Enlouqueceu?" Perguntei enquanto o levantava e o guiava em direção ao meu carro. 

Abri a porta do passageiro e coloquei o mesmo dentro do carro, dei a volta correndo e entrei no mesmo logo saindo novamente com o carro. 

"O que deu em você? Porque está assim?" Desviei rápido o olhar para ele que estava bebendo mais um gole de seu whisky, peguei a garrafa das mãos dele e prendi a mesma entre as minhas pernas. 

"Merda." Murmurou assim que eu arranquei a garrafa de suas mãos. "Nada que interesse à você!" 

"Me se eu estou perguntando, é do meu interesse." Digo e vejo o mesmo colocando a mão entre as minhas pernas para arrancar a garrafa de lá, dei um forte t**a na mão dele, o que fez ele recuar. "Não chegue perto dessa garrafa ou das minhas pernas de novo, a não ser que queira um belo olho roxo." 

Ele murmurou algo inaudível para mim e não falou mais nada durante toda a viagem até a minha casa. Estacionei dentro da garagem e ajudei ele a sair do carro. 

"Tá fazendo isso porque?" Leo perguntou desviando o olhar do chão para mim enquanto eu o ajudava a entrar em minha casa. 

"Porque... am... Eu estou te ajudando, para que precisa saber?" Digo e ele permanece calado. 

O levei até meu quarto, guiei ele até o banheiro, ao chegar lá, tirei a roupa dele o deixando apenas de cueca. Abri o chuveiro e coloquei o mesmo embaixo d'água. 

"Vou pegar uma roupa para você, termina..." Travei assim que vi o mesmo retirar sua cueca e a colocar sobre a pia. 

Okay, eu tenho certeza que uma coisa que o Leo não tem é um p***o pequeno. 

"Gostou?" Ele perguntou dando uma risadinha logo depois, o que me fez despertar de meu transe. 

"Babaca." Murmurei e dei as costas para ele enquanto recolhia suas roupas. "Vou buscar uma roupa para você." Digo enquanto saio do banheiro. 

Desci para a lavanderia, coloquei as roupas dele na máquina e após isso subi até o quarto do Aaron. Peguei uma calça de moletom, uma camisa branca e uma toalha limpa. Votei para o meu quarto, entrei no banheiro e deixei a roupa junto a toalha sobre a tampa da privada. 

"Obrigado." Escuto o mesmo disser enquanto saio do banheiro. 

Desci as escadas e preparei um café na máquina para ele, coloquei em uma xícara e peguei dois comprimidos de aspirina. Subi novamente para o meu quarto e ao entrar vejo ele observando umas fotos que haviam grudadas em um quadro na minha parede. 

A calça havia servido perfeitamente, mas aparentemente ele decidiu não usar a camisa, pois a mesma estava estirada sobre a minha cama. 

"Esses eram seus pais?" Apontou para uma foto em que estava eu e Aaron junto aos meus pais. Eu apenas afirmei e entreguei o café com a aspirina para ele. "Obrigado e desculpe por isso, não queria te dar trabalho." 

"Tudo bem." Dei um sorriso amigável para ele. "Quer me contar o que houve?" 

"É só que... nada que está a minha volta presta, tudo é errado, assim como eu." Ele disse e bufou se sentando na ponta de minha cama. 

"Obrigada pela parte que me toca." Digo brincando enquanto dou uma risada. 

"O que? Não, não quis dizer que você... aaah..." Ele passa uma das mãos pelo cabelo e logo depois continua. "Acredite, o que eu tenho certeza que presta e continua ao meu redor, é você." Ele desviou seu olhar para mim e eu dei um sorriso para ele, que retribuiu. 

"Me conta, o que aconteceu?" 

"Minha família e uma garota." Estreitei meus olhos olhando para ele após escutar a palavra garota. "Que? Não! Não quero nada com ninguém, muito pelo contrário, eu não quero e ela está infernizando a minha vida." Tomou mais um gole do café, respirou fundo e continuou. "Minha família basicamente é problemática desde sempre. Meu pai é aquele rico que acha que dinheiro resolve literalmente tudo, e que não se preocupam com as pessoas que eles acham serem inferiores. Desde que minha mãe morreu ele ficou assim e nossa relação apenas piorou, m*l consigo olhar na cara dele. Sempre que nos esbarramos acabamos discutindo. Em relação à garota, quando nos transamos, eu especifiquei bem que não queria nada mais do que isso, ela concordou e disse que aceitaria, mas depois de algumas outras vezes, ela começou a me ligar toda hora, todos os dias e quer que eu tenha algo sério com ela." 

"Você não sente nada por ela?" Perguntei me ajeitando na cama e deitando em meu travesseiro começando a observar o teto do meu quarto. 

Ele suspirou novamente e logo estava deitado ao meu lado. E devo destacar, estava próximo demais. 

Apenas nossos braços estavam se tocando, mas esse mínimo toque já estava mexendo comigo. 

"Eu não sinto nada por ninguém, nunca senti..." Ele virou a cabeça de lado para poder me olhar. 

"Mesmo? Você nunca..." Parei no meio da frase ao escutar ele falar. 

"...até agora." Virei a cabeça na direção dele e nossos olhares se encontraram. 

Meu coração começou a acelerar assim que eu percebi o que estava acontecendo. Não fazia ideia do que falar ou fazer. 

"Alexis, eu..." Começo a escutar algumas vozes e sento rápido na cama. "O que..." Faço sinal para que ele fique calado e começo a escutar a voz do Aaron e logo após a da Abby. 

"m***a!" Murmurei enquanto levantava da cama. "Assim, você precisa ir." 

"Agora? Mas..." Interrompi ele novamente. 

"Depois conversamos, desculpa, se o meu irmão te encontrar aqui, ele surta. Não me permite trazer ninguém aqui sem ele saber." Digo enquanto segurava ele pela mão e puxava o mesmo para levantar da cama. 

Ele assim o fez e acabou saindo pela janela após eu insistir diversas vezes. 

Não falamos mais sobre nada disso durante o resto da semana. Ele no dia seguinte estava normal, como se nada tivesse acontecido. Eu não soube o que fazer, então preferi me manter calada. Não queria arrumar problemas. 

Na sexta durante todo o dia teríamos os testes para o time de futebol, líderes de torcida, coral e outras atividades que tínhamos na escola, mas nos primeiros tempos de aula o Aaron chamou apenas a minha turma para comparecer ao auditório. 

Como de costume, sentamos na mesma fileira de sempre, mas dessa vez com um lugar a mais que estava sendo ocupado pelo Leo. 

"Okay, silêncio por favor!" Aaron disse ao microfone chamando atenção de todos os meus colegas de classe que conversavam. "Esse ano como eu havia dito, teremos várias surpresas e uma delas será que..." Ele fez uma pausa e saiu dos alto-falantes um som parecido com tambores para dar um suspense até que ele continuou. "Teremos três viagens para vocês durante o ano!" Depois dessa frase todos começaram a gritar e assobiar em comemoração. "Silêncio!" Aaron pediu após alguns segundos com um grande sorriso no rosto ao ver a animação de seus alunos. "Os locais serão surpresa, vocês saberão apenas uma semana antes. A primeira viagem será feita mês que vem. Então, isso é tudo. Podem começar com suas atividades." Ele disse e saiu do palco acompanhado por sua secretária. 

"AÍ! MEU! DEUS!" Olivia e Emma gritaram enquanto começavam a pular o que arrancou várias gargalhadas de mim e dos meninos. 

"Você já sabia, né? Que ódio de você!" Ben disse me dando um empurrãozinho para o lado. 

"Desculpa, fui proibida de contar." Digo enquanto me levanto da poltrona. "Enfim, acho melhor comemorarmos essa notícia depois, algumas pessoas aqui tem um teste para o time de hóquei esperando." Começo a puxar Ben e Hardin pelos braços enquanto os mesmos fingem estar com preguiça. 

"Já vamos." Hardin disse manhoso enquanto eu puxava o mesmo. Ele se levantou e deu um beijo em minha testa. 

Logo depois Ben e Leo se levantaram e os três saíram do auditório logo depois que eu e as meninas desejamos boa sorte para os três. 

"Tem certeza que não quer fazer o teste para ser líder de torcida? Esse é seu último ano, Lexie!" Olivia fez uma carinha fofa para tentar me convencer. 

Desde que estudamos juntas ela tenta me fazer entrar para o time de torcida, ela diz que eu tenho um talento nato para a dança e que preciso mostrar ele ao mundo. 

Mas sinceramente, eu não me vejo andando por ai com aquela blusinha que tem o nome do time da escola estampado e a saia minúscula. Acho que eu prefiro continuar apenas no meu clube do livro que está muito bom. 

"Desculpa, mas não vai ser dessa vez. Quem sabe na nossa próxima reencarnação." Depositei um beijo na bochecha de cada uma e desejei boa sorte a elas antes de deixar o auditório. 

Fui até a biblioteca e avisei a bibliotecária que como sempre, todas as segundas eu seria voluntária. Ela anotou meu nome e disse que já estava tudo certo. 

Dei uma olhada pela biblioteca e peguei um livro aleatório sobre uma estrela do hóquei que se apaixonada por uma atriz e os dois tinham vários problemas no relacionamento. 

Após isso, sentei em um dos sofás e fiquei lendo por alguns minutos até que o sinal avisando que o terceiro tempo de aula iria começar soou. 

Aquela biblioteca tinha muitos livros interessantes, mas aquele definitivamente não era um. A história não se desenvolvia bem além do relacionamento entre a chamada Finn e o Dereck ser altamente abusivo. 

Devolvi o livro para a prateleira e fui até o ringue de hóquei para ver o teste dos meninos. Tinham apenas algumas pessoas sentadas espalhadas pela arquibancada enquanto conversavam e olhavam os meninos que estavam jogando. 

Ao sentar em uma das últimas fileiras, avistei Ben no banco, ele acenou para mim e eu retribui com um sorriso. Após isso comecei a prestar atenção no jogo e a procurar por Hardin entre os jogadores. 

Depois de um tempo a sua procura, lembrei que Hardin era o goleiro, então comecei a observar os dois que estavam no gol e eram igualmente bons. 

Mas um se destacava, pelo que eu entendi ele era atacante. O garoto patinava super bem e raramente perdia o disco para algum outro jogador, ele só não era muito bom na parte de roubar o disco. 

Não demorou muito tempo até que o jogo acabou. Na hora que todos tiraram os capacetes eu vi, aquele que jogava super bem era o Leo. Algo que eu com certeza não esperava era ver ele jogando Hóquei. 

O treinador alinhou todos que fizeram o teste em uma fila e foi indicando os que estavam no time e os que não. 

Hardin, Leo e Ben conseguiram passar. Os três comemoraram dando tapas e socos uns nos outros de modo bem bruto, ao meu ver, mas homens são homens, certo? 

Desci correndo até a ponta do ringue assim que eles saíram. Abracei primeiro Ben e Hardin ao mesmo tempo. 

"Parabéns!" Apertei eles mais ainda no abraço. "Vi apenas o Hardin no ringue, mas acredito que você deve ter ido super bem. Eu lembro de você na temporada passada e era absolutamente inacreditável." Digo soltando os dois enquanto observo eles com um grande sorriso no rosto. 

"Quando descobrimos que teríamos todos que refazer o teste, me desesperei, pensei que não passaríamos." Hardin disse se sentando no banco e começando a tirar os patins. 

"Eu já sabia que vocês iam passar." Sorri calorosamente para os dois. Desviei o olhar para Leo que estava me olhando e assim que percebeu desviou rápido o olhar. Me aproximei devagar dele, que já estava sentado retirando seus patins. Sentei ao seu lado e o abracei apertado depositando um beijo em sua bochecha. "Parabéns, não sabia que você jogava tão bem. Se alguém me falasse eu não acreditaria." Dei uma risada fraca. 

"Obrigada." Leo disse com um breve sorriso nos lábios após retribuir o abraço. "Eu aparento jogar m*l?" Franziu as sobrancelhas. 

"Você aparenta saber absolutamente nada sobre o assunto, eu estou realmente impressionada." Digo dando uma risada e o mesmo acaba me acompanhando. 

"Parece que hoje teremos algo para realmente comemorar na festa do Cameron." Ben disse me fazendo desviar o olhar para ele, assim como Leo fez. 

"BEBEDEIRA!" Os três gritaram em uníssono o que me assustou de primeira, mas depois caímos todos na gargalhada.