Capítulo 4

1302 Words
Rafaela narrando Eu acordo assustada com as batidas fortes na porta. O meu coração disparo no meu peito, ainda meio zonza da noite m*l dormida. Eu jogo uma blusa por cima do shortinho e fui até a porta, abrindo com cuidado. Do outro lado estava Neguinho, um dos moleques mais ligeiros da quebrada, sempre correndo pra cima e pra baixo a mando do Rei. Ele estava ofegante, suado, como se tivesse subido o morro todo correndo. — O que foi, Neguinho? — pergunto, a minha voz ainda rouca de sono. Ele passou a mão na testa, tirando o suor. — O Rei tá te chamando lá na Barreira, mina. Mandou avisar que é urgente. — Urgente? — o meu estômago deu um nó. — Por quê? Neguinho olhou pra mim, sério. — Tem um playboy lá embaixo… tá causando por tua causa. Fez um escarcéu da p***a. Rei quer que tu desça agora. Os olhos se arregalaram na mesma hora. O meu coração bateu ainda mais rápido, e eu já sabia exatamente quem era. Só podia ser uma pessoa. — Merda… — murmuro, olhando pro horizonte pela janela, sentindo o peso da confusão se armando. — Espera aqui, Neguinho. Vou trocar de roupa. Neguinho apenas assentiu, encostando na parede enquanto eu corria pro quarto, a mente a mil. O que aquele i****a estava fazendo agora? E pior… o que Rei faria se perdesse a paciência? Eu respiro fundo, tentando controlar a ansiedade, mas uma coisa era certa: descer pra Barreira agora era entrar de cara com o perigo. E ela já sabia… dali, ninguém saía ileso. desci o morro com Neguinho em silêncio, o coração martelando no peito a cada passo mais perto da Barreira. Quando viro a última viela, vejo a cena se desenhar à minha frente: Rei encostado no muro, braços cruzados, olhar frio e calculista. À frente dele, Joel gesticulava nervoso, tentando explicar alguma coisa para os caras do bonde, mas todos pareciam pouco interessados. Assim que eu apareci, o barulho paro. Joel viro na mesma hora, o olhar desesperado encontrando o meu. — Rafa! — ele tento se aproximar rápido, a voz embargada. — Amor, eu... Mas antes que pudesse terminar a frase, levanto a mão com força e PLÁ o tapa estalo alto, cortando o silêncio e fazendo até alguns dos manos darem um passo pra trás, surpresos. Joel segurou o rosto, chocado. — Cala a boca! — disparo, com os olhos marejados de raiva. — Nem tenta abrir essa boca suja pra mim! Rei continuou parado, só observando a cena com aquele jeito impassível dele, fumando devagar, como se tudo aquilo fosse só mais um espetáculo barato. — Você entendeu tudo errado, Rafaela! — Joel se defendeu, a voz desesperada. — Eu juro, não foi nada daquilo que você tá pensando… Ela deu uma risada amarga, tremendo de ódio. — Errado? Jura, Joel? E os gemidos? Foi coisa da minha cabeça? — eu cuspi as palavras, sem nem se importar com quem estava ouvindo. — As risadas? O teu cheiro na cama daquela vagabunda também era invenção minha? Joel ficou mudo, travado, sem reação. Rei soltou a fumaça devagar, jogando a bituca no chão e esmagando com a bota. Seus olhos negros não perdiam nenhum detalhe. — Termina logo essa palhaçada, Rafaela, — ele falou com a voz baixa, mas firme, — porque esse o****o já me deu motivo demais hoje. O silêncio caiu pesado. Eu encaro Joel uma última vez, com nojo estampado no rosto, antes de se virar pro Rei. — Acabou, Rei. Pode fazer o que quiser com ele. Pra mim, esse lixo já morreu. Os olhos de Joel se arregalaram de pavor quando viro as costas e começou a subir de novo, enquanto os caras do bonde já fechavam o cerco em volta dele. E Rei, com aquele sorriso frio no canto da boca, apenas murmurou: — Pedido atendido. subi o morro sem olhar pra trás, as pernas bambas e o coração disparado. Cada passo parecia pesar mais que o outro, e a raiva que me sustentava minutos antes agora dava lugar a um vazio estranho, sufocante. Quando chego em casa, bato a porta com força e deslizo até o chão, as minhas mãos tremendo sem controle. As lágrimas começaram a cair, silenciosas no início, até virarem um choro pesado, cheio de tudo que eu tinha segurado por tempo demais. Ali, sozinha naquele barraco apertado, senti o peso da traição, da vergonha e da dor. Depois de um tempo, com os olhos ainda vermelhos e o rosto marcado, eu se levanto. Fui até o banheiro e se encaro no espelho. Os olhos marejados, mas cheios de uma nova determinação. — Acabou, Rafaela, — sussurrei pra mim mesma, — chega de ser trouxa. Agora é você por você. Eu lavo o rosto, prendo o cabelo e abro a janela pra deixar o vento entrar. Lá fora, o morro seguia seu ritmo normal, como se nada tivesse acontecido, mas eu sabia que dentro de me tudo tinha mudado. O celular vibrou em cima da cama. Era uma mensagem curta: “Tá viva?” — Rei. Eu respiro fundo antes de responder: — “Tô. Valeu.” Minutos depois, outra mensagem: — “Cola na laje amanhã. A gente tem que trocar uma ideia séria.” — Onde você conseguiu meu número, Rei? — Esqueceu com quem tá falando, gata? Eu sou o dono do morro. — Qualquer parada que eu quiser, eu consigo. Eu leio e releu, o meu coração acelerando de novo. Sabia que com Rei as coisas nunca eram simples, e essa “ideia séria” podia mudar ainda mais o rumo da minha vida. Apago a luz e se jogo na cama, o meu olhar fixo no teto. — Que venha o que for. Eu tô pronta, — murmuro antes de fechar os olhos, a cabeça fervilhando com tudo que ainda estava por vir. Sair de casa decidida, o coração acelerado enquanto atravessava o morro rumo à boca. Cada passo ecoava a tensão que eu carregava no peito. Quando chego, vejo Neguinho encostado na mureta e não penso duas vezes. — Neguinho você pode avisa lá pro Rei que eu cheguei — disse firme, ajeitando a alça da minha bolsa no ombro. Neguinho assentiu e sumiu pra dentro. Só que antes mesmo dele sair do alcance da minha vista, a uma voz estridente que Rafaela cortou o ar. — Ué, o que você tá fazendo aqui na porta da boca, querida? Atrás do homem dos outros? — Danielle, a louca da lanchonete, apareceu revirando os olhos e cruzando os braços com arrogância. abri a boca pra responder, mas antes que qualquer palavra saísse, a voz pesada e autoritária do Rei ecoou, seco e direto: — Homem dos outros? — Ele se aproximou devagar, o olhar cortante — Se tá falando de mim, Dani, deixa eu te lembrar de uma coisa... nunca fui teu. E nem vou ser. Tu é só uma b****a que eu despejo minha p***a quando não tenho mais o que fazer. Eu encosto na mureta da laje, cruzando os braços, enquanto encaro Rei com expressão desconfiada. — Tá, fala logo... qual é o problema agora? — eu pergunto, sem paciência. Rei dá um passo à frente, com aquele olhar intenso que desarma, e rebate: — Problema? Quem quer saber sou eu. Qual é a bronca com aquele playboy metido que chegou aqui cheio de marra? Eu solto uma risada seca, desviando o olhar pro chão antes de encará-lo de novo, amargurada: — Ele era meu noivo... — a minha voz falha um segundo antes de continuar firme — e me traiu com a minha própria prima. Aquela desgraçada que morava comigo. O resto da história... — eu do de ombros, com um sorriso amargo — você já sabe.
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