Rafaela narrando
Eu acordo assustada com as batidas fortes na porta. O meu coração disparo no meu peito, ainda meio zonza da noite m*l dormida. Eu jogo uma blusa por cima do shortinho e fui até a porta, abrindo com cuidado.
Do outro lado estava Neguinho, um dos moleques mais ligeiros da quebrada, sempre correndo pra cima e pra baixo a mando do Rei. Ele estava ofegante, suado, como se tivesse subido o morro todo correndo.
— O que foi, Neguinho? — pergunto, a minha voz ainda rouca de sono.
Ele passou a mão na testa, tirando o suor.
— O Rei tá te chamando lá na Barreira, mina. Mandou avisar que é urgente.
— Urgente? — o meu estômago deu um nó. — Por quê?
Neguinho olhou pra mim, sério.
— Tem um playboy lá embaixo… tá causando por tua causa. Fez um escarcéu da p***a. Rei quer que tu desça agora.
Os olhos se arregalaram na mesma hora. O meu coração bateu ainda mais rápido, e eu já sabia exatamente quem era. Só podia ser uma pessoa.
— Merda… — murmuro, olhando pro horizonte pela janela, sentindo o peso da confusão se armando. — Espera aqui, Neguinho. Vou trocar de roupa.
Neguinho apenas assentiu, encostando na parede enquanto eu corria pro quarto, a mente a mil. O que aquele i****a estava fazendo agora? E pior… o que Rei faria se perdesse a paciência?
Eu respiro fundo, tentando controlar a ansiedade, mas uma coisa era certa: descer pra Barreira agora era entrar de cara com o perigo.
E ela já sabia… dali, ninguém saía ileso.
desci o morro com Neguinho em silêncio, o coração martelando no peito a cada passo mais perto da Barreira. Quando viro a última viela, vejo a cena se desenhar à minha frente: Rei encostado no muro, braços cruzados, olhar frio e calculista. À frente dele, Joel gesticulava nervoso, tentando explicar alguma coisa para os caras do bonde, mas todos pareciam pouco interessados.
Assim que eu apareci, o barulho paro. Joel viro na mesma hora, o olhar desesperado encontrando o meu.
— Rafa! — ele tento se aproximar rápido, a voz embargada. — Amor, eu...
Mas antes que pudesse terminar a frase, levanto a mão com força e PLÁ o tapa estalo alto, cortando o silêncio e fazendo até alguns dos manos darem um passo pra trás, surpresos.
Joel segurou o rosto, chocado.
— Cala a boca! — disparo, com os olhos marejados de raiva. — Nem tenta abrir essa boca suja pra mim!
Rei continuou parado, só observando a cena com aquele jeito impassível dele, fumando devagar, como se tudo aquilo fosse só mais um espetáculo barato.
— Você entendeu tudo errado, Rafaela! — Joel se defendeu, a voz desesperada. — Eu juro, não foi nada daquilo que você tá pensando…
Ela deu uma risada amarga, tremendo de ódio.
— Errado? Jura, Joel? E os gemidos? Foi coisa da minha cabeça? — eu cuspi as palavras, sem nem se importar com quem estava ouvindo. — As risadas? O teu cheiro na cama daquela vagabunda também era invenção minha?
Joel ficou mudo, travado, sem reação.
Rei soltou a fumaça devagar, jogando a bituca no chão e esmagando com a bota. Seus olhos negros não perdiam nenhum detalhe.
— Termina logo essa palhaçada, Rafaela, — ele falou com a voz baixa, mas firme, — porque esse o****o já me deu motivo demais hoje.
O silêncio caiu pesado. Eu encaro Joel uma última vez, com nojo estampado no rosto, antes de se virar pro Rei.
— Acabou, Rei. Pode fazer o que quiser com ele. Pra mim, esse lixo já morreu.
Os olhos de Joel se arregalaram de pavor quando viro as costas e começou a subir de novo, enquanto os caras do bonde já fechavam o cerco em volta dele.
E Rei, com aquele sorriso frio no canto da boca, apenas murmurou:
— Pedido atendido.
subi o morro sem olhar pra trás, as pernas bambas e o coração disparado. Cada passo parecia pesar mais que o outro, e a raiva que me sustentava minutos antes agora dava lugar a um vazio estranho, sufocante. Quando chego em casa, bato a porta com força e deslizo até o chão, as minhas mãos tremendo sem controle.
As lágrimas começaram a cair, silenciosas no início, até virarem um choro pesado, cheio de tudo que eu tinha segurado por tempo demais. Ali, sozinha naquele barraco apertado, senti o peso da traição, da vergonha e da dor.
Depois de um tempo, com os olhos ainda vermelhos e o rosto marcado, eu se levanto. Fui até o banheiro e se encaro no espelho. Os olhos marejados, mas cheios de uma nova determinação.
— Acabou, Rafaela, — sussurrei pra mim mesma, — chega de ser trouxa. Agora é você por você.
Eu lavo o rosto, prendo o cabelo e abro a janela pra deixar o vento entrar. Lá fora, o morro seguia seu ritmo normal, como se nada tivesse acontecido, mas eu sabia que dentro de me tudo tinha mudado.
O celular vibrou em cima da cama. Era uma mensagem curta:
“Tá viva?” — Rei.
Eu respiro fundo antes de responder:
— “Tô. Valeu.”
Minutos depois, outra mensagem:
— “Cola na laje amanhã. A gente tem que trocar uma ideia séria.”
— Onde você conseguiu meu número, Rei?
— Esqueceu com quem tá falando, gata? Eu sou o dono do morro.
— Qualquer parada que eu quiser, eu consigo.
Eu leio e releu, o meu coração acelerando de novo. Sabia que com Rei as coisas nunca eram simples, e essa “ideia séria” podia mudar ainda mais o rumo da minha vida.
Apago a luz e se jogo na cama, o meu olhar fixo no teto.
— Que venha o que for. Eu tô pronta, — murmuro antes de fechar os olhos, a cabeça fervilhando com tudo que ainda estava por vir.
Sair de casa decidida, o coração acelerado enquanto atravessava o morro rumo à boca. Cada passo ecoava a tensão que eu carregava no peito.
Quando chego, vejo Neguinho encostado na mureta e não penso duas vezes.
— Neguinho você pode avisa lá pro Rei que eu cheguei — disse firme, ajeitando a alça da minha bolsa no ombro.
Neguinho assentiu e sumiu pra dentro. Só que antes mesmo dele sair do alcance da minha vista, a uma voz estridente que Rafaela cortou o ar.
— Ué, o que você tá fazendo aqui na porta da boca, querida? Atrás do homem dos outros? — Danielle, a louca da lanchonete, apareceu revirando os olhos e cruzando os braços com arrogância.
abri a boca pra responder, mas antes que qualquer palavra saísse, a voz pesada e autoritária do Rei ecoou, seco e direto:
— Homem dos outros? — Ele se aproximou devagar, o olhar cortante — Se tá falando de mim, Dani, deixa eu te lembrar de uma coisa... nunca fui teu. E nem vou ser. Tu é só uma b****a que eu despejo minha p***a quando não tenho mais o que fazer.
Eu encosto na mureta da laje, cruzando os braços, enquanto encaro Rei com expressão desconfiada.
— Tá, fala logo... qual é o problema agora? — eu pergunto, sem paciência.
Rei dá um passo à frente, com aquele olhar intenso que desarma, e rebate:
— Problema? Quem quer saber sou eu. Qual é a bronca com aquele playboy metido que chegou aqui cheio de marra?
Eu solto uma risada seca, desviando o olhar pro chão antes de encará-lo de novo, amargurada:
— Ele era meu noivo... — a minha voz falha um segundo antes de continuar firme — e me traiu com a minha própria prima. Aquela desgraçada que morava comigo. O resto da história... — eu do de ombros, com um sorriso amargo — você já sabe.