Capítulo 2

2303 Words
Capítulo Dois Elas ficam boquiabertas comigo como se eu tivesse abaixado minhas calças e começado a fazer testes práticos dedilhando na frente delas. Ao mesmo tempo, o cheiro de comida deliciosa fica mais forte, apesar dos meus filtros nasais – isso ou o estresse está me deixando com mais fome. — Eu ouvi ‘m*********o’? — Blue pergunta, ainda falando muito alto. — Sim — Gia diz ainda mais alto. — Mas talvez seja um acrônimo para alguma coisa, como um Mestre Urbano em Planejamento? Meu olho começa a tremer de novo, mas me acalmo acrescentando mentalmente outro eufemismo para autoprazer feminino à minha lista existente: Mestre Urbano em Planejamento, ou MUP, uma das gírias para v****a. Mas, espere. Não deveria ser Mestra Urbana em Planejamento, já que estamos enfatizando a feminilidade do ato? — Tenho certeza de que ela está falando sobre dedilhar a si mesma — diz Honey, sorrindo amplamente. OK. Agora meu olho esquerdo está tremendo tanto que eu não ficaria surpresa se ele estivesse enviando mensagens em código Morse para minhas irmãs: dois pontos e um traço, depois, três pontos e outro traço – que significa VSF. — Se vocês apenas me deixassem falar — Resmungo, e elas se voltam para mim, os olhos arregalados. Eu tomo outro fôlego. —, eu quis dizer o que eu disse. Sou uma masturbadora profissional. Uma garganta é limpa atrás de mim, e o cheiro de comida gostosa é o mais forte desde que nos sentamos, o que me faz entender por que minhas irmãs estão com os olhos esbugalhados. Não foram minhas palavras, mas algo mais. Algo pior. Corando, olho por cima do ombro para confirmar minha suspeita. Sim. Nossa garçonete de mais idade está de pé atrás de mim e, se não fosse pela bandeja de comida em suas mãos, ela estaria para além de estarrecida. — Isso mesmo. Eu escrevo um blog sobre m*********o — digo, levantando meu queixo enquanto me viro para a mesa. Quando a vida me deu limões – também conhecido como homens cujos cheiros eu não tolerava – fiz uma limonada tornando-me tão boa em me dar prazer que nem preciso de um homem nesse momento. Em geral, QVDL é meu lema pessoal, por razões óbvias. Falando nisso, meu nome é a única coisa com a qual eu nunca poderia fazer limonada: “Lemon Hyman” soa como uma membrana virginal azeda. A garçonete põe nossos pratos na mesa tão rápido que tenho certeza de que ela espera que eu tire um vibrador da minha b****a e a faça chupar. Ah, bem. Não adianta recuar agora. Levantando meu queixo mais alto, eu continuo. — O auto-prazer empodera as mulheres. Permite que liberem com segurança a tensão s****l, reduzam o estresse e melhorem o sono. Eleva a autoestima e melhora a imagem corporal, alivia cólicas, fortalece o tônus muscular na região pélvica e anal... A garçonete joga ruidosamente o último prato – minha torrada francesa – na minha frente e sai correndo, bufando. Gia sorri. — Ótimo. Agora ela vai cuspir em qualquer outra coisa que nos trouxer. Os olhos de Honey se transformam em fendas. — Eu a desafio. Blue sorri para mim. — Você percebe o quanto você soou como a mamãe? Ugh, ela está certa. Os benefícios do orgasmo são o assunto preferido da nossa matriarca. Quando se trata de nossos pais, não contei a eles sobre minha profissão por causa de quantos conselhos não solicitados eles se sentirão compelidos a dar. Eu belisco a ponta do meu nariz. O que está feito está feito. Essas três sabem agora. Eu dou a cada irmã um olhar duro. — Posso confiar em vocês para manter isso entre nós? Considerando como isso está indo, acho que ainda não estou pronta para me assumir para o resto da família. Blue incha. — Oh, por favor. Eu guardo segredos para viver. — E eu sou mágica — diz Gia. — Guardo ainda mais segredos do que Blue. Honey zomba. — Eu sou a única a quem você deveria ter contado – e a única que você precisa para a Operação BS. OK, bom. A competitividade das irmãs Hyman trabalhará a meu favor pela primeira vez. Aliviada, pego uma garrafa de xarope e afogo minha torrada antes de dar uma mordida. Não. Não está doce o suficiente. Polvilho açúcar de confeiteiro e dou outra provada. Ainda falta algo. Com um suspiro, olho para Honey e aceno com a cabeça. Com os olhos brilhando de satisfação, Honey tira um saco plástico cheio de uma mistura de M&Ms, passas, pequenos marshmallows e milho doce. Certifico-me de que a garçonete não está olhando e despejo o conteúdo da sacola no meu prato. Finalmente, a torrada francesa está doce o suficiente para mim. Infelizmente, acabei de encorajar a frugalidade obsessiva de Honey. Como esperado, para evitar pagar a mais pelas coberturas, ela as trouxe para o restaurante. Mais cedo, ela insistiu que pedíssemos suco de laranja que ela transformou em mimosas com o champanhe de sua garrafa, e espero que ela pegue um cupom para a própria refeição quando a conta chegar. Sim, minha irmã durona faz o Tio Patinhas parecer um grande gastador em comparação. Claro, se alguém disser algo sobre isso na cara dela, ela vai ter um surto. Enquanto estou lidando com minha torrada, Blue examina os ovos no prato de Honey com desconfiança. Minha corajosa irmã espiã teme e odeia qualquer coisa que tenha a ver com pássaros. Sua necessidade de zombar de mim eventualmente prevalece, no entanto. Olhando para cima, ela me fixa com um olhar atento. — Agora que seu diabetes está garantido, posso fazer algumas perguntas sobre seu trabalho? Gia, que também estava olhando para os ovos de Honey com desaprovação, sem dúvida preocupada com salmonela ou algum outro germe, olha para Blue com interesse. — Você quer dizer a Operação Baita Sorvida ou o blog do roça-roça? — O blog do lustrar a ostra. — Blue se vira para mim. — Por que um blog? Estamos em 2003? Eu suspiro. — Tentei fazer vídeos nas redes sociais, mas as plataformas em sua maioria são pudicas e limitam o que posso dizer sobre o assunto. Além disso, por motivos conhecidos apenas pelos algoritmos dos mecanismos de busca, meu blog é semipopular. Gia arqueia uma sobrancelha tingida de preto. — Algoritmos de mecanismo de busca? — Se você procurar por ‘roça-roça’, eu sou um dos primeiros resultados. O mesmo para ‘m*********o feminina’. Honey parece impressionada. — Isso se traduz em muito dinheiro? Eu dou a ela um olhar vítreo. — Sim, eu alugo uma merda em Staten Island só por diversão. — Você pode estar fazendo isso porque gosta de economizar dinheiro. — Blue olha furtivamente para Honey. Eu faço uma careta. — Quem dera. Estou afogada em dívidas de cartão de crédito. Os banners m*l colocam comida na minha mesa. A maneira de ganhar dinheiro de verdade é conseguir um patrocinador, mas isso não acontece comigo há algum tempo. — Então, por que fazer isso? — Gia pergunta. — Porque é a minha paixão — digo. — De todas, você deveria entender isso. Em vez de fazer mais piadinhas sobre m*********o, Gia assente solenemente. Durante muito tempo, seu amor pela magia também não rendeu muito, mas sua sorte mudou recentemente. — Só sei que não vou desistir — digo, e não tenho certeza se estou tentando convencer minhas irmãs ou a mim mesma. — Só preciso encontrar um grande patrocinador e... Eu engasgo quando o cheiro de loção pós-barba derrota meus filtros nasais e começa a molestar minhas narinas. Virando-me, vejo o infrator, um garçom carregando uma jarra d’água. — Não precisamos disso, obrigada. — Aceno para ele se afastar, como um percevejo. — Você percebeu que ele era fofo? — Honey pergunta. Faço outro som de engasgo. — Ele deve ter mergulhado em uma banheira de Old Spice por alguns dias antes de se apresentar ao trabalho. — Oh, horror — Gia diz com um revirar de olhos. — Perfumes e colônias são como peidos que custam dinheiro — digo. Blue abre a boca, sem dúvida para dizer algo sarcástico, mas o karma pousa bem no meio da nossa mesa – na forma de um papagaio verde bonitinho. Com velocidade que até James Bond invejaria, Blue mergulha debaixo da mesa. O pássaro pula para um prato com torradas simples e o bica como se não existíssemos. Gia olha para o pássaro com os olhos arregalados. — Este deve ser o animal de estimação de alguém, certo? — De jeito nenhum — Blue diz, sua voz abafada pela toalha da mesa. — É um periquito monge. Eles são selvagens. Ela diz “periquito monge” da maneira que a maioria das pessoas diria “tarântula” e imbui a palavra “selvagem” com uma voz sinistra geralmente reservada para pessoas como Voldemort. — Selvagem? — Gia se levanta de um salto, sem dúvida se lembrando de todos os germes que um pássaro selvagem pode carregar. Então, como que por mágica – pelo menos do tipo performático – um frasco de desinfetante para as mãos do tamanho da minha cabeça aparece nas mãos de Gia, e ela esguicha o pássaro com ele. Que nojo. O cheiro de álcool e menta falsa barata é como um tapa no meu nariz. O papagaio concorda comigo. Faz um guincho que soa como se uma serra elétrica e o despertador mais irritante tivessem um bebê, que foi torturado no inferno por demônios surdos. — Faça isso ir embora! — Blue grita debaixo da mesa. Do nada, um baralho de cartas surge nas mãos de Gia, e ela as joga uma a uma no pássaro, como estrelas ninjas. O pássaro guincha de novo, mas não sai. Cortes de papel não devem ser um problema quando você tem penas. — Por favor, pessoal — diz Blue. — Isso não é engraçado. Livrem-se disso. — Está bem, está bem. — Honey pega uma faca borboleta e a abre da maneira chamativa que associo a assassinos profissionais. — Não! — Grito. — Não mate o pobre... O pássaro avista a faca e guincha novamente, e levanta voo, parecendo indignado enquanto desaparece na distância. Honey esconde desajeitadamente a faca borboleta em sua bolsa. — Eu só ia assustá-lo. Sim. Claro. Como ela assustou aquela garota malvada no colégio que teve que levar pontos no antebraço. Blue sai de debaixo da mesa, parecendo envergonhada. — Se você o tivesse matado, qualquer um com um cérebro maior que o de um pássaro concordaria que foi legítima defesa. Gia esguicha o desinfetante para as mãos em todos os lugares que os pezinhos do pássaro tocaram, matando o que restava do meu apetite. Empurro meu prato para longe. — Podemos chegar ao assunto em questão? — Sim. — Blue retorna ao seu lugar. — Qual é o local? — New York City Ballet — digo. O ingresso consumiu grande parte dos ganhos do meu blog no mês passado, mas valerá a pena ver O Russo ao vivo em vez de assistir suas apresentações no YouTube. E, claro, para tirá-lo da minha mente. Blue pega o telefone e faz algo por um ou dois minutos. Quando ela olha para cima, seu sorriso diabólico me lembra o de Gia. — Eu posso fazer com que você não apareça em nenhuma câmera. — Ela lança um olhar desafiador para Honey. — Ainda acha que você é tudo que ela precisa? — Eu diria que ela precisa de mim mais do que qualquer uma de vocês — diz Gia. Seu tom torna-se professoral quando ela olha para mim. — A chave para entrar em lugares onde você não pertence é não parecer culpada. — Ela tem razão — diz Honey. — Posso entrar em qualquer boate fingindo ousadamente como quem não quer nada. Pego meu telefone e faço minha primeira anotação: Seja ousada. Claro, é mais fácil falar do que fazer. Eu verifico para ter certeza de que nenhum garçom escapou do meu nariz e digo: — Talvez haja portas que precisarei abrir. Portas trancadas. Como se tivessem ensaiado o movimento por um ano, minhas três irmãs pegam uma chave-mestra e riem umas das outras. — Você quer fazer as honras? — Honey diz para Gia. — Você foi a primeira a aprender isso. Gia sorri. — Você tem mais experiência prática. Antes que Blue puxe o saco de Gia também, eu digo: — Eu não me importo quem faça. Apenas me ensine. — Certo. — Honey pega uma coisa em zigue-zague. — Esta é uma chave de tensão. * * * A aula leva o triplo do tempo que deveria porque minhas professoras ficam discutindo sobre minúcias aleatórias. Finalmente, sinto-me confiante o suficiente para a Operação Baita Sorvida, e aceno para a garçonete trazer a conta. Como esperado, Honey saca um cupom e a garçonete precisa voltar para recalcular a conta. — É por minha conta — digo quando a conta vem. — Não — Gia e Blue dizem em uníssono. — Você acabou de nos dizer que tem problemas de fluxo de caixa — Acrescenta Honey. — Tudo bem — digo com um suspiro. Meu cartão de crédito está no limite. — Nós dividimos desta vez, mas se eu conseguir um bom patrocinador, vou levar todas vocês para um jantar chique. — Combinado — diz Gia. — Desde que seja um lugar limpo, como este. — Claro. — Luto contra a vontade de revirar os olhos. — Também não servirá nenhuma ave. — Sorrio para Blue. Eu até debato se devo assegurar a Honey que será um lugar para o qual ela pode usar um cupom, mas decido não arriscar minha pele com aquela faca em sua bolsa. A Operação Baita Sorvida já será bastante perigosa.
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