Ele chegou

1076 Words
Nero estava sentado na poltrona de couro, uma dose de uísque na mão. A piscina sendo limpa por um dos presos... Um dos homens que servia a ele — um guarda se ajoelhou ao lado dele. — Tem o que eu pedi, Zeno? — Tenho. Dos três homens presos por est.upro, apenas um é realmente inocente. A mulher armou para ele… Houve um sorriso debochado.. O guarda fechou os olhos, Nero apoiou o copo, deixou o líquido escorrer devagar pela borda. Um sorriso frio surgiu, sem alegria. — Joga os outros dois na cela. — ordenou, sem perder a calma. — Vamos nos divertir. O aviso caiu no ar como sentença. O guarda levantou-se, e saiu para cumprir a ordem. Nero ficou ali, imóvel, observando o copo vazio com o olhar, depois sorriu. Zeno havia sido, um dia, apenas um guarda. Mas isso foi antes da irmã dele adoecer, antes do diagnóstico e da conta absurda que ele jamais conseguiria pagar em toda a vida. Quando Nero soube, pagou o tratamento — cada centavo. Em troca, pediu apenas uma coisa: lealdade. Desde então, Zeno era o braço direito de Nero dentro do presídio — o homem de confiança, os olhos e os ouvidos do rei entre as celas. Nada acontecia ali sem que Nero soubesse. Nero se levantou, caminhou pelo corredor principal e foi para uma das celas comuns. Minutos depois, o som dos portões se abrindo ecoou pelo bloco. Os dois homens foram empurrados para dentro da cela — Um a.busou de uma menina de doze anos. O outro, de uma de quinze. A justiça dele não precisava de juízes. Todos ali já sabiam: o julgamento de Venal. Nero se sentou em sua cadeira — tinha uma em cada canto daquele presídio, até a fachada do lugar era escolha dele.. . Acendeu um cigarro e ligou a música que sempre usava nesses momentos: um violino lento, quase melancólico, que contrastava com o que estava prestes a acontecer. No submundo, havia crimes que podiam ser negociados, mas outros eram imperdoáveis. Para Nero, tocar em crianças ou adolescentes era o limite que ninguém ultrapassava. Ali dentro, ele era a lei, e a lei tinha um preço alto. A ordem foi dada em silêncio, um gesto de cabeça, e os outros presos entenderam o recado sem que fosse preciso uma palavra sequer. Foram despidos, dez presos e foram obrigados a fazer s£xo or@l em todos.. A bagunça só acabou quando a troca de turno acabou.. Os dois homens foram levados para as celas que eram realmente deles, ali não se m@tava estupr@dores, não, o que se fazia era atormentar a vida deles, não suportando se mat@vam. Nero apagou o cigarro e voltou para a sua cela-mestre. O telefone.. — Fale. Do outro lado, a voz do advogado soou hesitante, mas animada: — Senhor,... Está livre. A decisão saiu. Estou chegando em meia hora. Nero se recostou na cadeira, um sorriso discreto surgindo no canto da boca. — Não precisa vir. Ligue e mande trazer um dos meus carros. O advogado hesitou, tentando amenizar o nervosismo. — Ainda se lembra como dirige? — Claro — respondeu Nero. — Quem você acha que ganhou as últimas corridas da rua? Do outro lado da linha, o silêncio foi imediato. O advogado percebeu que seu cliente possuía mais privilégios e poder do que qualquer um imaginava, as corridas de ruas eram famosas, e a estrela principal usava uma máscara no rosto, era Nero que saia da cadeira para correr... O advogado esligou e fez exatamente o que lhe foi ordenado.Desligou o telefone com a mesma pergunta fervendo em sua mente: quem, de fato, era aquele homem? Ninguém sabia o que realmente tinha acontecido no passado de Venal. O que se comentava era o suficiente para alimentar lendas — que fora condenado por m***r a própria mulher, que o crime fora brutal. Dionísio dizia que o irmão era inocente, mas como acreditar? Como um monstro grego poderia ser inocente? Só o tempo — e o sangue que ele traria de volta às ruas — mostraria a verdade. 🏛️🏛️🏛️🏛️🏛️🏛️🏛️ A Chegada Dafne estava deitada quando ouviu a movimentação. O som de vozes, o ruído dos carros no portão, os passos apressados pelo corredor. Sabia o que era. Sabia que ele tinha chegado. O coração bateu mais rápido, mas ela permaneceu imóvel. A respiração curta, o olhar fixo no teto, tentando se convencer de que o p.ior ainda podia ser evitado. A porta,Dionísio apareceu à beira do quarto, apoiado no batente, o olhar pesado. — Vem jantar. — Estou sem fome. — Dafne. — Ele deu um passo à frente, a voz firme, mas sem paciência. — Por favor, me obedeça. Ela se virou um pouco, o rosto pálido à meia-luz. — Me deixe aqui. Não estou bem. Ele a observou em silêncio por alguns segundos. — Tem certeza de que não está bem? Ou está fingindo pra me manter longe? — Não estou bem, Dionísio. — A voz dela m.al saiu. Ele suspirou, passou a mão pelos cabelos e deixou o quarto sem dizer mais nada. A porta bateu leve. Dafne permaneceu imóvel. Ouvia ao longe as conversas dos homens, o som dos passos no piso de mármore, uma música tocando baixo — e depois, o silêncio absoluto. Ela se encolheu, sentindo o corpo pesado, a mente confusa.Rezou baixinho, pedindo que tudo ficasse bem, que o inferno não começasse naquela noite. Mas quando fechou os olhos, uma sensação fria atravessou o corpo.Sabia que o rei já estava em casa, e não sabia porque tinha tanto medo dele, tanto. Ficou ali até o sono vencê-la, o corpo cansado e a mente em desordem.Quando acordou, horas depois, uma dor incômoda latejava na região da barriga. Sentou-se devagar, respirando fundo, e tomou um comprimido para dor. Foi até a janela. Lá fora, sob a luz fria da madrugada, viu um carro preto enorme estacionado diante da casa.O coração dela falhou por um instante. Era o carro de Nero. Ficou parada, observando o reflexo das luzes sobre a lataria escura, sentindo o medo se espalhar feito febre. Voltou para a cama, mas não conseguiu dormir. A corpo todo doia .. Tomou mais dois comprimidos, sem pensar, buscando apenas silenciar o que sentia.Deitou-se de novo. O quarto girava devagar, e o som distante da noite se misturava ao peso das lembranças. Logo, tudo ficou quieto. E Dafne apagou, sozinha, cercada pelo mesmo silêncio que antecede a tempestade.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD