A casa estava silenciosa, mas o silêncio não era tranquilo — era daquele tipo que pesa, como se as paredes estivessem guardando as palavras amargas trocadas minutos antes. Eu estava sentado no sofá da sala, o celular largado sobre a mesa de centro, sem paciência pra olhar nada. O único som vinha do tique-taque preguiçoso do relógio na parede. Escutei passos na escada. Sabia que eram dela antes mesmo de vê-la aparecer no último degrau. Isadora vinha de moletom cinza e cabelo solto, ainda com a expressão carregada de raiva. Ela parou na metade do caminho até a cozinha quando me viu. — Achei que já tivesse se recolhido — ela disse, seca. — E eu achei que já tivesse se trancado no quarto pra planejar a próxima forma de me irritar. Ela revirou os olhos, suspirando com impaciência. — Enzo, a

