Capítulo I-2

2002 Words
– Para que nosso filho esteja bem não é necessário que jantemos juntos – criticou. Desde que voltou Breno a convidava para jantares e sempre usava o filho quando percebia que ela recusaria. – Além do mais, o Lucas já se acostumou com a separação, que não aconteceu ontem, como você faz parecer, mas há muito tempo. – Amanda estava indignada com o fato de ele só se preocupar com o bem-estar da criança agora que voltara sozinho, sem ninguém o esperando. – Você é muito rancorosa Amanda. Deveria se colocar um pouco no lugar das pessoas. – Ela ficou tão admirada com aquele comentário que fez ar de riso. – Tudo bem! – Ele continuou colocando as mãos dentro do bolso da calça. – Eu não vou mais insistir, por enquanto. Você precisa ter seu tempo. – Ele concluiu fazendo Amanda ignorar cada palavra dele, pois duvidava que pudesse ser tão fácil. – Vamos mantendo contato e quero que saiba que meu único desejo é ter minha família de volta, como era nos velhos tempos. – Isso você jamais conseguirá Breno. Não se reconstrói um cristal quebrado, por mais que desejemos. – Ela sabia bem disso. – Até mais querida. – Ele disse pegando na mão dela dando-lhe um leve beijo antes de partir. Amanda olhava para sua mão caída imaginando como algumas pessoas eram capazes de mudar em dias suas condutas e palavras em prol de um objetivo próprio. Breno parecia outra pessoa, embora continuasse com a mesma arrogância de sempre e que ela só percebera após a separação. – Tudo bem com você Amanda? – perguntou sua assistente que estava na sala ao lado. – Está tudo bem Carol, obrigada! – aproximando-se ela continuou. – Não sei mais o que fazer para me livrar das investidas do Breno, isso já está me cansando muito – explicou com o semblante contrariado deixando Carol preocupada. – Aceite a proposta do Antônio – disse Carol que era a grande confidente de Amanda e sabia de todos os problemas que ela passava com o ex-marido. Elas se conheciam desde os tempos de primário e sempre estiveram próximas, mesmo quando Amanda estava casada. Vendo Amanda derrotada ficou preocupada. Esse poderia ser o golpe de misericórdia que o ex-marido de sua amiga esperava para ganhar a batalha. – Não posso aceitar. – Amanda falou pensando no quanto constrangedor seria para ela e Antônio. – Não seria justo com ele, ou melhor, com nenhum de nós – falou pensativa. – Foi ele quem se ofereceu para ajudar você. Isso quer dizer alguma coisa – sugeriu a moça categórica. – Foi num momento impensado. Ele não refletiu antes de fazer a oferta – falou Amanda fazendo Carol perceber que sua patroa-amiga estava irredutível e por isso não enxergava o óbvio. – Você não tem alternativa, tem? – perguntou a garota tentando a todo custo abrir os olhos da amiga. – Ainda não, mas vou pensar em algo. – Amanda procuraria outro meio menos complicado. Ainda não tinha nada em mente, mas preferia acreditar que surgiria outra solução que não comprometesse a amizade dela e Antônio. – E se não encontrar nada que possa ajudá-la. Correrá o risco de ser laçada pelo seu ex novamente ou perder a guarda de seu filho? – Amanda refletiu sobre o que a amiga disse e ficou tensa ao pensar que ele poderia querer a guarda da criança. Breno não teria coragem de fazer isso depois de ter abandonado o menino após a separação, ou teria? – Não há a mínima possibilidade de eu voltar a ser laçada por ele, como diz você. – A moça olhou para Amanda com um enorme sorriso. – Quanto a ele querer a guarda do Lucas, não acredito que levaria isso até o fim, Breno não conseguiria viver com uma criança o tempo todo dependente dele. – Ela preferia pensar que o ex-marido continuava avesso a crianças pequenas. – É um risco que você terá de correr se não se resolver logo. – Há riscos que não compensam os transtornos que trazem. Sou uma mulher cautelosa e prefiro continuar assim. – A conversa parecia caminhar para o bate-boca e Amanda não estava disposta a discutir com sua insistente e querida funcionária. – Na vida tudo tem um risco e nem por isso devemos cruzar os braços e deixar de viver algo que pode sim ser bom. – observando sua assistente falar Amanda percebeu que ela não a deixaria em paz se continuasse recusando a possibilidade de aceitar a ajuda de Antônio. – Tudo bem! Eu irei pensar a respeito. – Ela disse vendo um leve sorriso de satisfação no rosto da amiga. – Mulher sábia! – respondeu Carol quando Amanda estava saindo para ir embora. Em casa Amanda pensou sobre o assunto com mais clareza. Era sim uma atitude drástica, porém se estivessem certos seria por pouco tempo e não poderia trazer tantos danos a um deles como ela pensava. Eram adultos e sabiam até onde poderiam ir, ou não? O medo tornou a rondá-la levando por terra toda a sua pouca confiança. Aquela oferta de Antônio era absurda e Amanda ainda custava a acreditar que tivesse sido dele. “Seu braço direito, e talvez o esquerdo, estava precisando mesmo era de uma namorada.” pensou ela rindo. Desde que se conheceram Amanda nunca vira Antônio com alguém. Ele se dizia muito ocupado, mas Amanda pensava que um dos motivos era o fato de que ambos eram muito próximos e isso afastava as mulheres. Mas independente de ele estar disposto ou não a ter um relacionamento com alguma pessoa, Amanda não tinha o desejo de atrapalhar a vida dele. Seria injusto ela pensar apenas em si. Chateada por não se decidir a qual rumo tomar, Amanda foi para o banho tentar refrescar o corpo e a cabeça. Quando estava retornando para o quarto o telefone tocou. – Alô! Você está em casa? – perguntou de maneira gentil. – Sim estou em casa. – Ela respondeu aliviada por ouvir aquela voz confortante. – Liguei na loja, a Carol me disse que você havia ido para casa. Resolvi entrar em contato para saber como você está. – Ele explicou. “Ele não existia”, pensou ela feliz. – Obrigada pela preocupação, mas estou bem – agradeceu. – Você quer jantar comigo amanhã? – perguntou Antônio casualmente. – Aceito! – Ela disse e acabou que ambos estranharam a resposta pronta dela, Amanda percebendo seu erro quis se justificar. – É que o Breno me convidou mais uma vez para jantar e eu disse que teria um compromisso, você me salvou dele. – Amanda o ouviu sorrindo e ficou menos tensa por seu ato impensado que poderia tê-lo feito acreditar que estava querendo se jogar em seus braços. – Está vendo, sou seu anjo da guarda, quer você queira ou não – disse Antônio, mas ela já sabia disso, há muito tempo ele se tornara isso e muito mais. Por esse motivo o medo de estragar a bela amizade que construíram a perturbava tanto. – Eu sempre soube disso. – Ela falou o que pensara há pouco. – Você é sem dúvida único – finalizou. – Você também é. – foi a resposta dele. – Você tem tido notícias do Lucas? – perguntou Antônio mudando o assunto, pois ele fora passar as férias escolares com seus avós maternos. – Sim. Falo com ele todos os dias por telefone ou pela webcam. – Ela informou. – Quando falar com ele novamente diga que estou com saudades – pediu Antônio, pois a criança havia se tornado para ele tão importante quanto Amanda. Antônio não se imaginava sem ambos em sua pacata vida. – Eu direi – disse Amanda que sempre seria agradecida pela amizade que ele tinha com seu filho. – O Lucas também deve estar com saudades, sempre que falo com ele pergunta por você. – Todas as vezes o pequeno falava de Antônio, o que não acontecia em relação ao pai. – Ele é um garoto especial e seria um prazer ajudá-los por isso – concluiu Antônio fazendo Amanda entender a mensagem, mas ela não estava pronta para uma resposta. Falaram-se por mais alguns minutos e se despediram deixando o jantar confirmado. Quando Amanda voltou ao quarto lembrou-se do dia em que Antônio se ofereceu para ajudá-la. Ele havia chegado a sua casa no final da tarde, como fazia com certa frequência, só que lhe vendo chorando quis saber o motivo. – Quem foi o louco que causou essas lágrimas? – perguntou carinhosamente tirando uma lágrima dos olhos dela com a ponta o dedo. Como Amanda não era acostumada com tanto zelo apegou-se a ele ainda mais. – O pai do meu filho, do qual lhe falei que não me deixa em paz. Ele quer uma reconciliação a qualquer custo. Para conseguir seu objetivo ele está usando nosso filho e isso me chateia um pouco. – Ela explicou porque não era fácil ver o Breno usando a criança para ter o que desejava. – Não precisa sofrer por isso querida. Diga a ele que o tempo de vocês já passou e pronto, ele irá desistir de vocês como fez no passado. – Antônio explicava com a maior naturalidade e ela queria acreditar naquela possibilidade, mas algo lhe dizia que ele iria além. – Não são todos os homens que possuem o seu caráter Antônio. Há muitos por aí usando de artimanhas para segurar suas mulheres. Desde financeira até emocionalmente. Não é mais trunfo das mulheres apenas usar desses recursos. – Mas essa é a prova maior de que esse sujeito não merece ter você ao lado dele. Uma pessoa que aceita a outra consciente de que é sob pressão não sabe o significado da palavra amor ao próximo e muito menos a si mesmo. – Ele falou contrariado. – Eu acredito que seja esse o problema do Breno. Ele não possui sentimentos próprios. – Mas ele deixou alguma coisa subentendida que a esteja preocupando? – Ele quis saber. – Breno poderá tentar ficar com a guarda do nosso filho. – Ela respondeu muito triste e a dor em seu rosto o estava fazendo sangrar por dentro. – Ele disse que lutaria pela guarda do Lucas? – perguntou Antônio incrédulo, pois ele sabia que Amanda fora mãe e pai da criança. – Ele ainda não disse assim claramente, mas tenho medo que quando perceber que não terá o que deseja queira se vingar e recorra à justiça para esse fim. – Ela declarou. – Não acredito que seja tão fácil ele conseguir isso. – falou Antônio observando o rosto sofrido dela. – Você certamente continuará sendo a responsável pelo Lucas, pois é assim que tem que ser. – Ele parecia irredutível com aquela insegurança dela. – Ele tem muita influência aqui em Rio Verde e nós sabemos que isso pode contar muito. – Ela reclamou quase em lágrimas novamente. – Não se preocupe, nenhum juiz em sua consciência irá tirar o filho de uma mãe como você. – Antônio tentou confortá-la. – Ele tem melhor condição financeira que eu. Se quiser terá mais tempo para estar com o Lucas. Embora eu tenha certeza que ele não se importaria em ficar com o filho. Nunca se importou. – Amanda relatou lembrando-se de como Breno era seco com a criança quando viviam juntos. Ele nunca estava disposto a se sentar e brincar com seu filho. Breno não aceitava o fato de ser pai. Isso ele deixou claro nos nove meses de gravidez de Amanda. Para piorar a situação ele a fazia se sentir culpada por ficar grávida na troca de remédio e não quando ele estivesse interessado. Fora um período difícil, mas o amor que Amanda sentia pelo marido a ajudou a passar por aquela fase difícil. Até que um sentimento ainda mais belo nasceu e ela se viu a mais feliz de todas as mulheres. Era mãe e isso lhe bastava até aquele dia em que o encontrou transando com outra.
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