A casa tava em silêncio, como se o morro tivesse prendido a respiração junto comigo. A minha mãe ainda não tinha voltado da vigília da igreja. Eu devia estar dormindo. Mas não. Tava ali, virada pro teto, com o ventilador soprando mais barulho que vento, e o celular preso na minha mão como se fosse veneno.
Duas da manhã.
Desbloqueei a tela só pra checar a hora. Foi só isso, eu juro. Mas tava lá. Kauê. Um nome curto, grosso, pesado igual o dono.
"Fala a real... tu pensa em mim?"
Três pontinhos brilhavam logo abaixo. Ele tava digitando. Parou. Sumiu.
Meu coração bateu errado. Apaguei a notificação antes de ler de novo, mas era tarde demais. Eu já tinha gravado.
Me virei na cama, tentando me convencer que era só fogo. Que ele tava bêbado, cansado, carente. Que era só ego ferido porque me
