CAPITULO 29

1221 Words
DANTE MANCUSO POV Afundei na cadeira, levando as mãos à boca, pressionando os dedos contra os lábios, como se isso pudesse me impedir de explodir. Mas o calor subiu pela minha espinha. O peito inteiro parecia prestes a arrebentar.Meus olhos arderam. O que diabos era aquilo? Que p***a era aquele nó no meu peito? Catarina permaneceu imóvel. Fria. Implacável. Mas eu a conhecia. Sabia que cada fibra do corpo dela queimava. Sabia que ela sentia meu olhar atravessando aquela parede. Sindy deslizou o oxímetro no dedo de Catarina. Depois o tensiômetro no braço. — Pressão baixa. — Murmurou. — Está se desidratando. — Olhou diretamente para Catarina. — Se não começar a se alimentar, isso não vai acabar bem. Nem pra você. Nem pro bebê. Catarina virou o rosto. Firme. Silenciosa. A enfermeira desligou o monitor, limpou o gel da barriga dela, e voltou a guardar os equipamentos. Eu não consegui me mover. O sangue parecia ácido nas minhas veias. Não havia mais espaço para dúvida. Para suposição. Para qualquer p***a de desculpa. Ela carregava meu filho. Então veio uma necessidade doentia de abrir aquela porta, arrancar aquelas algemas e... E o quê? Jogá-la contra a parede? Tomá-la nos braços? Beijá-la até que ela esquecesse do mundo? Ou sufocá-la por ter me escondido isso? Talvez tudo isso. Talvez mais. E, de repente, a obsessão mudou de forma. A raiva deu lugar a outra coisa. Algo mais primitivo. Mais sombrio. Mais perigoso. Se alguém encostasse um dedo nela... se alguém ousasse sequer olhar torto pra ela... eu destruiria tudo. Roma. Nova York. O mundo inteiro. Eu me levantei lentamente, olhando para o monitor. — Cristo... — sussurrei. — Você nunca facilita, Bambi. Meu corpo inteiro vibrava. Como se, de repente, tudo no mundo se alinhasse para uma única verdade: Se ela achou que poderia fugir de mim… estava prestes a descobrir que, dessa vez, eu não ia deixar. Nem ela. Nem nosso filho. *** Assim que a porta do quarto se abriu, eu já estava lá, encostado na parede, braços cruzados, esperando. Sindy saiu ajeitando os papéis na prancheta, enquanto o meu homem carregava sua maleta médica. — Fiz os exames e... — começou. — Eu escutei tudo. — Interrompi, minha voz mais afiada que uma lâmina. — Cada batimento. Cada palavra. Ela levantou o olhar, os olhos verdes me fitaram sem um pingo de medo. Fria. Profissional. — Ótimo. — Respondeu. — Então também ouviu quando eu disse que, se ela não se alimentar, vai perder o bebê. A desidratação dela já está em um ponto crítico. E... — apertou a prancheta contra o peito — isso não é uma ameaça vazia. É fisiologia, Don...? — Mancuso. Inclinei o queixo, analisando cada detalhe dela. Forte. Direta. E, mais do que tudo, útil. — Isso... — fiz um gesto preguiçoso com a mão — não vai ser um problema. Eu mesmo vou providenciar. O que eu preciso agora... — Cruzei os braços e inclinei o corpo levemente para frente. — É saber o seu preço. Ela arqueou uma sobrancelha, desconfiada. — Meu... preço? Assenti, devagar, cruzando o olhar com o dela. — É. Seu preço. — Afirmei. Ela apertou os olhos, processando. — Eu já fui paga pela consulta. Inclinei a cabeça, sorrindo de lado, como quem observa um jogo fácil. — Não estou falando da maldita consulta. — Minha voz saiu mais baixa, ameaçadora, controlada. — Estou falando do pacote completo. Cuidados intensivos. Integral. Diurno. Noturno. Vinte e quatro horas. — Dei um passo para frente, cada palavra carregada de intenção. — Todos os dias. De forma intensiva. E se for preciso... — olhei na direção do quarto onde estava Catarina — até o parto. Sindy cruzou os braços agora. Jogou a prancheta debaixo do braço. — E quem te disse que você pode pagar por isso? Sorri. Um sorriso lento. Letal. — Dê o preço. — Disse, seco. Ela respirou fundo, encarou-me como quem mede um oponente. — Vai custar caro, Don. Muito caro. — Disse, apertando o maxilar. — E eu não estou falando só de dinheiro. Eu vou precisar de equipamentos. Monitor fetal contínuo. Oxigênio. Bombas de infusão. Medicação de suporte. Ultrassom portátil. Kit de emergência neonatal. E... — respirou mais uma vez — se ela for parir aqui, eu vou precisar transformar pelo menos um cômodo em uma sala de parto. Estéril. Completa. Isso não se improvisa em qualquer canto. Inclinei a cabeça, absorvendo tudo. — Isso logo será um problema a menos. — Minha resposta foi seca, cirúrgica. — Você cuida dos detalhes médicos. Eu cuido do resto. Sindy apertou os olhos, avaliando, buscando entender quem eu era além do homem perigoso diante dela. Mas a resposta era simples. Eu era um Mancuso. Eu fazia o impossível se curvar. Ela respirou, derrotada pela lógica. — Tudo bem. — Cedeu, mas não sem antes manter aquele olhar de quem não baixa a guarda nem por um segundo. — Mas, antes de qualquer coisa, ela precisa começar a se hidratar hoje. Agora. Ou... — seu tom ficou mais sombrio —... nem você, nem dinheiro algum vão conseguir salvar esse bebê. — Isso... — Olhei por cima do ombro, fazendo sinal para um dos homens. —... eu resolvo agora. Então me virei para ela. — Vai com ele. — Apontei o queixo para o capanga que já aguardava ao lado. — Ele vai te levar. Compre o que precisar. Traga quem precisar. Instale o que for necessário. Não me importa o preço, Sindy. — Dei mais um passo, ficando a centímetros dela. — Se esse bebê morrer, você morre. — Sorri. — Mas se ele nascer, viva e saudável... — toquei no queixo dela, leve, só para marcar território —... eu te pago o suficiente pra você nunca mais trabalhar na vida. Ela me olhou, imóvel. Nem medo. Nem desafio. Só... aceitação. Profissionalismo. — Feito. — Disse ela, seca. Assenti e me virei, caminhando de volta em direção ao outro corredor. Enquanto Sindy e o capanga se afastavam, já entrei de volta no QG improvisado, onde os monitores brilhavam. Meus olhos voaram direto para a imagem de Catarina. Ela ainda estava acordada. E fraca. Mas viva. Parei na porta, olhei para um dos meus homens. — Algum desses quartos tem cozinha? O homem franziu a testa, meio sem entender. — Cozinha, Don? — Sim. — Cruzei os braços. — Fogão. Panela. Geladeira. Cozinha. Ele se ajeitou. — Tem, sim. A suíte presidencial, no final do corredor. Tem cozinha completa. Assenti. — Perfeito. — Estalei os dedos. — Quero ela limpa. Funcionando. Quero todos os ingredientes que puderem comprar. Carne, legumes, frutas, ovos, farinha, leite. Tudo. E agora. O homem arregalou os olhos. — Pra... pra fazer o quê, Don? Inclinei o queixo, aquele sorriso lento subindo nos lábios. — Para fazer comida. Ele piscou, sem entender. — Comida? — Isso. Comida. — Cruzei os braços. — Você nunca cozinhou por alguém, garoto? O capanga balançou a cabeça, atônito. — Nunca precisei, Don. — Pois é. — Suspirei, olhando de volta para os monitores, para ela. — Eu também achava que nunca ia precisar. Mas lá estava eu. O homem que destruiu cidades, derrubou famílias, silenciou impérios... Agora, prestes a acender uma boca de fogão... por ela. Por nós. Por aquela vida que ela carregava dentro dela.
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