LELEU NARRANDO Boca tava naquele pique: rádio chiando baixinho, moleque indo e voltando com sacola, dinheiro do recolhe contado na régua, fumaça de churrasquinho vindo da viela. Brasa no canto dele, sentado na cadeira de plástico que ninguém mais encosta, boné baixo, olho fazendo ronda sem sair do lugar. É o jeito dele: parece que tá parado, mas tá mapeando tudo. — Fala tu, chefe… — cheguei já no papo torto. — Sábado tem baile do Mandela, edição pesada. Palco 360, luz, DJ do Complexo, set de pagode no meio… bora dar as cara? Fazer moral, matar saudade daquele teu primeiro pagode com a Sol, lembra? Ele nem levantou o olho. — Não. — Pô, Ítalo… — sentei de lado, girando a moeda no dedo. — Vai ser maneiro. A galera tá na fome de te ver desenrolado, igual aquele dia. A gente bota teu quadr

