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BRASA NARRANDO Desci pelo corredor sem pressa. O cheiro de gasolina ficou grudado na roupa, no cabelo, na alma. Cada passo ecoava seco, como se o chão soubesse que tava levando embora o dono do inferno. No espelho do elevador, vi meu reflexo: boné baixo, óculos escuro, jaqueta pesada. Um homem qualquer, saindo do hotel como se fosse só mais um turista. Quando a porta abriu no térreo, o hall já tava um caos pequeno crescendo. Gente entrando e saindo, malas arrastando, perfume misturado com o começo do pânico. Cruzei o saguão sem levantar a cabeça, só sentindo o calor lá de cima começar a descer. Foi aí que ela apareceu. Cabelo loiro, saia justa, taça de champanhe na mão, Letícia, a boneca que vivia pendurada no pescoço do Roberto. Passou por mim devagar, olhou como se tivesse achado prê

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