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1015 Words

ROSA NARRANDO Encontro o Márcio lá fora, encostado na mureta da calçada com a trena pendurada no bolso e a mochila de ferramenta no pé. Ele levanta o queixo, educado, aquele “bom dia, dona Rosa” que já chega tirando um pouco do peso do peito. Eu respondo baixinho, com respeito também. Tenho receio de encostar — não nele, exatamente… no gesto. Mão dada sempre me lembra outras mãos que já me apertaram demais. Ele percebe que eu fico na dúvida e não força. Só inclina o corpo, sorriso pequeno no canto. — Podemos entrar? — pergunta, calmo. Faço que sim e abro o portão. A casa respira fundo quando a gente atravessa. É estranho. Esse lugar já me viu de joelho rezando, já me viu encolhida no canto do corredor, já me viu achando que nunca mais ia rir. Hoje, pela primeira vez em muito tempo, ele

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