BRASA NARRANDO Apaguei num sono torto e acordei com o olho ardendo, garganta seca e a cabeça martelando lembrança. Não acordei Brasa, não. Acordei Ítalo — o moleque que eu enterrei pra virar pedra. Deitei de lado, puxei o lençol pro queixo e a memória me puxou pelo colarinho, sem pedir licença. Eu já tava no corre, novo ainda, mas já com rua na sola. Cheguei no portão e o som veio primeiro: prato estourando, cadeira arrastando, a voz da minha mãe presa no choro — “para, por favor…”. E a outra voz, grossa de cachaça e pó, o riso torto do meu pai quebrando a casa que ele nunca construiu. Eu fiquei parado três segundos, o coração no pescoço. Três segundos é muito. Entrei. Por dentro parecia guerra: copo no chão, armário cuspindo louça, a foto antiga torta na parede. Ele tava bêbado daquele

