DÁRIO NARRANDO A lembrança que eu tenho daquele dia é som e chão. Som de rádio estourando no beco, grito curto, e o chão batendo na minha cara quando eu rolei a escada. Tomei chute no rim, tapa de mão aberta pra humilhar, bicuda no peito. Eu nem via mais quem era quem, só sentia o peso de uns quatro em cima de mim e a voz dele por cima de tudo, fria, sem pressa: “Desce. Some. Aqui tu não pisa mais.” Brasa. Nome de fogo. Eu fui cuspindo sangue até o pé do morro. Ninguém me olhou duas vezes. Quem cai, vira poste quebrado: a cidade desvia e segue. Depois disso virei rua. Bar foi meu ponto, calçada minha cama, ficha minha melhor amiga. Fiquei um tempo batendo cabeça pela Zona Norte, enchendo a cara em birosca de porta meia, trocando ferramenta velha por dose, fazendo bico de ajudante um dia

