Valentina . . .
Bom, nem sei como começar a falar da minha vida. Sou estudante de medicina, perdi minha mãe há um mês e, desde então, sou obrigada a conviver com meu padrasto drogado, apanhando e sendo forçada a fazer as coisas para ele. Enfim... essa é a minha vida resumida.
Acordo às 6 horas com a porcaria do despertador tocando, aquele treco do capeta. Levanto no maior ânimo... viram a ironia? Tomo um banho rápido, porque quero sair de casa o quanto antes para não dar de cara com o meu padrasto.
Termino o banho, visto uma roupa, pego minha bolsa e o celular. Quando desço as escadas, dou de cara com ele subindo, nervoso. Achei estranho, até porque ele nunca perde a oportunidade de me xingar ou me bater. Mas quem sou eu pra reclamar? Melhor assim.
Pego uma maçã e sigo para a faculdade.
[...]
Trinta minutos depois, já estou na faculdade. Olho para o portão e vejo o meu bebê. Saio correndo e pulo no colo dele.
Oliver: Misericórdia, Valen! O que aconteceu? Que alegria é essa? – ele pergunta, já que sempre chego sem ânimo.
Eu: Foi estranho... eu estava descendo pra comer quando dei de cara com meu padrasto. – ele me olha assustado, porque sabe o que eu sofro. – Calma, ele não fez nada, por incrível que pareça. Só me olhou como se algo o preocupasse e subiu sem falar nada, nem me tocou.
Oliver: Que bom, né? Mas isso é bem estranho. Bom... hoje vou poder ir na sua casa depois da escola pra ver Netflix?
Eu: Claro! Agora vamos, que já está na hora.
Fomos em direção à nossa sala. A aula até que foi legal, teve prova surpresa e, para minha própria surpresa, consegui gabaritar.
Quando acabou, saímos correndo para a saída.
Oliver: Finalmente! Tô morrendo de fome. – fala passando a mão na barriga.
Eu: Só pensa em comida. – digo rindo da cara dele. Fomos até o Uber que já nos esperava e passamos o caminho todo conversando.
Eu: Então... você pegou a Lídia?
Oliver: Que nada, o puto do Lucas atrapalhou tudo. – começo a rir e percebo que já chegamos. Pago o motorista e descemos, ainda rindo.
Entro em casa e vejo meu padrasto conversando com um menino loiro. Ele parecia preocupado e calmo ao mesmo tempo. Não notaram nossa presença e Oliver logo me puxou.
Oliver: O que tá acontecendo? – cochichou no meu ouvido.
Eu: Não sei... – respondi, e logo escutamos o loiro falar.
Xxx: Eu esperava tudo de você, menos entregar a sua própria filha.
Olhei para Oliver e ele ficou tão assustado quanto eu.
Rodrigo: Ela não é minha filha. Podem levar, já vai tarde!
Eu e Oliver gritamos sem pensar:
Nós dois: Como?!
O loiro parecia ter pena de mim.
Eu: Do que você tá falando? Eu não vou a lugar nenhum! – falei já desesperada.
Rodrigo: Eu te vendi a eles. Você é um peso na minha vida e vai pagar minhas dívidas.
Eu não acreditava no que ouvia. Oliver tentou avançar nele, mas o loiro o segurou.
Xxx: Eu juro que não queria fazer isso, mas só tô cumprindo ordens. E você, rapaz, é melhor se acalmar.
Oliver: Me acalmar?! Esse filho da p**a vendeu minha melhor amiga e você quer que eu me acalme?!
Eu já chorava, desesperada. Eu não queria essa vida.
Eu: Eu não quero ir! Me deixa ficar com meu irmão em Londres, por favor. Não me leva! Eu não tenho culpa das ações dele!
Xxx: Me desculpa, mas eu não posso desrespeitar ordens. Não vou te machucar. Meu nome é DT. Acho melhor irmos logo, porque se o Terror aparecer vai ser pior.
Eu / Oliver: Terror... o dono do Alemão?!
DT: É. Então facilita meu lado, pega suas coisas e vamos.
Subi correndo e me tranquei no quarto, chorando. Por que tudo acontece comigo?
Aproveitei que eles estavam lá embaixo e liguei para meu irmão.
Ligação on
Miguel: Oi, maninha.
Eu: Não deixa eles me levarem, por favor!
Miguel: Valen, você tá chorando? O que aconteceu?
Eu: Aquele desgraçado me vendeu... não deixa eles me levarem!
Miguel: Filho da p**a!
Eu: Eles estão subindo, por favor...
Ligação off
Desliguei antes que me vissem. Logo Oliver entrou junto com o tal DT. Oliver já chorava e veio me abraçar.
Oliver: Eu não quero que você vá.
Eu: Muito menos eu... eu vou poder continuar a faculdade? – perguntei ao DT.
DT: Olha, sendo sincero, não faço ideia. Só me mandaram aqui.
Oliver: Eu vou poder visitar ela, pelo menos?
DT: Só com permissão, mas eu posso dar um jeito. Agora vamos?
Sem ter solução, peguei minha caixa de recordações, onde guardo as coisas da minha mãe, do meu irmão e da Lu... esquece.
Eu: Vamos. – desci com Oliver me abraçando e vi Rodrigo rindo da minha cara.
Rodrigo: Saiba que eu não me arrependo do que tô fazendo.
Naquela hora, a raiva me consumiu. Tentei avançar nele, mas me seguraram.
Eu: Sabe qual é o seu problema? Você não ama nem a si mesmo! Tava com a minha mãe só pelo dinheiro dela. Achei que ninguém superaria meu pai, mas você é tão pior quanto. Enganou minha mãe todo esse tempo, mandou meu irmão estudar longe só pra me ter como escrava. – falei já em lágrimas, com ódio nos olhos. – Eu não sou mercadoria! Eu vou, mas pode ter certeza: na primeira oportunidade, você não sai ileso.
Rodrigo: Seu pai fez pouco. Eu teria matado ela... e você. – cuspiu as palavras na minha cara.
Senti meu corpo gelar. Oliver percebeu e me abraçou forte.
Eu: Ela era só uma bebê! Vocês merecem morrer, não são nem humanos! Vamos logo, qualquer lugar é melhor do que perto desse ser. – falei, saindo correndo, em prantos.
Oliver veio atrás de mim. Como as malas já estavam no carro, só levei minha caixa.
Oliver: Eu não vou te deixar, viu, minha Magali. – disse, me fazendo rir de leve. Ele sempre me chamava assim porque eu era fominha.
Eu: Não desiste de procurar ela, por favor. Eu sei que ele não matou. Eu não sei se consigo, mas, por favor... – falei baixo no ouvido dele, para o DT não ouvir.
Oliver: Pode deixar. Eu te amo muito. – me abraçou ainda mais forte, chorando.
Entrei no carro vendo ele ficar. Eu ia embora, chorando sem parar, sem acreditar que aquilo estava acontecendo.
DT: Me desculpa... eu não queria fazer isso com você. – falou, e percebi sinceridade em suas palavras.
Eu: Por que não tá me tratando m*l? Agora vocês mandam em mim, não é? – perguntei olhando para ele.
DT: Só porque eu sou traficante, do morro, e mato quem merece... não quer dizer que eu seja um monstro. Não vou deixar nada acontecer com você. Gostei de tu. E você vai adorar a Alice e a Isabela.
Assenti em silêncio e fiquei olhando pela janela, pensando em tudo que mudaria daqui pra frente...