Capítulo 1. De novo, ela?
O quarto de Mattheo estava mergulhado em uma penumbra pesada. As cortinas escuras não deixavam passar sequer um fio de luar, e o único som que quebrava o silêncio era o da respiração firme e profunda dele. Até que, de repente, os olhos castanhos se abriram, arregalados, o peito arfando como se tivesse corrido quilômetros.
Mais uma vez, ela.
A moça de pele clara, cabelos escuros que caíam em ondas, olhar profundo e misterioso. Às vezes sorria, outras chorava. Mas hoje... hoje, nos sonhos dele, seus olhos estavam marejados, e algo em sua expressão parecia um pedido de ajuda sufocado, mudo.
Mattheo passou a mão pelo rosto, tentando dissipar a sensação que sempre o acompanhava ao despertar.
— Maldição... — murmurou em voz baixa, a voz grave ecoando pelo quarto vazio.
Ele se sentou na beira da cama, a respiração ainda irregular. Seus músculos estavam tensos, como se tivesse estado em batalha. Observador e calculista como sempre fora, detestava essa perda de controle que a figura daquela desconhecida lhe causava. Não fazia sentido. Nunca vira aquela mulher em toda a sua vida, e ainda assim, desde os quinze anos, era como se ela fosse uma sombra constante em sua mente.
Mattheo apoiou os cotovelos nos joelhos, entrelaçando os dedos. O olhar sério fixou-se em um ponto qualquer da parede. Ele não contava a ninguém sobre isso — jamais. Sonhos podiam ser fraquezas, e fraquezas eram perigosas demais.
Ainda assim, algo queimava dentro dele. Por quê? Por que aquela mulher sempre voltava? E por que, ao acordar, a sensação era tão real quanto a própria dor?
Ele se levantou, andando até o espelho que refletia sua figura alta e imponente. Os olhos castanhos encararam a si mesmo, mas no fundo, ainda viam os dela.
— Quem é você? — sussurrou, como se falasse diretamente com a imagem da moça.
O silêncio foi sua única resposta. Mas Mattheo sabia: aquela presença não era apenas um capricho da mente. Era algo maior, e ele sentia que, cedo ou tarde, descobriria.