Mattheo aparatou direto em seu quarto, silencioso. A cidade continuava viva lá fora, mas ali dentro só havia o silêncio pesado e os próprios pensamentos que giravam incessantes em sua mente. Ele se jogou no sofá, os olhos fixos na lareira apagada, tentando processar o que havia acabado de acontecer com Anélisse — ou Catherine, como ainda a chamava para ela mesma.
A lembrança do abraço e da dor súbita compartilhada permanecia vívida, martelando em sua mente. Ele passou os dedos pelos cabelos, franzindo o cenho, mergulhado em especulações e hipóteses:
— Por que ela passa tão m*l… — murmurou, a voz baixa, quase um sussurro — quando tenta se ligar a mim? É algum tipo de feitiço de p******o? Um bloqueio?
Ele fechou os olhos, tentando imaginar todos os cenários possíveis. Um feitiço poderoso, talvez lançado por alguém que a criou ou protegeu, algo capaz de impedir que se aproximasse emocional ou fisicamente de alguém — talvez até para proteger segredos do passado.
— Mas… se é isso, então por que ela não se lembra do passado? — continuou, a mente girando — E por que eu também não lembro dela, se… se nós já tivemos alguma ligação? Ou será que não temos ... E estou ficando louco ?.
A lembrança dos sonhos recorrentes com ela veio em sua mente. Uma conexão antiga, íntima, mas apagada de ambas as memórias conscientes.
— E aquele momento… — disse, a voz grave, quase trêmula — quando ela se aproximou para me beijar… o que teria acontecido se tivesse acontecido?
Mattheo inclinou-se para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos, e fechou os punhos. Ele podia imaginar o toque, a intensidade do momento, a proximidade deles. E uma questão ainda mais inquietante surgia:
— E se o beijo tivesse acontecido… — murmurou, os olhos fixos no chão — será que nós… lembraríamos um do outro? Será que toda aquela ligação antiga voltaria?
O silêncio do apartamento parecia pesar sobre ele. Cada pensamento trazia uma mistura de curiosidade, obsessão e um toque de medo do desconhecido. Ele sabia que o beijo, se tivesse acontecido, poderia despertar lembranças enterradas, emoções reprimidas, memórias que ele ainda não compreendia. E talvez revelasse a verdade sobre a dor que ela sentia, sobre os bloqueios que ainda os separavam.
— Então é isso… — disse, respirando fundo, os olhos fixos no espaço à frente — há algo impedindo nós dois de nos conectarmos… e eu vou descobrir o quê.
Mattheo respirou pesadamente, olhos fechados, se encostou no sofá com a lembrança do rosto de Anélisse, tão próximo, que ele ainda podia sentir o perfume adocicado que ela estava usando. Mattheo abriu os olhos e havia determinação neles, ele se levantou e se dirigiu a seu escritório onde passou a noite olhando, revisando e pesquisando qualquer coisa que pudesse explicar a dor de Anélisse.