Anélisse estava quieta, tentando ser discreta, os passos leves, ela andava de um lado para o outro na cozinha, fazendo panquecas para o café da manhã.
Mas a voz dele ecoou no corredor, vindo em direção a ela.
— Anélisse.
Ela parou.
A respiração prendeu-se no peito.
O pai estava ali, George Tomeras, os braços cruzados, o olhar gélido.
—Viu o herdeiro dos Ross por esses dias ? — a voz dele saiu baixa, controlada.
Anélisse tentou manter a compostura. — Não pai, eu..eu juro que não, Desde o dia..
— Não minta pra mim. — George interrompeu, dando um passo à frente. O som de suas botas ecoou como martelos no chão. — Um elfo disse que você saiu esses dias de madrugada . E voltou horas depois. Então eu vou perguntar uma última vez...
Ele se aproximou até que o ar entre eles ficasse pesado.
— Você estava com o filho dele?
O nome não foi dito, mas ela sabia exatamente de quem ele falava.
O coração dela disparou.
Anélisse baixou os olhos. — Não, pai. Eu não o vi. — Mentiu
Ele analisou o rosto da filha, cada traço, como se pudesse ler a verdade através dos olhos dela.
O silêncio que se seguiu era tão sufocante quanto a própria raiva contida dele.
— Eu avisei o que aconteceria se fosse vista com aquele garoto novamente.
A voz de George era cortante. — Você sabe o que a família dele representa, Anélisse. O sangue que corre nas veias de um Ross não deve se misturar ao nosso. Eu tenho nojo de bruxos como o pai dele.
Ela ergueu o olhar, firme, mas o coração batia forte.
— Ele não é o pai dele.
— Não ouse defendê-lo! — o grito de George ecoou pela cozinha.Por um instante, Anélisse deu um passo para trás, assustada.
Mas a coragem voltou a preencher seus olhos.
— O senhor nem o conhece, papai. Somos amigos desde os oito anos.
O pai se aproximou, ficando tão perto que ela pôde sentir o calor da fúria dele. — Eu conheço o sangue que ele carrega, a maldade que o pai dele instiga, só permiti porque pensei que seriam apenas amigos de infância, ele era apenas uma criança, mas agora não é mais. Não importa, não vou mais permitir que você o veja. — A voz de George era firme.
O silêncio caiu entre eles.
Ela abaixou o olhar, reprimindo o medo e a raiva.
— Posso me retirar, pai? Por favor — perguntou, a voz embargada, mas controlada.
George hesitou por um momento, os olhos estreitos. — Vá. Mas se eu descobrir que mentiu... nem mesmo sua mãe poderá protegê-la.
Anélisse subiu as escadas apressada, o coração pesado.
Quando fechou a porta do quarto, encostou-se nela e respirou fundo, as lágrimas ameaçando cair.
Sussurrou quase sem som, para si mesma.
— Me desculpe, Theo, mas eu tenho que arranjar um jeito de acabar com isso.