A chuva fina da noite escondia os passos de Mattheo, que agora movia-se nas sombras como um fantasma.
O portão da mansão Tomeras estava trancado com feitiços de p******o, mas ele já havia lidado com piores.
Com um sussurro baixo e um movimento ágil da varinha, ele murmurou:
— Aperta Silens.
O feitiço dissolveu o som ao redor dele, abafando o barulho das folhas e da chuva.
A cada passo, o coração batia mais rápido.
George podia estar dormindo ou pior, acordado, esperando por ele.
Mas Mattheo não se importava. Precisava de respostas, e Georgina era sua única chance.
Subiu os degraus laterais até a janela do segundo andar — a janela do quarto da irmã de Anélisse.
Ele se lembrava bem: sempre que visitava a família, via Georgina sentada ali, lendo algum livro ou escrevendo.
Com outro feitiço, a tranca cedeu com um clique suave.
Mattheo se esgueirou para dentro do quarto silenciosamente.
O lugar estava levemente iluminado
No canto, Georgina dormia sobre uma pilha de livros, a cabeça tombada sobre os braços.
Ela era mais nova que Anélisse dois, talvez três anos e tinha os mesmos cabelos castanhos escuros e o olhar atento.
Mattheo se aproximou devagar, tocando o ombro dela.
— Georgina... — sussurrou.
Ela se sobressaltou, erguendo o olhar assustada.
Mas quando viu quem era, a surpresa tomou conta de seu rosto.
— Mattheo?! — ela sussurrou de volta, a voz trêmula. — O que está fazendo aqui? Meu pai... se ele souber que você entrou...
— Eu não tenho tempo pra isso. — Mattheo cortou, os olhos intensos. — Preciso saber onde sua irmã está.
Georgina o encarou, o medo e a dúvida se misturando em seu rosto.
— Eu... eu não posso te dizer. Ele me proibiu de...
— Georgina, por favor. — Mattheo deu um passo à frente, a voz firme, mas não agressiva. — Eu sei que você se importa com ela. Eu também me importo. Ela... ela me deixou uma ligação mágica. Eu consigo sentir quando ela está com medo.
O olhar de Georgina vacilou.
Ela hesitou por um instante, olhando para a porta, depois de volta para ele.
— Ele... mandou ela embora. — murmurou. — Disse que era para os Estados Unidos, mas... ninguém sabe exatamente para onde.
Ela passou a mão nervosamente pelos cabelos. — Eu... eu ouvi ele conversando com um homem... alguém do Departamento Internacional de Magia.
Eles falavam sobre “apagamento seguro” e “nova identidade”.
Mattheo sentiu o estômago afundar.
— Oblivium Mentis...Desgraçado, ele n******e ter feito isso— repetiu em voz baixa. —
Georgina olhou para ele, preocupada.
— O que quer dizer?
— Que seu pai não só mandou ela embora... — ele respondeu, com a voz tensa — como fez ela esquecer quem era.
O ar pareceu pesar entre os dois.
Georgina levou a mão à boca, chocada.
— Isso é impossível... ele não seria capaz de...
— Ele seria sim. — disse Mattheo, a raiva e a tristeza se misturando. — E se ele fez, eu vou desfazer, nem que seja a última coisa que eu faça
Um ruído no corredor fez Georgina empalidecer.
— Meu pai... — ela sussurrou. — Rápido!
Mattheo ergueu a varinha, e com um feitiço de ilusão desapareceu diante dela, como um vulto se dissolvendo no ar.
A porta se abriu em seguida — George apareceu, o olhar desconfiado.
— Está acordada, Georgina? — perguntou ele.
— S-só estava lendo... — respondeu ela, escondendo o nervosismo. — Não consegui dormir.
George a observou por um instante, então fechou a porta e foi embora.
Assim que o som dos passos sumiu, Mattheo reapareceu, ofegante.
— Obrigado. — murmurou. — E... me desculpe por colocar você em risco.
Georgina respirou fundo, ainda assustada.
— Mattheo... se for mesmo verdade o que disse... e se ela esqueceu tudo... como vai encontrá-la?
Ele a olhou, determinado.
— Ela pode ter esquecido... mas eu não.
O feitiço que nos une ainda pulsa.
E nem mesmo a magia do seu pai é forte o bastante pra apagar o que ela e eu somos.
Mattheo então aparata em silêncio, desaparecendo na penumbra da madrugada deixando para trás o eco da promessa que começava a se cumprir.