Mattheo permaneceu sentado na poltrona, o sol da manhã começando a atravessar as cortinas pesadas do seu quarto. Mas ele m*l notava a luz. Seus olhos castanhos permaneciam fixos no vazio, revivendo cada detalhe do sonho. O sorriso dela, o toque delicado, a preocupação silenciosa. Tudo gravado em sua mente com precisão quase dolorosa.
Eu preciso vê-la de novo… — pensou, a determinação crescendo dentro dele como um fogo controlado.
O último sonho não era apenas um eco, não era mera lembrança. Ela cuidara dele, chamara-o pelo nome, sorrira. Mostrara que conhecia algo que ele ainda não entendia.
Mattheo levantou-se devagar, os passos silenciosos sobre o piso de madeira. As mãos entrelaçadas atrás das costas, os olhos ainda fixos na lareira apagada. Pensava nas possibilidades, calculava riscos. Não podia simplesmente abordá-la às cegas. Ela precisava continuar a não perceber sua presença, pelo menos até ele entender o que ela queria.
— Preciso ouvi-la… — murmurou para si mesmo, a voz grave e baixa. — Preciso saber se a voz dela é tão doce como nos meus sonhos..
Ele se lembrou do prédio em Londres.O prédio ,o andar que ela subira, os hábitos que observou de longe ao longo dos dias. Era pouco, mas suficiente para começar.
Mattheo abriu um pergaminho antigo, começou a anotar mentalmente tudo que sabia: horários aproximados, ruas, gestos, pequenas rotinas. Ele precisava planejar, não apenas seguir, ou poderia assustá-la. E se ela fosse uma bruxa, poderia sentir a magia dele — e desapareceria antes que ele tivesse qualquer resposta.
Ele fechou os olhos por um instante, a respiração profunda e controlada.
Cada movimento seria calculado. Cada passo silencioso.
Eu não posso apenas observá-la. Preciso ouvi-la.
Preciso entender quem é. Preciso descobrir por que… por que sonho com ela durante tantos anos, por que aparece, e por que… sempre me chama...
Mattheo respirou fundo, a mente voltando ao foco habitual que ele sempre mantinha em situações de risco. Ele sabia que poderia esperar, observar e analisar sem ser detectado. Mas o d****o de entender, de ouvir a voz dela… isso queimava mais forte do que qualquer estratégia de paciência.
— Hoje à noite… — sussurrou, firme. — Eu vou ouvi-la.
O olhar dele se estreitou, sombrio, determinado. Ele sabia que não seria fácil, mas cada obstáculo apenas aumentava a intensidade da obsessão que sentia por aquela mulher misteriosa.
A noite caía sobre Londres, ruas iluminadas por postes antigos e fachos de luz de vitrines. Mattheo apareceu com um estalo seco em frente ao prédio onde a havia visto anteriormente. O casaco n***o sobre os ombros, a varinha discretamente guardada, ele ficou parado alguns instantes, misturando-se às sombras da calçada.
O coração batia mais rápido do que deveria admitir, mas a mente permanecia fria, calculista. Ele observava o prédio, cada detalhe, cada movimento que pudesse indicar sua rotina.
E então, como que surgida de um sonho, ela apareceu na porta. Ela olhou para ele e, surpreendentemente, sorriu. Um sorriso pequeno, delicado, mas genuíno. Mattheo sentiu um calor estranho no peito. Não podia se deixar levar. Precisava agir com cuidado.
Respirou fundo e tomou uma decisão. Se aproximou, passos medidos, postura relaxada, embora a intensidade do olhar permanecesse.
— Boa noite — disse ele, com a voz grave e baixa, como quem fala com alguém casualmente — estou interessado em alugar um apartamento neste prédio, você saberia me dizer se há alguma vaga disponível?
Ela olhou para ele, educada, curiosa, mas mantendo um sorriso cordial.
— Boa noite — respondeu, mantendo a distância respeitosa. — Acho que há sim. Geralmente o zelador ou a administração do prédio consegue informar melhor. Mas posso te dar algumas informações, se quiser.
Mattheo sorriu levemente, fingindo interesse genuíno, mas cada palavra era medida. Ele estudava cada gesto dela, cada nuance no tom de voz, cada detalhe que confirmasse sua identidade. Ela parecia educada, gentil, mas não havia reconhecimento em seus olhos. Como se não o conhecesse.
Mas ele sabia que era uma atuação. Mas mesmo fingindo.. que voz doce ela tem - pensou Mattheo
— Ah, perfeito — disse ele, aproximando-se um pouco mais, ainda dentro de um espaço seguro. — Eu só queria ter uma ideia de como são os apartamentos aqui. O prédio é bem localizado, bastante movimentado.
Ela sorriu novamente, educada e paciente, falando sobre a vizinhança, os tipos de apartamentos disponíveis, detalhes do prédio. Mas, apesar da cordialidade, havia algo em sua postura que deixava claro: ela não se entregaria. Não agora.
Mattheo manteve-se calmo, absorvendo cada gesto, cada palavra. Cada sorriso, cada frase, era uma pista, uma tentativa de entendê-la sem quebrar a barreira que ela mesma cravou.Ele podia sentir que, por trás da gentileza, havia consciência. Ela sabia de algo — ou pelo menos sentia — mas escolhia não mostrar.
Quando a conversa terminou, Mattheo recuou discretamente, inclinando levemente a cabeça em despedida.
— Obrigado, foi muito gentil de sua parte. — A voz soou firme, mas casual.
Ela respondeu com outro sorriso, e, em seguida, entrou no prédio, desaparecendo da vista dele.
Mattheo permaneceu ali por alguns segundos, o olhar fixo na porta de entrada, absorvendo cada detalhe. Um sorriso frio, quase predador, curvou seus lábios.
— Ela finge muito bem… mas finge. — Murmurou para si mesmo.
E naquele momento, ficou claro para ele: essa seria apenas a primeira de muitas aproximações. Ele precisaria de paciência, astúcia… e precisão.