O DIA QUE EU MORRI

Mas que d***a, isso muda tudo!

Aquele dia mudaria tudo, eu queria mesmo poder chacoalhar Verena e pedir para que ela saísse correndo dali, mas não era possível.

Eu simplesmente não podia interferir, e isso era um saco.

Eu tinha que ficar apenas olhando para ela, olhando enquanto ela cometia o maior erro de sua vida.

Aquele dia seria diferente de todos os outros até o final de sua vida.

- Oi Bom dia filha, mãe e Rutinha eu só vou tomar um cafezinho preto ok?

- Certo Marcos, você sempre diz isso e nunca fica só nisso, então... Você quer um pãozinho na chapa?

- Ah Rute, como você me conhece tão bem? Vou aceitar o pãozinho então...

- Certo.

- Verena minha filha, hoje temos reunião as dez, e temos que passar aquele projeto de concessões ainda hoje, você avançou com isso?

Verena permaneceu em silêncio, era como se sua alma ainda estivesse em sono profundo, ela não estava em sim.

- Verena? Oi, terra chamando Verena!

- Perdão pai, eu não estava ouvindo o que você disse?

- Reunião, concessões... Você realmente não ouviu nada?

- Na verdade não ouvi nenhuma palavra. Hoje não levantei muito bem.

- Você vai conseguir chegar a tempo da reunião? Se não está bem acho que deve tirar um dia de folga...

- Pai, é importante que eu vá? Se for importante eu irei, mas é que hoje... Eu não sei não me sinto eu mesma.

- Então fique filha, você tem se esforçado muito. Eu vou assumir o que tiver lá e pronto, você descansa e faz companhia a sua avó.

- Sinto desapontar vocês que acham que eu não tenho absolutamente nada para fazer durante o meu dia, mas eu tenho um compromisso. Então Vê você ficará bem aqui sozinha?

- Sim vó, eu sei me virar.

- Eu poderia ficar minha linda, mas hoje tenho uma consulta médica – Disse Rute com o olhar triste.

- Meu Deus gente, eu ficarei bem! Eu só acordei indisposta, só isso!

- Tudo bem, mas qualquer coisa você me liga?

- Sim pai, eu ligo para você... Já que eu tenho ainda sete anos não é?

Marcos beijou a testa de sua filha, e se despediu.

Quando estava chegando a garagem para pegar o carro lembrou de algo que tinha que falar para Verena, já que ela é quem ficaria em casa.

- Filha, você consegue acompanhar o serviço do cara que vem limpar a piscina?

 - Claro que sim!

- Filha se quiser eu desmarco... É só que sua tia vem no final de semana, e você conhece ela não é?

- Seu Marcos está tudo sob controle! Agora por favor, OUT!

- Ok, eu já estou indo! Fique bem.

Verena aproveitou o seu day-off, eram tão raros que ela decidiu fazer o mesmo de sempre.

Eu disse para vocês, Verena sofria de uma aguda vontade de não viver, o que me causava raiva latente o tempo inteiro.

Quando o homem que seu pai havia falado chegou, ela caminhou até o portão dos fundos para recebe Lo.

E lá estava ele, cabelos e olhos pretos como a noite, e um ar extremamente altivo. Era bonito, mais do que a maioria, com seu nariz perfeito e seu sorriso alinhado ele cumprimentou Verena no portão.

Parecia audacioso demais para ela.

Mas a hora que ela o viu, sentiu uma sensação que nunca havia sentido enclausurada em seu castelo dourado, era mais como um incomodo... Um formigamento.

- Olá, eu sou Felipe... Eu vim limpar a piscina dar uma olhada nas irrigações do jardim, enfim...

- Sim, sim... o meu pai me avisou, a propósito eu sou Verena. Bem a piscina está aí, e eu não faço ideia do que seja uma irrigação, mas tudo bem. Você consegue se encontrar por aí?

- Claro, estou aqui para isso!

- Eu vou entrar e fazer um suco, está calor demais... Você aceita um copo?

- Eu aceito água...

- Ah claro, eu vou trazer. Fique a vontade.

Verena entrou na cozinha com o seu pensamento ainda voltado para o jardim da piscina, ficou curiosa sobre Felipe, que aos olhos dela era o cara mais lindo e sexy que ela havia visto em toda a sua vida.

Fez um suco de laranja, o seu preferido, e não se esqueceu da água.

Quando saiu de lá estava ele, sem camisa com o corpo suado a mostra.

Os músculos perfeitamente alinhados tinha o tipo de corpo que fazia qualquer garota ter pensamentos impuros.

- Felipe, aqui está... Sua água!

- Obrigada, Verena não é?

- Sim, é difícil de decorar mesmo...

- Não, eu jamais vou me esquecer desse nome, mas para ser justo eu não vou esquecer nem desse seu sorriso.

“Ah meu Deus, ele está mesmo flertando comigo?” – Pensou Verena.

Ela nem se lembrava de como podia fazer isso, já que seu ultimo flerte ou beijo aconteceu quando ela tinha quinze anos, ela usava aparelho e aquilo não acabou bem.

Pelo menos não da forma como ela esperava.

Eu me lembro de rir muito daquela cena, a boca daquele fedelho arrogante cheia de sangue, e Verena visivelmente envergonhada por ter machucado o rapaz.

Claro, para ela não foi divertido, mas eu juro... Que para quem estava de fora, parecia mais como uma cena de uma série de comédia.

Depois desse momento em sua vida ela jamais sequer pensou em beijar alguém, a não ser no seu terceiro dia de faculdade, quando um dos colegas roubou um beijo dela.

Mas esse ela nem contava, já que foi contra sua vontade e o cara era escroto.

E lá estava Verena olhando para Felipe sem saber como reagir ao que ele tinha acabado de falar, ela não sabia como reagir a ele na verdade.

Ele sorriu para ela do seu jeito sacana característico, com uma cara de malandro vivido que já havia visto e sentido muita coisa antes daquilo.

Ela nada mais era do que uma moça presa, e apesar de conhecer vários países, e várias culturas e ter dinheiro o suficiente para isso, não tinha o que era necessário para viver, lhe faltava experiência.

O que vocês humanos normalmente chamam de quebrar a cara? Então, era isso que faltava para ela!

Um dos fardos de ser a morte em pessoa é que enxergamos a alma das pessoas, e pela primeira vez eu não tinha definição, eu olhava para Felipe e para o seu sorriso malicioso enquanto ele olhava para Verena, e não conseguia definir nada sobre o seu caráter.

Era como uma página em branco, aquilo me torturou por muito tempo.

Mas como eu disse no inicio, eu queria ter enxergado antes.

Assim Verena poderia simplesmente agradecer o elogio e voltar para a d***a do quarto dela, lá ela estaria segura de toda essa m***a!

Mas é claro que não foi assim.