Como típico começo de festa a música clássica já tocava no salão. Olhava pela janela do escritório do meu pai, a vista que ele tanto gostava. Não poderia acatar a decisão dele. Não sabia nem quem era o pretendente. Mas, após muita relutância, aceitei a proposta. Minha mãe ficou aliviada, sabia que pouparia briga na família. Não aceitei por mim e nem por ela, mas pelo meu pai. Sua insistência era fora de controle, assim como a minha. Não teria paz se recusasse, porém quando tudo estiver feito e papéis assinados, paz é a última palavra que meu futuro marido conhecerá. Perco a luta, mas não perco a guerra.
Descia as escadas cordialmente. Segurava com uma mão no corrimão gelado e a outra levantava discretamente o vestido para não arrastar no chão. Olhava pelo salão inteiro.
Ouvia muito o nome Paul em casa. Um grande amigo do meu pai, que financeiramente era melhor que nós. Paul tinha diversas empresas espalhadas pelo País e dois filhos. Perdeu a mulher quando deu a luz ao segundo, soube que entrou em uma depressão profunda. Ítalo e Hector são seus dois filhos, o que me cabe á saber é qual deles é meu suposto marido. Google era muito útil, não que fosse difícil encontrar informações sobre nós na internet.
Assim que terminei de descer as escadas, meu pai já me aguardava com um sorriso orgulhoso. Claro que era encenação eu e ele estávamos em um clima péssimo. Segurei em sua mão e ele me levou até meu sogro.
Não iria me acostumar com isso.
Paul tinha um sorriso satisfeito nos lábios. Segurava uma taça de champanhe na mão direita e a outra, estava afundada no seu bolso da calça social. As rugas e cabelos grisalhos eram visíveis. Cabelos penteados pra trás e olhos verdes que me observavam se aproximar.
— Quando me falaram da beleza, fiquei curioso para saber se era tudo verdade. Estou encantado, Srta. Louise. Ou devo dizer Senhora? — Sorriu brincalhão.
Formei o sorriso mais falso que conseguia. Beijou as costas da minha mão e sorriu novamente.
— Obrigada Senhor Bernardi. — Agradeci.
Minha mãe chegou até nós, fazendo aquela mesma imagem do quadro: Família Feliz. Era isso que me deixava irritada. Ninguém esta feliz, eu não estou feliz. Então por que diabos, aquele sorriso estava no meu rosto. Minha vontade era de mandar todos embora.
— Licença um momento! — Paul pediu educadamente e virou de costas, procurando alguma pessoa.
Virou-se pra nós de novo, e estávamos lá parecendo bonecos de cera. Sempre sorrindo.
— Vai ser um prazer ter você na nossa família, Parker. Juntar dois nomes tão importantes. — Começou o discurso, bem-vinda ao inferno.
— O prazer será meu, Paul — Menti.
Então ele chegou. Cabelos negros como carvão e olhos tão azuis e desconcertantes, capazes de te fazer perder o raciocínio por alguns instantes.
Perfeitamente alto e ombros largos. Em uma mão segurava sua taça e a outra, assim como o pai, escondia no bolso.
Sem nos olhar, parou ao lado do pai. Uma vislumbre visão de perfeição.
— Sim, Paul.
Ele não o chamava de pai. Mas, eu sabia que era Hector.
Grande Google
E meu novo marido. Sinceramente, tinha gostado mais do Ítalo. Se fosse para viver com um desconhecido, que fosse um que eu escolhesse. Li alguns artigos, em que Hector sempre evitava entrevistas e fotos. Milagrosamente, fotógrafos conseguiam fotos sem que ele deixasse. Mantinha todos longe. Poderia fazer isso comigo também.
— Essa é Louise Parker. Sua noiva! — Nos apresentou.
Paul olhou nos meus olhos friamente. Ele também não queria aquilo, era óbvio. O modo como seus dedos mexiam contra o copo, era notável seu nervoso. Olhou por alguns segundos, só assim retirando a mão do bolso e estendendo-a.
Dei a minha, seu toque foi quente e delicado. Como se minha mão fosse feita de vidro. Beijou as costas dela, e desaproximou voltando sua mão ao bolso.
Seus olhos ficaram tristes e sem vida. Molhou os lábios, como se tivesse caído a ficha.
— Arnold Parker! — Lá vem meu pai. Estendeu a mão para o meu noivo em um cumprimento.
— Hector Bernardi. Prazer em conhece-lo — Apertou com um sorriso sem mostrar os dentes.
Quantos anos ele tinha? Quarenta? O modo como falava e gesticulava, era entediante. Não trocamos uma palavra, eu particularmente não me esforcei para abrir a boca. Deixava-os conversarem sobre negócios e a festa de noivado. Hector também não falava muito, quando o assunto era esse. Deixando-me aliviada. Pelo menos ele também não queria casar-se. Quem sabe um acordo, mudaria as coisas.
Graças ao bom Deus, aquela festa acabou. Todos, eu disse, todos, foram embora. Temia por já ter que ir com Hector. Diversas vezes nossos olhares se cruzavam, não era felicidade nem flerte, era um misto de raiva e desconfiança. Ele estava desinteressado em saber meu nome, idade ou resposta sobre o casamento. Não se importava com a minha opinião, tão parecido com o pai. Soube pela conversa dele, que ele tem vinte e quatro anos, tirando do meu pensamento, os quarenta anos.
Já vestia minha camisola de seda e estava deitada na cama. Meu edredom estava até o meu ombro e olhava para minha sacada, que estava com as cortinas abertas. Assim como escritório do meu pai, era do teto até o chão, me dando uma visão perfeita da Lua e as estrelas. Escuto a porta ser aberta e vejo o rosto da minha mãe.
— Pode entrar! — Me ajeitei na cama, me sentando e encostando minhas costas.
— Desculpa, te acordei? — Perguntou assim que fechou a porta.
— Não consigo dormir. — Murmurei.
— Imaginei — Sentou-se ao meu lado, vestia seu pijama, estava com os olhos cansados — Filha, eu sei que tudo isso está sendo difícil pra você. Ver o Hector foi triste para mim! Não é nada parecido com os namorados que você trouxe.
— Pois é! — Concordei, gritando razão.
— Mas vai casar-se com ele. Ele é um homem apresentável e muito centrado. Seu pai está muito contente.
— Eu não. E não quero me casar. Mãe você tem que me ajudar. Eu quero viajar, fazer uma faculdade e ter a minha vida! Não a que meu pai quer me dar. Não me importo com a empresa ou os negócios dele.
Ela fez um gesto apressada para que eu parasse de falar. Porque ninguém aceitava o fato, que eu não era esses tipos de filhos que queriam tudo do pai?
— Não diga isso a ele! Faça o que ele mandar, eu não vou interferir nisso, pois sei que será muito bom pra você. Não estrague as coisas, querida.
— Boa noite, mãe! — Me deitei e virei para o outro lado.
Ela se levanta e sai do quarto em silêncio. Eu não estava satisfeita, nada satisfeita. Tinha o direito, de escolher pelo menos meu noivo, marido, seja lá que d***o for.
Algumas lágrimas escorrem dos meus olhos, molhando um pouco o travesseiro. Em meio aos pensamentos, encontrei um azul brilhante. Adormeci.