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Talibã
Chapadão, 28 de março.
Menorzinho favelado, cresci vendo toda a
maldade do mundo, nas favelas, becos e
vielas.
Vida nada fácil. Mataram minha mãe na
minha frente, dizendo que ela era mulher
de bandido.
Já fui aviãozinho, fumava desde os 10
anos. Também já vi vários traficantes
levarem pessoas que se envolveram nesse
mundo pra morte, procede? Aí, bagulho
feio!
Já matei e já roubei. Me orgulho? Não,
mané. Mas foi o que o futuro reservou pa
mim. Eu ligo? Também não. Vou viver,
que o futuro é a morte.
De tanto presenciar.. Me tornei um.
Satisfação, Felipe! Conhecido como Talibã.
Sem muito papo, curto não!
Abro meus olhos, vejo o céu azul do
Chapadão e solto uma risada de canto.
Passo a mão pelo rosto, ainda tentando
acordar e fugir dos pensamentos.
Vou pra laje coloco a a**a na cadeira.
Fico olhando pra favela e vejo uma
mulher passando grávida.
Eu sempre lembro da mina que eu tava
de fiel. Os mané de facção rival, pegaram
ela e mataram. Cortaram a cabeça e
mandaram pra minha casa, cria!
Depois eu recebi o vídeo. Eu não podia
mais fazer nada. Já tinha feito bagulho
ruim com os faixas dele.
Peguei cinco deles e matei a sangue frio.
Joguei o corpo no asfalto e vazei.
Entre os cincos, o pai de um dos
traficantes.
O preço que se paga.
Cobra : Qual é? Ta achando que só porque
tu é patrão, não faz nada? Atividade,
mané! - Chegou e eu sai dos meu
pensamentos olhando pra ele de canto. -
Bora, Talibã! p***a!
Talibã: c*****o, tu ta apressado em,
menor! - Ri na calmaria me virando pra
ele e pegando a a**a passando pelo
pescoço.
Black: Dormindo em serviço, Talibã?
Coisa f**a, cria! - Eu ri fraco.
Talibã: O patrão é eu. Menos! - Sentei na
cadeira. - Ta faltando lugar no cemitério.
Carine foi presa e a gente precisa de outra
pa fazer essas paradas.
Índio : f**a mermo, é que não tem
outra melhor que a Carine. - Assenti. - De
confiança mermo, procede?
Talibã: Relaxa, eu procuro uma. - Eles
concordaram.
Cobra : Aí, último caso ta dando o que
falar. Cuidado vocês na hora de sair.
Assim, vocês vão se f***r e vai f***r a
gente junto.
Talibã : Papo pa vocês.. Se eu descer por
culpa de alguma filha da p**a, quando eu
voltar eu faço questão de m***r na mão
mermo. Avisa os lek, tô pa brincadeira
não. - Falei sério.
Ele riu e a gente saiu.
Encosto na boca e veio os crias reunidos
Aqui não tem essa. Deveu e não pagou no
prazo? Morreu! Ta de x9? Morreu! Não fez
O que eu mandei? Morreu!
Tem um matagal aqui atrás da favela
escondido e eu uso ele pra enterrar os
corpos. Geral que tá lá, tava devendo, era
X9 filha da p**a ou mulher de rival.
A gente tinha quem fizesse as coOvas pra
nós. Mas ela desceu.
Eu conhecia uma, sempre fechava
maneirinho.
Arrastei pela favela coma camisa no
ombro ea peça na cintura.
Eo crime não vai parar! Se sair nós,
vai entrar outros e a bala vai comer do
mermo jeito!
Cheguei na casa da dona e fiquei batendo
até ela sair de toalha. Entrei sem nem
olhar na cara dela.
Elen: p***a, Felipe! Bate mané! - Sentei e
olhei pra ela.
Talibā : Pa tu é Talibā. Sem i********e,
piranha! - Pisquei pra ela. - Tô precisando
de tu, na moral. - Ela riu.
Elen: Entendi.. Vem atrás da boba aqui,
né? Pode vazar! - Olhei pra ela firme.
Talibā : Vai negar? Poxa! - Puxei a peça da
cinturae ela mudou a expressão. - Tu sabe
o que acontece, Elen! Não faz eu fazer isso
contigo, mané. - Ri fraco. - Tô precisando
de tu, na moral. - Repeti debochando dela.
Elen : c*****o, tu é f**a! Qual é o trarmpo?
- Expliquei tudo pra ela que bufou.
Talibā :Tua vida não é nada. Não vale
de nada. Tu vai passar fome se o crime
acabar! Sem chororó, tu vai fazer essa
porra e acabou. - Ela assentiu. - Já sabe
as regras. Se contar qualquer parada
que acontecer aqui, se amarelar ou ficar
gozando com a minha cara, tu desce. Filha
da p**a! - Cheguei perto falando na cara
dela.
Elen: Até parece que não confia, vai se
foder! - Falou baixinho.
Talibä :Tu fede a medo. - Sai de lá
deixando ela.
Puxei um cigarro do bolsoe acendi.
Fui o caminho pra casa fumando o meu.
Clara
Nasci e me criei aqui no morro. Não
dentro dele, mas no pé. Fica um pouco
distante do "movimento" dos lek.
Minha mãe trabalha lá pra dentro. Ela
faxina a casa de um cara gigante lá.
Eu subia as vezes para algmas festas.
Mas nunca me envolvi com nenhum, tá
maluco?
Eu terminei meus estudos, mas só o
ensino médio. O tempo não deixou eu
fazer uma faculdade e me formar. Tenho
uma irmã de 10 anos e moro Com a mninha
mãe. Só nós 3, sempre! Eu trabalhava em
uma lanchonete, na praia. O dinheiro que
eu ganho, serve pra pagar as Contas, e o
da minha mãæ, pra comprar bagulho pra
comer. O maluco lá até que paga bem.
Meu pai? Nunca vi. Minha mẫe conta que
ele não queria ter responsabilidade com
nada. Aí ralou peito. Eu ligo? Não! Minha
Coroa vale por 10 homens.
A Líviaé adotada. Mãe dela era maluca
aí do morro e não quis a cria. Minha
mãe, tadinha.. pegou! E nunca reclamou.
Cria ela com amor e carinho. Parada que
nunca falta!
Lívia : Tu não tem que trabalhar não,
Clarinha? - Apareceu na porta e eu me
virei pra ela.
Clara: Tenho sim, princesa! Mas não é
agora. - Ela assentiu.
Eu ficava sentada na porta, olhando o
movimento.
Olho pro céu e escuto uma moto
barulhenta parando na porta da minha
Casa.
Lílian : Obrigado, Talibã! - Desceu da
moto e o maluco riu.
Olhei pra ele, que logo bateu o olho pra
mim.
Me levantei e fui até minha mãe,
ajudando ela nas sacolas.
XXx: Boa tarde, gatinha! - Riu de canto e
eu assenti. - Gato mordeu a língua? - Eu ri
fraco.
Clara : Boa tarde, garoto. - Ignorei ele
trazendo as sacolas.
Não dei muita bola, pois já sabia quem de
quem se tratava.
O famoso "Talibā". O que pega e não se
apega; dorme uma noite e vaza.
Já ouvi várias paradas dele. Esse maluco
aí é brabo. Ta maluco de se envolver?
Entrei pra casa e escuto passos da minha
mãe atrás de mim.
Lílian : Nem pense, Clara. - Olhei pra ela.
Clara : Ué, eu tô fazendo algo? - Cruzei os
braços rindo.
Lílian : Não se envolva com Talibã. Ele
ta com a Elen e tu sabe muito bem quem
é. Não se envolva! - Repetiu lentamente a
ltima parte e eu assenti.
A Elen? Conheço como a palma da minha
mão. Sabe aqueles clichês típicos dos
Estados Unidos? Então... era eu e ela.
Ela como sempre, adorando chamar a
atenção, se achando a rainha de tudo e
eu... não aguento nada calada.
Já saímos na p*****a muitas vezes. Isso
no tempo da escola, hoje em dia, vejo ela e
finjo que não conheço.
Ela se envolveu com o tráfico e tá nisso.
O famoso "Talibā". O que pega e não se
apega; dorme uma noite e vaza.