Silmara narrando capítulo 32 Tem coisa que a gente carrega sem nunca ter pedido. Tipo ausência. Cresci com buraco dentro de mim. Buraco que tinha nome, CPF e sobrenome, mas que depois que sumiu , nunca mas apareceu nem pra dizer "oi". Pai? Só se for o dos outros. O meu sumiu no mundo, deixou minha mãe sozinha com duas bocas pra alimentar. Eu aprendi cedo que o mundo não dá nada. Nem carinho, nem chance, nem futuro. A gente tem que tirar tudo no grito. E quem não grita, apanha calado até morrer. Minha infância foi na base da geladeira vazia, chinelo arrebentado e varal de roupa doado. Acordava com o som do despertador da minha mãe às cinco, e dormia com ela sentada no sofá, exausta, uniforme sujo de limpeza e cheiro de desinfetante no cabelo. Vi ela varias vezes chorando de fome, de

