Capítulo 02
Tafarel
Eu não sou de falar muito. Nunca fui prefiro observar, analisar e quando falo, é porque tem que ser dito. Palavra minha tem peso na quebrada, isso é o que mantém a ordem. Quem muito fala, pouco faz. E eu já fiz demais pra provar que não sou qualquer um.
Me chamo Tafarel. Mas aqui ninguém me chama assim sem permissão , me chamam de Tafa ou patrão. Não gosto de perreco não tá ligado ? na minha quebrada tem que ter respeito se vem de fora , entra pianinho porque se cola pra causar não sai nem vivo pra contar história .
Assumi a gestão da quebrada com dezenove anos, quando o Baiano foi preso. Ele me deixou na responsa porque sabia que eu tava pronto. Cresci vendo ele comandar com pulso firme, e inteligência. Ele dizia que não se governa com medo, se governa com respeito. E respeito, a gente conquista no olhar, na ação, na postura . Mas vejo que o povo me olha com medo e também é bom porque já nem preciso mostrar do que eu sou capaz .
Baiano me tirou da merda. Eu era moleque ainda, criado pela minha tia Lucia, mulher de fibra que segurou tudo sozinha quando minha mãe morreu. Ela não teve filho, então fui filho e cruz pra ela carregar. Mesmo com pouco, sempre teve dignidade. E por ela eu levanto a cabeça todos os dias. Montei uma mercearia pra ela, do jeitinho que ela sonhava. É de lá que ela tira o sustento. E não tem um que entre lá sem chamar ela de “Dona Lu”. Quem desrespeita ela, desrespeita eu .
Hoje em dia, eu cuido do pedaço. Tudo passa por mim. E se não passa, não dura. Não deixo bagunça, não deixo abuso. Tem quem pense que eu sou monstro, que eu gosto do sangue. Mas eu só faço o que precisa ser feito. O mundo não é justo. E aqui é cada um por si. Se não for eu pra manter a ordem, vira terra de ninguém.
Meu braço direito é o Dedéu. Parceiro fiel de uns anos já. A gente se entende no olhar. Ele é rápido, ligeiro, cuida do financeiro, do corre, do toque de recolher se for preciso. Mas quem dá a palavra final sou eu. Sempre fui assim. Frio, direto, calculista .Dia de baile vem gente de longe pra curti o baile do Pantanal na baixada é o fluxo se ligou , já ouvi muita reclamação de morador mais não tem jeito né, Gera renda pra mim , pra morador que tem os ponto de bebida , lanche e os caraio.
Tenho minha fiel , Leka tá comigo desde que eu assumi , parece modelo ,cabelo cacheado linda pra c*****o. Mais últimamente tá chata pra c*****o , só que saber de gastar ostenta e tem a auto estima muito elevada , tem umas cocota que eu pego vez ou outra no sigilo e a filha da p**a descobre , mais também essas p*****a e f**a parece que gosta de toma esculacho ou achar que eu sou troféu pra explanar que deu pra mim , e eu odeio exposição.
Quem me conhece sabe. Não gosto de holofote, não gosto de mídia. Meu trampo é calado, certeiro. Quanto menos gente sabendo, mais seguro tudo fica. Já vi muito homem bom cair por causa de mulher linguaruda ou amigo traíra. Por isso eu seleciono bem quem fica perto.
Com a Leka o bagulho é antigo. Já passou perrengue do meu lado, já segurou BO, já cuidou da minha tia quando precisei sumir. Isso eu respeito. Mas tem hora que ela esquece de onde veio, tá achando que tá num camarote de novela, toda hora é pix pra unha, cílio, sobrancelha, bolsa nova, celular. Já falei que dou o que quiser, mas não sou banco não. E muito menos palhaço.
Essas mina que vem de fora, que colam no fluxo de olho brilhando, querendo foto, status e rolê, eu já pego de longe. Só que às vezes cê sabe como é. Sangue corre quente, e aí um gole a mais, uma rebolada na pista e pronto estiga gostoso . Leka fareja no ar. Parece cachorro farejador da Federal. Quando descobre, quebra tudo, xinga, joga minhas coisa na laje da vizinha e depois ainda vem de calcinha me provocar como se nada tivesse acontecido. Mulher doida.
Mas minha mente não gira em torno de mulher não. Tô focado em manter a quebrada de pé, segura. Aqui o bonde não anda sem ordem, e pra isso eu tenho que ser temido e respeitado. O trampo do Baiano era pesado, mas o meu é mais. Hoje tem câmera, drone, polícia infiltrada, civil disfarçado. Tudo querendo derrubar o império que ele levantou com sangue e estratégia.
Eu durmo com um olho aberto, e a Glock debaixo do travesseiro. Nunca se sabe o dia de amanhã. Já tentaram me derrubar. Já me juraram. Já botaram preço na minha cabeça. Mas até agora, quem tentou, caiu. Aqui no Pantanal, o crime tem CPF e CNPJ. Tudo que acontece, eu fico sabendo. Até o que não deviam me contar.
Essa noite mesmo, Dedéu veio com uma fita que me deixou de orelha em pé, um p*u no cu ai sondando a quebrada chegou pra mim que é da baixada que veio de lá e tá rodando querendo meu lugar . Vacilão aqui não arruma nada fi , não tem moleza. Eu sou linha dura. Se for verdade, já era. Já mandei puxar o nome, família, e se for preciso, o caixão.
Mas nem tudo é guerra, né? Às vezes tem uns momentos que fazem a gente lembrar que ainda é humano. Tipo ontem, quando voltei da ronda e vi a Dona Lu sentada na calçada, com o avental cheio de farinha, dando pão de queijo pra molecada da rua. Aquilo me desmonta. Me lembra que no fim, eu sou só um filho de criação tentando proteger quem me criou.
Mas aí a noite cai, o rádio chiando, a quebrada fervendo, e eu viro o Tafa de novo. Frio , temido , o patrão.Tava com os moleque resolvendo um b.o como sempre os caos do fim de noite , me afastei pra falar com a leka que tava metendo o louco na linha ja. Quando eu virei e senti o esbarrão ,quando vi . A tal da “santinha da quebrada” irmã da silmara , mó v***a ,noia do caraio .Ela trombou em mim com tanta força que chegou a cair no chão, toda desajeitada, gaguejando, tentando juntar os livros. O celular caiu e quebrou na hora
Já tinha ouvido falar dela. E não foi uma vez só. A filha da Vandeci, certinha, estudiosa, passa igual um fantasma pelas ruas sem olhar pro lado. Os cara vive falando dela, mas eu nunca tinha reparado de verdade. Até hoje.
Ela vinha cabisbaixa, do jeito que vem todo dia.Mas o que me pegou não foi isso. Foi o jeito que ela me olhou. Um olhar de medo... mas tinha mais. Um respeito estranho. Como se ela soubesse exatamente quem eu sou , mas ainda assim tentasse manter a dignidade. Não baixou os olhos. Ficou Tremendo, sim. Mas encarando. Ela não tem ideia do quanto isso me intrigou.
Ajudei ela a levantar. Toquei na mão dela. Pequena, gelada. E quando eu falei o nome dela, vi o susto no rosto. “Como você sabe meu nome?” ela perguntou. E eu só pensei eu sei muito mais do que você imagina, santinha.
Porque eu observo. Sempre observei. Mas nunca tinha prestado atenção assim de perto. Ela virou a esquina apertando os livros contra o peito como se fosse escudo. A bolsa meio aberta, o cabelo bagunçado . Mas o que grudou na minha mente foi aquele olhar. Não era só medo. Tinha dor, tinha dignidade, tinha uma força enfiada ali no fundo dos olhos que eu nunca vi em mulher nenhuma.
- E aí Tafa , vai colar na reunião dos cara amanhã ou nem? Dedéu falou do meu lado, me tirando do transe.
- Hã? murmurei, sem tirar os olhos da rua que ela sumiu.
- Os irmãos ... reunião amanhã.
-Depois a gente vê isso. Ele me olhou de lado, estranhando meu silêncio. Eu, que sempre tô ligado em tudo, agora tava mudo, olhando pro nada, com a cabeça mil grau. Tudo por causa de uma mina pequena com olhar inocente.
- Vou cola pra casa , a leka tá pesando qualquer coisa liga nois . virei pra sair depois de fazer o toque com os cara , e Dedéu veio atrás.
- Gostou da santinha né? Dedéu riu, dando um soquinho leve no meu ombro. -A irmã da silmara, nem parece aquela p**a noiada toda feia e ela mo bonitinha. Cê ficou balançado tafa ? ele falou em tom irônico
Fiquei calado por uns segundos . Porque era verdade. c*****o… eu tô mesmo pensando nela.
- Cala boca c*****o ... rosnei sentindo a irritação dele fazendo gracinha já.
- Nem viaja tafa aquela ali não tem cara de que quer ser amante . Era zoação, mas eu sabia que eles tinham notado que eu interessei. E isso me irritava. Porque eu sempre fui o firme, o calculista, o que não se apega. Coração de maloqueiro bate na sola do pé .
Já trombei mulher de tudo quanto é tipo nessa vida. Bonita, safada, atrevida, interesseira. Já me envolvi com mina que faria qualquer coisa por um tênis, uma bolsa, uma vida no camarote. Mas a ela não tem cara dessas p*****a. E talvez seja isso que chamou minha atenção.
- O bagulho tá tenso e tu aí, pensando em amor? falei grosso montei na minha moto e meti o pé pra casa .
Cheguei em casa e nem fechei a porta direito, já ouvi o salto da Leka batendo no porcelanato da sala. A casa tava toda cheirosa, com aquelas velas de aroma que ela adora acender quando quer agradar. Mas eu não tava no clima. Minha cabeça ainda tava longe… tava naquele olhar da “santinha”.
- Demorou, hein? ela já veio com aquele tom venenoso, jogando o cabelo pra trás como quem tá pronta pra guerra.
Soltei a Glock no balcão, tirei a camisa e fui direto pra geladeira, busca água. Minha garganta tava seca, mas não era sede, era agonia , bebi no gargalo .
- E aí, não vai nem olhar pra mim? perguntou, encostada no batente, olhei de relance ela tava vestindo só uma camisola fina que m*l cobria o corpo. Corpo que eu conheço de olhos fechados. Mas que hoje não me chamou atenção .
- Tô cansado, Leka .respondi direto, sem paciência.
- Cansado? ce tava com aquelas v********a? Hein , Porque quando tu chega assim, calado, com essa cara de quem tá viajando longe, eu já sei… Tem coisa.
- Não começa . rosnei .
- Não começa é o caralho.Acha que eu sou burra? que eu não sei que essas cocota vive atrás de você . Acha que eu sou o quê? Um enfeite? Uma planta decorativa?
Ela veio se aproximando, dedo erguido , toda inflamada. E eu tentando manter a calma. Mas minha cabeça já tava quente.
- Para de escândalo p***a , eu tô com a cabeça cheia , vem se crescendo pra cima de mim que ce vai toma p***a . Abaixa a p***a do tom ,todo dia esse inferno p***a !
- Você chega não olha mais nem na minha cara? Ela veio com dedo no meu peito, olhos brilhando de raiva… ou de mágoa. Difícil fala com ela. - Tu sabe o que eu já fiz por você, Tafarel. Sabe onde eu já enfiei minha dignidade pra te ajudar. Tu sabe o quanto eu te defendi mesmo quando eu tava com medo, quando a quebrada inteira achava que tu ia rodar. E agora vem me tratar como se eu fosse qualquer uma? Fechei os olhos, respirei fundo, tentando não explodir.
-Eu não te trato como qualquer uma. Mas cê tá forçando. Tá sufocando. Eu não sou teu. Nunca fui de ninguém. Ela riu, aquele riso amargo, debochado.
-Não é de ninguém, mas vive me exigindo fidelidade. Vive dizendo que sou tua, mas age como se fosse solteiro. Quer o quê? Uma boneca muda e fiel?
- Eu quero paz, p***a. É só isso que eu quero hoje.
-Paz? Paz é o c*****o. Tu quer paz, mas vive arrumando guerra. E agora tá assim, todo reflexivo... Por quê? Hein? Qual foi a que te mexeu hoje? Fiquei mudo. Porque eu não queria mentir. E também não podia falar a verdade.
Ela me olhou com os olhos marejados. Mas não derramou. Leka não chora na minha frente. Ela endurece , engole seco mas nao solta .
- Tu vai me trocar, né? Vai cansar de mim como cansa de todo mundo. Só que eu te aviso, Tafarel… eu não sou qualquer uma que tu tira e joga fora. Se for me descartar, se prepara. Porque eu te ferro , ce não me conhece . grudei no pescoço dela e empurrei na parede, meu maxilar trinco de raiva ela sabe como me cutucar essa desgraça atenta até eu perde a paciência , a v***a sorriu .
- Ce tá me ameaçando c****a? ela não respondeu, passou a língua no lábio provocando, larguei ela e fui direto pro quarto tranquei a porta to cansado de perreco todo dia , sentei na beirada da cama, cabeça baixa. Passei a mão no rosto tentando dispersar a irritação ,fechei o olho e veio a imagem da mina no chão com aquele olhar inocente. Me joguei pra trás no colchão , a leka começou esmurrar a porta cão , fui pro banho liguei Spotify com racionais e entrei no chuveiro quero nem olhar na cara dela mais hoje ou nem sei do que eu sou capaz ,perturbada do c*****o essa p***a .
volto amanhã com mais meus amores , serão 2 capítulos por dia até eu termina meu Protetor . Add muito e me diga nos comentários oque estão achando ❤️