Capítulo 05- Tafa

1331 Words
Tafarel narrando capítulo 05 cont.... O camburão saiu acelerado, passando as lombada como se tivesse carregando saco de entulho, não um ser humano algemado e todo fodido no fundo. A dor latejava na costela, o sangue escorria do canto da boca, mas o que mais me incomodava era o destino 98ª Delegacia, ouvi um deles fala pra minha tia antes deles sai . Quem é da Sul sabe. Aquilo e um inferno cheio de verme fardado. Os piores. Os que não se vendem por pouco e também não se contentam em só cumprir ordem. Eles que espetáculo, troféu, manchete e dinheiro. E hoje o troféu era eu. Assim que o camburão encostou, já dava pra sentir o clima. Tinha mais viatura do que no Natal. Uns dez policial na porta, rindo, conversando alto, como se tivessem preparando churrasco. E quando me tiraram do carro, todos pararam pra olhar. Sorrisos nos rostos. Era festa. -Olha quem chegou! gritou um deles. - O rei da favela, agora de joelho! Os flashes dos celulares começaram antes mesmo de eu pisar dentro da delegacia. Não era prisão, era evento. Os “homem da lei” comemorando como se tivessem ganhado um campeonato. Só que não tinha justiça. Tinha ódio. Tinha inveja. Tinha sede de humilhar quem não se curvou ao sistema podre deles. - Vamo tirar a selfie com o patrão? falou um outro, tirando o celular do bolso cascando o bico . -Vira o rosto, ô filha da p**a . outro mandou, me empurrando com força contra a parede. Senti o ombro estalar, mas não dei o gosto de gritar. Só fechei os punhos e segurei o tranco. O delegado tava lá no fundo, sentado com cara de nojo e ar de dono do mundo. Santos . O mesmo que vive no meu pé. Que ja mandou recado , ameaça, mas nunca teve peito pra bater de frente. Até hoje. - Achou que era imbatível .ele disse olhando pros outros. - Tava na hora de lembrar quem manda de verdade. Me jogaram na sela improvisada da recepção, com o braço preso pra trás. Uma policial de cabelo preso e cara de tédio começou a preencher a ocorrência. -Nome completo? - Tafarel. - Nome de verdade, ô animal. - Cês sabem. Tá em todas as fichas eu não vô fala p***a nenhuma até meu advogado chega . Ela bufou, anotou alguma coisa e saiu. Nisso, dois PM entraram vieram por trás e começaram a revirar meus bolsos, minha camisa, meu tênis tirando cardaço . Um deles encontrou a correntinha da minha Mãe. Um presente de fé, de proteção. - Isso aqui é ouro mesmo ou só bijuteria de bandido? o maluco disse, rindo. - Se tu quebrar isso, eu te mato , filho da p**a. cuspi as palavras, seco, com o ódio engasgado. O tapa veio na mesma hora. Rápido, certeiro, querendo me calar. Mas meu silêncio não é medo. E calculo . Um tempo depois me levaram pra uma sala pequena, m*l iluminada, com cheiro de cigarro e suor velho. Só verme , Os piores. Fecharam a porta, desligaram a câmera. Um deles encostou na parede, cruzou os braços e disse. -Cê sabe como funciona, né, Tafa? Aqui a gente pode te manter um bom tempo sem advogado, sem imprensa, sem nada. Só nós e você. Ou você colabora… ou a gente quebra teus ossos até sobrar só a voz. Eu ri, Mesmo fodido, eu ri. -Colaborar com verme? Nem morto. O primeiro soco veio no estômago. Depois, um na cara, eu fui pro chão. Me chutaram, me xingaram, cuspiram. Queriam resposta. Queriam submeter. Mas o que eles ganharam foi meu silêncio. -Quem ia pra reunião hoje, hein? Hein, Cuzao , fala ai onde ia ser ? Dorotéia? Santa Amélia? Inamar? Fala aí, c*****o! Eu só olhava, respirando fundo. Cada porrada era anotada na memória. Cada voz, cada rosto. Tudo isso ia virar acerto de conta depois. Depois de quase uma hora, me jogaram de volta na cela da delegacia. Sozinho. No escuro. Mas com a cabeça em chamas. Tinha coisa errada. Os cara sabiam demais. O cerco foi montado com precisão. A reunião vazou. E se vazou, foi por dentro. Traição. Não sei quanto tempo passou. No escuro, sem relógio, a gente só conta pelo número de vezes que a dor pulsa, que a respiração falha, que a raiva ferve no estômago. Eu tava no limite. Mas firme. A porta da recepção bateu com força. Vozes levantadas, passos apressados. Reconheci na hora. - Eu quero ver ele agora! era a voz da minha tia. A voz que me criou no braço, que me ensinou o peso de um nome e o valor de uma promessa. Mas também a que eu não queria ver nessa situação. - Senhora, mantenha a calma... uma policial tentava segurar , mas ela não tava pra brincadeira. - Calma é o caramba ! Vocês tão com ele aqui dentro todo arrebentado e acham que eu vou ficar esperando? Já falei com os advogados. Isso aqui vai feder! A porta da cela abriu de novo. A luz invadiu, cortando o breu. Era ela dona lu . Atrás dela, dois caras de terno e pasta preta, com cara de quem respira justiça, mas não confia em ninguém. Tinham gravata, mas o olho era de quem já viu merda demais pra se abalar com bandido ou polícia. - Tafa... ela disse, com a voz embargada, os olhos marejando. -Meu filho...Virei o rosto. Doía mais ver a dor dela do que as costelas que certeza ta quebrada. - Vai embora, tia. Faz favor. - Não fala isso. Eu tô aqui. Eu vim te tirar daqui. Já falei com o doutor Figueira e com o doutor Álvaro. Eles vão cuida de tudo filho . - Aqui não é lugar pra senhora. Aqui é esgoto. Eu aguento. Mas a senhora não tem que ver isso. Ela deu um passo, quase vacilou, levou a mão no peito como se a alma tivesse se despedaçando por dentro. -Como é que eu não vou, Tafarel? Eu vi quando te trouxeram. Parecia cena de guerra. Meu Deus, o que tão fazendo contigo... isso não é justiça, é tortura! as lágrimas já desciam. -E você quer que eu fique longe? -Eu quero que a senhora não precise passar por humilhação em delegacia e muito menos em porta de cadeia . Eu não sei o que esses maluco são capaz de fazer. Eles tão doidos por mais manchete, por mais sangue. E eu sou o prato principal hoje. Mas eu não vou dar o gosto. Os advogados ficaram calados. Um deles anotava tudo, o outro gravava escondido no celular. Sabiam que era munição pra depois. Mas por enquanto, não podiam fazer nada. O jogo ali dentro era sujo. E quem mandava era quem tinha a arma na cintura e o ódio no olhar. - Eu não vou sair . ela disse, firme, limpando o rosto com as costas da mão. - Eu vou ficar aqui, sentada nessa delegacia, o tempo que for. Eu sou tua família. E você pode até achar que aguenta tudo, mas eu também aguento por você. - Não faz isso, tia. Não fica na porta de cadeia por mim. Eu vou sair. Mas não vai ser hoje , eu tô ligado que eles vão querer joga vários b.o fora os que eu já tenho .- Cadê a leka? era pra ela ter vindo . - Aí filho eu nem vi ela , só cuidei de liga pros advogado ... ela abaixou a voz e olhei bem nos lábios dela e falou que o dedeu tava cuidando das coisas . Foi oque me deu um alívio, tava no escuro sem saber de p***a nenhuma e achando que ele poderia ter sido pego também. Mas com ele lá tomando conta de tudo eu posso respirar aliviado que ele não vai deixar ninguém toma meu lugar . Bora meu amores comentem muito , add na biblioteca pra me ajudar 1/2
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