Capítulo 1 – O Último Ano

2905 Words
Segunda-feira, 31 de agosto de 2020, 7h. Primeiro dia de aula na 12ª série. Eu não estava nervosa. Nunca tinha nervosismo de primeiro dia, mas, sim, uma ansiedade que não me deixava dormir. Era 4h e eu não tinha conseguido dormir. Rolava de um lado para o outro na cama, levantei-me 15 vezes para tomar água e quando finalmente adormeci, logo o despertador tocou. Eu fui logo tomar banho para tirar o sono do corpo, lavar o cabelo e ficar cheirosa. Saí do chuveiro e voltei ao quarto. Sentei-me na cadeira na frente da minha cabeceira com espelho, envolta no robe e comecei a secar o cabelo. Ele é longo, mas não demora mais de 5min para secar, então quando estava pronto, eu fiz uma maquiagem leve para disfarçar as olheiras de não ter dormido bem. Depois, vesti uma camisa cinza de manga e uma saia de couro preta e calcei um tênis cinza. Peguei minha mochila e fui tomar café da manhã. Meu pai e meu tio Hart estavam sentados à mesa tomando café e conversando e Harkes, meu outro tio, cozinhando panquecas para mim quando eu cheguei. - Bom dia. - dei um beijo na bochecha dos três - E o vovô e a vovó? - Dormindo mais que a cama. - meu tio Harkes falou, ao colocar as panquecas no meu prato - Aqui está. - Obrigada. - sentei-me na cadeira e comecei a comer. - Primeiro dia de aula, querida. Como se sente? - meu pai sorriu, tomando um gole de café. - Normal. Só um pouco ansiosa. - passei a mão nos cabelos enquanto comia. - Você conhece uma tal de Margareth Lavender? - tio Harkes perguntou sentando-se ao meu lado. - Na verdade, eu conheço só o filho dela, Max, e os sobrinhos. Por quê? - indaguei. - Ela vai começar a trabalhar comigo no Hale's Meal hoje e eu devo encontrá-la as 11h. - ele suspirou. - Bom, eu não conheço ela, mas já esbarrei uma ou duas vezes com Max e os sobrinhos dela, os quadrigêmeos, estudam comigo. - expliquei e ele pareceu interessado. - Quadrigêmeos? Que interessante. - Harkes sorriu. - Vou passar lá pra jantar então. - contei e ele assentiu. Enquanto comia as panquecas, eu ouvia meus tios e meu pai conversarem e quase perdi a noção do tempo. - Nossa, são 8h, tenho que ir. Tchau, amo vocês. - me levantei e corri para a garagem, com a chave do carro na mão. Não ouvi o que eles disseram, mas acho que estavam me desejando sorte. Entrei no carro e dirigi atentamente até a casa de Hayley no quarteirão seguinte. Quando estacionei e apertei a buzina, Hayley saiu de dentro de casa de óculos de sol e se arrastou para dentro do carro. - Bom dia pra você também. - eu ironizei ao ajeitar o meu próprio óculos de sol no rosto. - Hoje o dia vai ser péssimo, Kate. - ela tirou os óculos e eu vi que ela não estava só indisposta. Estava m*l. Provavelmente com febre e dores no corpo. Ou estava de ressaca ou estava com uma gripe danada. - Nossa, que caminhão te atropelou? - eu falei, dirigindo até a escola. - Nem me fale. - ela encostou a cabeça no banco e olhou para o teto do carro. - Me fala seus sintomas, a dr. Hale vai te diagnosticar. - eu brinquei e ela me deu um tapa no joelho - Ai! - Para de falar, você me enjoa. - ela falou e eu ri - Não, é sério, Kate. Pare o carro. Olhei para o lado e ela estava quase vomitando, parei o carro no mesmo instante e ela abriu a sua porta para vomitar. Confusa, eu desci e dei a volta, ficando de frente para ela. - Hayley, olha pra mim. - eu pedi e ela segurou o cabelo, me olhando - O que você tem? - Cansaço, febre, pressão alta, dores de cabeça e no corpo, náusea e... - ela fez uma pausa - Menstruação atrasada. Eu fiquei em choque enquanto percebia o que aqueles sintomas indicavam. Hayley se virou e tirou algo de sua mochila: um teste de gravidez. - Tem a possibilidade. Eu vou fazer na escola e quero você e a Penny do meu lado na hora de saber. - ela pediu e eu a abracei. - Nós vamos estar com você, Hayley. - eu respirei fundo, tentando manter a calma - Entra no carro, tá bem? Ela assentiu e nós voltamos para o carro. Chegamos na escola, cumprimentamos alguns conhecidos e corremos para os armários onde Penny estava. - O que aconteceu com ela? - Penny franziu o cenho, apavorada. Nós lhe explicamos e Penny levou as mãos à boca enquanto Hayley corria para o banheiro. - O que ela vai fazer se der positivo? - Penny cruzou os braços, olhando para baixo, apreensiva. - Contar pro Jeff, eu espero. - comentei. Jeff Hayes, um dos melhores amigos de Mike, era o namorado de Hayley. Eles namoravam há uns 8 meses e eu me lembro o quanto ela queria ficar com ele, porque o amava demais. Jeff é um cara legal, mas não é do tipo paternal. Olhei para a entrada e os trigêmeos siameses estavam entrando. Jeff, Kyle e Mike. Óbvio que eles não eram trigêmeos siameses, mas eles andavam tão colados que parecia. Normalmente eles passam reto por nós, mas naquele dia, infelizmente, eles foram falar com a gente. - O que os três patetas querem? - eu indaguei, de braços cruzados, olhando diretamente para Mike. - Cadê a Hayley? - Jeff perguntou. - Tô aqui. - Hayley surgiu ao nosso lado, meio abatida e Jeff fez cara de apavorado. - O que aconteceu com você? - ele perguntou à sua namorada. - Jeff, depois a gente conversa, tá bom? Vamos, meninas. - Hayley pegou nós duas pelo braço e nos puxou até a sala de álgebra. Ainda não tinha soado o sinal, mas a sala já estava aberta e havia três rapazes lá. Um deles, e o único que eu conhecia era Ralph Stanley, um garoto tímido que usa óculos e tem cabelos loiros até os ombros. Os outros eu não fazia ideia de quem era. - Oi, Ralph. Como foi o verão? - perguntei me sentando na frente de um dos rapazes que eu não conhecia. - Foi divertido. Eu fui acampar. - ele sorriu e mexeu nos óculos. Eu sorri e olhei para o rapaz atrás de mim. - Oi, você é novo? - ele ergueu os olhos azuis para mim, fechou o livro que estava lendo e sorriu de lado, malicioso. Foi só então que eu o reconheci - Ah, meu Deus! Ray? - Tô surpreso de não ter me reconhecido. - ele se escorou na cadeira e cruzou os braços - A gente se conhece desde o Jardim. - Bom, seu rosto é o mesmo, mas... Você não tinha músculos na 11ª série. - eu senti meu rosto ficar vermelho e soltei uma risada para disfarçar. - Eu também fui acampar, mas... Os instrutores pegaram mais pesado comigo do que com Ralph. - ele sorriu e eu ergui as sobrancelhas - Você também não está nada m*l. - Eu não tenho músculos. - Eu não quis dizer músculos. - eu entendi o que ele estava falando e virei para o garoto ao lado dele. - E você? É novo também ou eu só não te reconheço? - eu perguntei, percebendo que ele não me era estranho. - Um pouco dos dois. Eu sou novo aqui, mas você me conhece, sim. - ele sorriu e esticou a mão - Mitchell Ryder. Pode me chamar de Hell. Eu apertei a mão dele e arregalei os olhos enquanto Penny e Hayley viravam para ele, confusas. - Hell? Que tipo de apelido é esse? - Penny indagou. - Eu fazia um inferno da vida dos meus colegas na última escola que estudei. - ele sorriu e o sinal tocou. - Vocês duas não se lembram dele? - eu perguntei, completamente estupefata e as duas negaram - Mitchell Ryder, pessoal, ele estudou com a gente no Ensino Fundamental I. Os rostos deles se encheram de compreensão. - Quanto tempo, cara! - Raymond e Mitchell começaram a conversar e eu virei para frente, com vergonha. Eu era caidinha pelo o Mitchell e agora ele estava de volta, lindo, sarado e atraente. Meu Deus, me dê forças. - Olha, Kate. Os três patetas e as Sinclair. - nós olhamos para a porta e eu torci o nariz quando vimos Eve Sinclair, Georgia Morton e Lisa Amaryl entrando. Legalmente, apenas Eve é uma Sinclair, mas Lisa e Georgia são filhas das tias paternas de Eve. São ambas casadas e seus nomes são dos maridos. Elas jogaram o cabelo e sentaram-se na nossa frente. Nós aguentamos a aula de álgebra, biologia e humanismo e quando chegou a hora do almoço, eu, Penny e Hayley pegamos nossa bandeja e fomos comer no refeitório. - Hayley, e o teste? - Penny perguntou e eu segurei a mão de Hayley. Ela olhou para baixo e respondeu fundo. - Eu fiz e guardei na mochila. Não tive coragem de ver o resultado. - eu enfiei a mão em sua mochila e tirei o exame. - E então? - Penny me perguntou. - Parabéns, Hayley. - eu lhe entreguei o teste e seus olhos se encheram de lágrimas - Você vai ter um filho. Eu abracei Hayley e ela me abraçou, chorando, apavorada. Penny estava inconformada e eu simplesmente estava bem. Não era comigo, mas, sim, eu sentia compaixão pela minha amiga. Sabia que não era um filho que ela queria agora. - O que eu faço agora? Eu não posso abortar, de jeito nenhum. - ela soluçou nos meus braços. - Tem que contar pro Jeff. Ele é o pai e tem direito de saber. - eu falei e ela assentiu, enxugando as lágrimas - Hayley, nós estamos aqui com você, tá bom? - Tá. Mas agora, eu tenho que falar com o Jeff. - ela se recompôs e andou até a mesa de Mike, Jeff e Kyle. Hayley e Jeff se afastaram e Mike e Kyle sentaram conosco. - Por acaso a gente chamou vocês pra se sentarem aqui? - Penny franziu o cenho para eles. - O que aconteceu com eles? - Mike olhou para mim, curioso e eu o encarei de volta. - Não é da sua conta. - eu arremessei uma ervilha nele e Mike franziu o cenho, se sentindo ultrajado - Assunto de casal. -!Então você tá namorando com a Hayley? - Mike provocou, se inclinando para a frente - Na hora do sexo, quem que fica de quatro? - Ai, cala essa boca, Scotch! - eu ergui a voz, alterada - Ela é minha melhor amiga, tá com um problema e me pediu ajuda. É tudo que eu posso dizer. Eu me recostei na cadeira e cruzei os braços. - Se você não nos contar, Jeff vai. - ele deu de ombros. - Não é problema meu. - eu me ergui, pegando minhas coisas e Penny fez a mesma coisa, me seguindo. Nós caminhamos até a quadra, nas arquibancadas e nos sentamos. Eu fiquei assistindo alguns meninos jogarem basquete e Penny estava lendo um livro. Raymond estava tentando ensinar Ralph a aprender a jogar, mas Ralph não levava jeito. Eu me estiquei e avistei Mitchell Ryder sentado na primeira arquibancada, tirando fotos deles e de algumas pessoas distraídas. - Volto já. - eu avisei à Penny e desci até onde Mitchell estava e sentei-me ao lado dele - Eles podem processar você, Ryder. Ele levou um susto e me olhou, abrindo um sorriso. - É por isso que me chamam de Hell, porque eu adoro esse tipo de coisa. - ele explicou - Pensei que tivesse pedido pra você me chamar assim. - Eu não vou te chamar por esse apelido ridículo, Ryder. - respondi e ele pareceu contrariado. Eu voltei meu olhar para a quadra e Mitchell bateu uma foto minha, distraída. - Não! Apaga isso, Ryder! - eu comecei a rir, tentando tomar a câmera dele. - Nada disso! Ficou demais! Olha só. - ele se aproximou e mostrou a foto que tirou - Você é muito fotogênica. - Claro que sou, claro. - eu ironizei ao assistir Raymond fazer uma cesta muito fácil. - Uau! - Ralph exclamou, impressionado - Isso foi demais, Ray! - Não, isso foi fácil. - eu corrigi e os dois me encararam. - Ah, é? - Raymond questionou, cruzando os braços e se sentindo insultado - Então eu assumo que consiga fazer melhor, certo, Hale? - Faço melhor até de salto alto e de costas, se você quer saber. - eu me levantei e virei para Penny - Pode me emprestar seu sapato? Ela franziu o cenho e fechou seu livro, descendo até nós. - Como é que é? Meu sapato? - ela indagou, curiosa. - É rapidinho. - eu disse e ela deu de ombros, tirando o salto alto cinza que estava usando e me entregou. Eu me sentei para tirar meus tênis e deixei-os ao lado da minha mochila. Graciosamente, caminhei até Raymond e peguei a bola dele. - Acerte uma cesta de três pontos virada de costas. Deve ser fácil pra você. - ele me indicou a posição e eu andei até ela, ficando de costas para a cesta. - Sabe, Raymond, o seu problema é que você duvida de mim. - eu especulei, pegando a bola da mão dele - E nunca devemos duvidar de uma Hale. Eu joguei a bola por cima dos meus ombros e pude dizer pela expressão de Raymond que estava completamente chocado com o que havia visto. - Não acredito! - Ralph exclamou, incrédulo - Ray, você consegue me ensinar a fazer isso? Raymond não respondeu, ainda perplexo. Eu os deixei e voltei para Penny e Mitchell. - Aqui estão seus sapatos, Penny. Obrigada. - eu devolvi os saltos e calcei meu tênis de volta, Penny voltou ao seu lugar para ler e eu me peguei olhando para a câmera de Mitchell e vi que ele havia gravado um vídeo - Você gravou isso mesmo? - Aham. - ele comentou ajustando algumas coisas nos dados da gravação - Eu vou tirar fotos da gravação e colocar no Hartfeld Black and White da semana que vem. - Você é o novo editor do jornal da escola? - eu indaguei, surpresa. - Falei com a srta. Hermann hoje de manhã e ela parecia desesperada. - Mitchell explicou - Já consigo ver a manchete: Rainha do Ensino Médio Derrota Capitão do Time. - "Rainha"? - eu dei risada - Se colocar isso, Sinclair vai te transformar no bichinho dela. - Sinclair? Quem é essa? - Eve Sinclair. - eu contei, olhando a hora no relógio - O que ela tem de bonita, ela tem de arrogante. É uma completa patricinha. Ele deu risada e não disse nada, apenas tirou mais fotos dos meninos. - Qual é a graça? - Se Eve é patricinha... O que isso faz de você? - ele me encarou e eu ergui as sobrancelhas. - Desculpe-me, mas, eu até posso ser patricinha, mas sou uma patricinha do bem, tá? - eu expliquei, entre risos - Quantas de nós fariam o que eu acabei de fazer com a bola de basquete? - Tem razão. Sorria. - ele falou quando começou a tirar fotos de mim. Logo, o sinal tocou e era o fim do almoço, hora de mais uma aula de humanismo. Hayley estava com uma cara melhor, menos abatida, com mais cor. Jeff, no entanto, parecia em choque, mas os dois estavam de mãos dadas o tempo todo. Creio que era algo difícil, mas que ambos passariam por isso juntos. As duas últimas aulas nós ainda não tínhamos por que eram as aulas opcionais, basquete e dança. Como nenhuma das duas haviam começado ainda, então, às 14h45 estávamos liberados. Hayley foi para casa com Jeff então eu fui sozinha para casa. Ao chegar em casa, fiquei um pouco na sala com meus avós enquanto minha avó jogava buraco com suas amigas e bebiam uísque. Eu olhava TV e dava risada delas. Elas conversavam em espanhol e achavam que eu não entendia. Uma delas, Rita Summers, disse que tinha um neto com uns 20 e poucos anos que seria perfeito para casar comigo. Eu tive um ataque de riso, afinal, eu conhecia o neto dela muito bem. - A senhora tá falando do Alex, certo? Como ele está? Diga que eu mandei oi! - eu me ergui e andei até a mesa delas e me servi com um pouco de uísque - Cruzes! Que horror! - Eu sou uma Lopez, Rita. - minha avó falou enquanto levava o morto - Ensinei espanhol pra minha família. - Vou pro quarto, vovó. - eu subi as escadas e fui para o meu quarto, onde tirei a roupa e os tênis e coloquei uma regata e fiquei de shorts curto, pegando meu laptop e o dever de biologia. Quando terminei, começou uma chamada de vídeo em meu laptop. Era Alex. Eu sorri e mordi o lábio antes de atender. - Oi. - Oi, Summers, sua vovó está aqui. - eu sorri quando ele passou a mão em seus cabelos e olhou para baixo, envergonhado. - Eu sei. Eu tenho que buscá-la depois. - ele respondeu, entre risos. - E qual o motivo da ligação? - perguntei, cruzando os braços. - Eu queria te fazer um convite. - ele falou e eu ergui as sobrancelhas, curiosa - O que você acha de um vinho e uma carbonara hoje às 20h? - Não gosto de carbonara e não tenho 21 anos para beber vinho. - eu respondi, travessa e Alex revirou os olhos, irritado. - Então o que você acha de vir aqui e a gente bagunçar o meu quarto? - ele foi direto e eu sorri, concordando. - Vou pensar no seu caso. - eu falei antes de desligar a chamada e ir tomar banho. Quando saí do chuveiro, enrolei uma toalha no cabelo e outra no corpo. Quando ouvi o som de um carro estacionando no pátio, fui até a sacada ver quem era. Alex havia ido buscar Rita. Me apoiei no parapeito e olhei para ele, maliciosa. Alex desceu de seu carro, cumprimentando minha avó e em seguida olhando para mim. Ele ergueu oito dedos no ar e franziu uma sobrancelha. Eu ergui as duas sobrancelhas, dando um sorrisinho de lado e entrando de volta no quarto. Eu ainda tinha três horas para me arrumar.
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