(Continuação....)
" O medo camufla muita coisa, e também o amor..."
Por: Larissa.
Pode nascer amor de uma linda amizade? Sim, claro. Todavia, você saberá quando isso ocorre. Eu não senti nenhuma vez meu coração na curva, batendo há mais de cem quando Rodrigo me olha.
Abro o meu guarda-roupas e pego um vestido midi de tricô, com mangas compridas e gola alta. Escolho uma bota de cano longo sem salto e uma bolsa, todos os itens são de coloração preta.
Faço uma maquiagem leve, hidrato minha pele e me troco.
Me olho no espelho e gosto do que vejo.
_ Hora de pagar a aposta. - falo para o meu reflexo no espelho.
Rumo à sala. Assim que apareço no corredor, Rodrigo me vê e se levanta do sofá.
O homem não desvia o olhar, ele me "mede" da cabeça aos pés. Seus olhos têm um brilho especial que os deixa mais lindos do que já são.
_ Linda! Você está linda, Larissa. - diz, aproximando-se de mim.
_ Obrigada! Podemos ir?
_ Claro!
Saímos para fora da minha residência, caminhamos juntos até o carro. Rodrigo abre a porta do Gol bolinha para mim e, em seguida, dá a volta pelo veículo e ocupa o lugar do motorista.
Não demora muito para estarmos em movimento pelas estradas de terra batida, a caminho da cidade.
_ Seu pai tem falado alguma coisa sobre o tal Pietro, Larissa?
A menção do nome do homem faz meu coração disparar. Assusto-me com isso, porém tento disfarçar, fixo meu olhar na vegetação que passa, parecendo um rabisco verde no horizonte.
_ Não, meu pai não tem costume de comentar sobre o trabalho comigo.- sou sincera.
Rodrigo estala a língua.
_ Aquele italiano de uma figa, está modificando o quadro de funcionários, realocando-nos em setores diferentes. Espero que o senhor Gerardo se recupere logo. Eu achei que o velho carcamano era carne de pescoço, mas o filho é mil vezes pior.
Olho para o homem que dirige de olhos atentos ao caminho.
"Nisso, eu concordo com você. "- falo mentalmente.
Algum tempo depois, estamos estacionando perto da praça. A tarde vem chegando com o sopro frio do vento e aos poucos as estrelas despontam no céu.
Descemos do carro e atravessamos a rua.
_ Quer comer alguma coisa?- Rodrigo pergunta.
_ Não, mas agradeço se me comprar um algodão doce.
Salivo ao ver a iguaria passeando ao longe nos ombros do vendedor.
_ Claro, Lari! Qual cor você prefere?
_ Qualquer uma.
O rapaz se apressa para ir atrás do doce que circula por entre os transeuntes.
Dou alguns passos até alcansar uma banco, quando estou prestes a sentar, tenho a sensação esquisita de estar sendo observada. Olho para todos os cantos, mas não vejo ninguém me olhando. Dou de ombros e sento, não demora para Rodrigo me fazer companhia.
_ Acho que amarelo combina com você. Dizem que essa cor representa a alegria, e você é assim ,Lari, um raio de sol que trás alegria a quem se aproxima. - ele diz me deixando tímida.
_ É a forma como você me enxerga, não significa que eu seja mesmo isso tudo.
_ Claro que é. Rodrigo fala e coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.
Dividimos a nuvem de açúcar colorida.
Estou prestando atenção numa mãe que empurra um carrinho de bebê, onde uma menininha dorme confortavelmente. Quando a voz firme do meu amigo me faz volver o olhar em sua direção.
_ Quero te confessar uma coisa, Larissa.
_ O que houve?- pergunto estranho a forma como se mostra tenso.
O rapaz pega minha mão livre e segura entre as suas.
Ele toma uma respiração profunda, parecendo querer alguns segundos para tomar coragem.
_ Eu estou apaixonado por você, Larissa. Quero saber se aceita namorar comigo - diz, olhando nos meus olhos.
"Céus, eu não pensava em ouvir essas palavras da boca dele tão cedo" - penso mentalmente.
Retiro minha mão lentamente do calor das suas. Aperto meus lábios um contra o outro.
_ Rodrigo, vou ser honesta com você. Não posso te dar falsas esperanças e muito menos alimentá-las. Eu tenho por você uma grande amizade, não te vejo de outra maneira.
O homem desvia o olhar e, em seguida, ergue o corpo.
Fico apreensiva, eu sabia que as minhas palavras iriam causar dor, no entanto, seria pior se eu não usasse de sinceridade.
_ Eu, sabia que isso poderia acontecer. Mas resolvi arriscar.- ele me olha e estica sua mão em sua direção- No entanto quero que saiba que não vou desisitir de você , Lari. Te quero para mim e não abrirei mão de tê-la, nem que eu tenha que esperar mil anos.
Suas palavras me assustam. Ninguém pode plantar o amor dentro do coração do outro só porque deseja ser aceito. Certas coisas não têm explicação e apenas acontecem porque é assim que o universo determina.
_ Rodrigo, por favor. Eu....
_ Sei esperar, Larissa.
Sem saber como contornar essa situação constrangedora, ergo meu corpo e mudo de assunto. Fujo literalmente, começo a caminhar pela praça e o homem me acompanha.
É por volta das oito da noite quando estamos retornando para a fazenda.
_p**a que pariu, a p***a do carro de trás está usando o farol alto, não consigo ver nada pelos retrovisores.- Rodrigo reclama.
Olho para trás e realmente, além do veículo está a uma curta distância o farol encomoda meus olhos.
Retorno a olhar para frente, quando o motorista do outro carro passa pelo nosso, acelerando com tudo.
_ Só podia ser o italiano desgraçado!- diz Rodrigo com os dentes trincados.
Vejo as lanternas da caminhonete se perder na escuridão.
Quando chegamos na porteira, destinada para a entrada e saída de veículos de carga e para o uso dos funcionários, estranho ao ver o grosso cadeado trancado.
_ Trancaram o portão! Quem pode ter feito isso? Meu pai sabe que eu estava na rua!- falo, olhando para Rodrigo que coça a cabeça.
_ Deve ter sido algum outro funcionário que passou por aqui. -Ele diz, pegando o celular do bolso - Ligarei para o seu pai vir te buscar.
_ Não precisa, eu vou entrar pelo portão social.
_ Tem certeza é um pedaço bom que terá de andar?
_ Tenho, não se preocupe.
Andamos até o carro, poucos metros percorridos depois, desço. Minha entrada é liberada pelo segurança noturno, sem maiores problemas.
Ando apressada pela rua pavimenta que leva até a imensa garagem onde os carros dos patrões são guardados. Estranho a escuridão naquele espaço.
" Como pode tantos seguranças não vê que a lâmpada está queimada?"- indago.
Quando sou banhada pela escuridão, sinto alguém se aproximar sorrateiramente. Antes que eu possa gritar uma mão enorme tampa a minha boca. Meu corpo é empurrado para dentro da garagem, escuto o barulho da enorme porta de metal se fechando.
Meu corpo treme ao reconhecer o perfume da pessoa que me aborda.
_ O que você estava fazendo na companhia daquele homem? - a voz fria chega aos meus ouvidos.
Sinto as benditas borboletas no estômago alçarem vôo.
_ Não é da sua conta! Agora abra esse portão e me deixa ir embora, se não eu vou gritar.- aviso .
Ele gargalha no escuro e aquilo me assusta. Seu riso é sinistro, maquiavélico.
_ Comece então, caríssima!- sua voz mansa e fria me provoca arrepios.
Estou de olhos arregalados, tentando enxergar alguma coisa, no entanto a tentativa fracassa. Sinto que ele está próximo, porém não sei onde. Estico minhas mãos à minha frente, tateando o nada, tentando me situar se estou no meio de um espaço vazio ou próxima de uma parede. Meu corpo é cortado pelo pânico, respiro com dificuldade.
" O que ele vai fazer, comigo?"- penso apavorada.
_ Por favor, senhor Pietro. Me deixa ir.- peço com a voz trêmula.
_ Responda, Larissa!- vocifera .
Encolho meu corpo diante do seu berro, procurando me proteger de qualquer coisa que ele se proponha a fazer.
_ Na...nada! Foi um passeio, só isso!- respondo com a voz falha.
Sinto sua mão tocar o meu corpo.
Derrepente sou puxada e acolhida em seu tronco.
_ Se você ousar aceitar qualquer tipo de convite dele ou de qualquer outro homem, receberá a cabeça deles em sua casa. Caspice ragazza?
Tento empurrar o corpo do homem para longe, diante da sua ameaça descabida.
_ Você é o quê, a p***a de um louco? Me deixa em paz! - me rebelo diante da sua tentativa de intimidação.
Ele anula completamente meus movimentos com uma facilidade incrível.
_ Quem eu sou não te interessa.
Derrepente tudo fica claro, as luzes são acionadas.
Aperto meus olhos que estão encomodados pelo excesso de iluminação repentina.
Sinto uma mão enroscar no meu cabelo e travar num aperto firme.
Minha boca é tomada pelo homem, e as sensações avassaldoras me consomem outra vez.
Me sinto no meio de uma louca tempestade, com meu peito batendo a mais de mil. Me sinto banhada pela lua plena, sinto a noite e seu frescor, me sinto como a chuva correndo sobre o rio.
_ Me beija, Larissa!- brada quando simplismente não o correspondo.
Tento sair do seu aperto, no entanto, Pietro puxa meu cabelo com brusquidão. Meu couro cabeludo protesta, lágrimas formam-se em meus olhos.
_ Ai, ai, ai!
_ Quem dita as regras sou eu, ragazza! - diz e em seguida toma meus lábios uma segunda vez, travo meus dentes impedindo a passagem de sua língua.
Sinto a dor pungente em meu lábio inferior. Diante da violência, acabo abrindo a boca para urrar e, nesse instante, Pietro aproveita para ter acesso livre à minha língua. Meu choro desce livre e, quando não correspondo às suas investidas, o aperto na raiz do meu cabelo torna-se brutal.
Ele instiga através da dor que me inflige, para que eu retribua o beijo e, coagida, dou o que ele tanto deseja.
Nossos gostos se misturam, parece afrodisíaco; nossas línguas fazem uma dança erótica. A respiração do homem está afetada, sua mão larga meu cabelo e desce até a minha fina cintura. Sou puxada contra o seu corpo, colidindo com a parede dura de puro músculos.
Sem ar, desvio o rosto.
_ Ti voglio, ragazza! - diz, olhando-me fixamente.
Não entendo o que ele diz e o e******o percebe; um esgar de sorriso surge no canto dos seus lábios.
_ Te quero, garota! - esclarece.
_ Mas eu não te quero! - toco em meus lábios doloridos e vejo sangue na ponta dos meus dedos. - Você me machucou? - falo num fio de voz e o fito com raiva.
_ Não tanto quanto eu tive vontade de fazer. Seu sangue tem um gosto bom, lembra o de canela. - diz com a expressão neutra.
_ Você é um psicopata, doente! Me esquece! - vocifero.
_ Psicopata? - ele gargalha - Não, menina, enganou-se em seu julgamento.
"Céus! Ele é um doente!" - penso aturdida.
_ Eu quero sair daqui, abre isso. - falo me movendo e chutando a porta de metal.
Ele acompanha todos os meus movimentos, não me impede, o barulho ecoa e no entanto ninguém do lado de fora parece se importar.
"O que está acontecendo, afinal? Como pode não surgir alguém para ver a razão do barulho?"
Ando até Pietro decidida.
_Abre essa merda, agora! Você não pode me manter aqui contra a minha vontade. - berro exasperada.
_ Posso fazer isso e muito mais. Ainda não entendeu quem sou eu, menina?- diz, olhando para mim com superioridade.
Dou um sorriso frio.
_ Como não entender quem é você, um sujeito arrogante que usa de prepotência com os demais. Um ser humano frio e detestável. - falo, apontando o dedo em sua direção - Detesto ficar perto de ti, você é...- freio minhas palavras quando vejo uma maleta preta aberta em cima do teto de um carro preto, engulo em seco. Muitas facas de diferentes tipos e materiais diversificados repousam dentro do interior aveludado.
Ele acompanha o meu olhar e em seguida mira dentro dos meus olhos.
_ Eu sou o quê, Larissa? - pergunta baixo.
Como eu iria dizer que ele é uma merda de ser humano, um lixo, uma escória, uma carniça, com todas as quelas laminas cortantes perto dele. Emudeci, tento consciência de que não sei do que esse homem, que aparentemente não se abala com nada do que eu falo.
_ Apenas, me deixa ir. Por favor! - peço, assustada.
_ Antes, venha até aqui.
Respiro com dificuldade e dou passos vacilantes até o homem, paro em sua frente.
Ele examina meu rosto, passa o dedo na minha ferida que sangra e leva o dedo sujo com meu sangue até sua boca e o chupa sem retirar os olhos de mim.
_ Quero te ver amanhã. - diz, tirando o celular do bolso interno do sobretudo que usa - Me dê o seu número e não ouse tentar me enganar. - diz, deslizando o dedo pela tela do aparelho.
Fico em dúvida, penso em fornecer um número errado, porém temo pelas consequências quando Pietro descobrir.
Molho meus lábios com a língua e abaixo meu olhar, buscando por alternativas, no entanto me vejo presa nessa gaiola dourada.
Solto o ar dos meus pulmões e falo o número do meu contato. No mesmo instante, meu celular vibra e toca dentro da bolsa.
_ Ótimo, te ligarei no final do dia. Puoi andare, ragazza - fala, apertando o botão de um pequeno controle que tem em mãos.
Não espero para ouvir mais nada, corro em direção à a******a, com meu coração aos pulos.
"O que será de mim nas mãos daquele homem?" - penso, dando início a uma corrida para chegar logo no calor do meu lar.