" Não somos feitos de lata, apenas nossos instintos são diferentes, sem controles, fazemos nossas próprias leis."
Por: Vittorio.
_ Encontramos ele caído na praia de La Sorgente, chefe. - ouço um dos meus soldados dizer, assim que entram pela porta do meu escritório no QG da 'Ndrangheta.
_ Coloquem ele no sofá e podem sair. - ordeno, observando o estado crítico do meu irmão, embriagado e concerteza drogado.
Analisando todos os pormenores que vêm acontecendo, é certo dizer que Pietro me esconde algo que o tem consumido dia após dia, e que esse fato só pode ter a ver com seu amor fúnebre pela ex-esposa. Mas o quê seria dessa vez?
Ele caiu no mundo das drogas novamente, tem se envolvido em loucuras nas nossas incursões, como se estivesse buscando o fim do seu sofrimento nos braços da morte. A p***a de um efeito caleidoscópio caliginoso.
A história se repete, e isso não tem sido nada bom para mim, que fico sempre preocupado com o rapaz desassossegado.
Quando conversei com ele pelo telefone, sempre me pareceu tão centrado. Violeta me informava que meu fratello estava bem, fechado em seu mundo sombrio, com a ideia fixa nesse amor funesto, no entanto, bem.
E o que eu vejo é um homem tentado a se destruir, buscando uma válvula de escape para algo que o tem atordoado.
Qual seria a merda da vez? Até eu quero saber, mas quero saber dele e não ter que ficar investigando que insanidade que se passa pela cabeça do homem que é o subchefe da nossa Máfia. Fazendo-me valer de suposições e interrogações.
Estamos num enrosco miserável com duas máfias e Pietro dando vacilos desse tipo. Eu quase não acreditei quando ele passou por mim numa das ruas da cidade, seu veículo parecia um foguete, um borrão preto cortando as ruas. Assim que adentrei na casa de prazeres, nossos primos relataram para mim as atitudes fora do normal do meu irmão.
Ele nunca dispensava a Eleonora, transava com outras sim, mas ela não podia faltar, como se fosse a cereja do bolo.
Apurei com Cosimo como foi a passagem de Pietro pela casa e a certeza foi plena: tem algo assombrando o caçula dos Greccos.
Chego perto do meu irmão, que só fede a bebida e a sexo.
_ O que está acontecendo dessa vez com você, rapaz? Será a p***a da saudade arruinando seu juízo? Quando vai aceitar que acabou, que ninguém retorna da terra dos mortos. - pergunto, jogando uma manta sobre ele.
Cogito a possibilidade de adiantar a data do casamento dele com Andrea, talvez assim ele se aquiete, coloque a cabeça no lugar e volte para o prumo.
Pietro não pode ter esses rompantes, ficar oscilando entre estar bem e m*l. Meu irmão precisa entender que desse modo, ele vai acabar se autodestruindo.
O homem parece uma bomba-relógio prestes a ser detonada.
Sento-me na minha cadeira e ligo para Violeta.
_ Olá, figlio mio, tudo bem? - diz ela assim que atende.
_ Oi, quero saber o que aconteceu com Pietro nesse tempo que ele esteve com vocês. - sou direto, sem rodeios.
_ Não aconteceu nada, seu irmão só ficou mexido por ter que pisar num lugar que o faz recordar a Pâmela. Por qual razão está fazendo essa pergunta, Vittorio?
_ Nada com que deva se preocupar, apenas curiosidade. Pietro voltou muito diferente. - falo meias verdades para poupar a nossa mãe de um sofrimento.
_ Protege o seu irmão, Vittorio, sabes que Pietro é um homem fragilizado, marcado pela dor. Que ele não conseguiu superar a perda da esposa. Tenho tanto medo que ele faça uma besteira. - diz, com a voz aflita.
_ Estarei sempre por perto, não o deixarei cair. - falo a verdade.
_ Acredito, meu figlio. Se cuida.
_ A senhora também.
Penso na corrente gelada que me atingiu a espinha quando o ragazzo invadiu sozinho aquela construção em ruínas. Eu sequer pensei, partir do ponto onde o monitorava e vim tentar o seu resgate. Sim, tentar, porque qualquer coisa pode acontecer quando estamos no meio de um confronto. Me arrisquei por ele, por temer perdê-lo, por temer falhar na minha promessa que fiz quando eramos dois meninos com idades entre dez e nove anos, de que eu seria o seu escudo, a sua espada e a sua força em todos os momentos.
E assim tem sido, mesmo que muitas vezes eu tenha que usar a força com Pietro. Não que isso me agrade, pelo contrário, me machuca.
Algumas vezes senti o chão me faltar, e todas essas vezes tiveram relação com meu irmão caçula. Uma delas foi quando Pietro foi capturado pelo pessoal da máfia russa, Solntsevskaya Bratva, que o pegou no meio de uma luta clandestina nos arredores de Nova York. Nunca senti tanto medo na vida. Ninguém sabe, e eu escondo da melhor forma que posso, que meu irmão é meu calcanhar de Aquiles. Esse fato ocorreu há quatro anos, recordo que movi céus e terra para arrancá-lo das mãos daquele bando de farabutto. Foram apenas três dias, no entanto, recebi meu fratello coberto de cortes pelo corpo. O sangue me veio aos olhos. Prometi a Pietro que ele teria sua vingança, e esse dia chegou. Hoje, Artem, co-responsável por elaborar e executar a empreitada que culminou com o sequestro e tortura do meu subchefe, está preso em nossa galeria subterrânea, esperando para conhecer o Piscico da 'ndrangheta.
Observo meu irmão falar algo inaudível.
O amor é um sentimento que aniquila. Assisti meu irmão ser arrasado por amar demais. O homem nunca cogitou a possibilidade de blindar o seu coração e colhe os espinhos até hoje. Ama uma morta, um cadáver, e se martiriza por isso.
Pietro sempre foi muito diferente de mim, desde pequeno os sinais eram gritantes. Sempre foi o sonhador, o mais carinhoso, o garoto de riso fácil e de coração doce, a luz vibrante de nossa família. Portanto, quando chegou o momento dele entrar para a organização, o mesmo se rebelou. Meu irmão sempre dizia que não faria parte do pântano podre que permeia nossa linhagem por anos, a herança n***a e manchada de sangue construida pelos nossos antepassados. No entanto, olha onde o amor colocou o ragazzo, nos braços do seu pesadelo.
Vi morrer o doce Pietro e nascer o louco, violento e o assassino sádico, um homem sombrio e calculista. Porém, agora, esparramado no sofá do meu escritório, quando o olho só enxergo um ragazzo que não sabe lidar com seus próprios sentimentos.