"Tudo seria mais fácil se você não tivesse se infiltrado em mim, se não tivesse levado contigo aquilo que sequer peecebi: o meu coração. "
Por: Pietro.
Parece que ainda escuto os gritos de Vittorio ecoarem em meus ouvidos, repreendendo-me severamente por ser descuidado com a minha segurança e minha vida. Passaram-se cinco dias desde o episódio da terrível transa que tive com uma das mulheres do bordel da família, cinco dias desde que me embriaguei chapado de entorpecentes sentindo raiva dela: Larissa.
Naquela noite fui encontrado caído na areia com as ondas quase cobrindo o meu corpo, eu com certeza teria morrido afogado se os soldados não tivessem me resgatado.
No entanto, no final do seu discurso de irmão mais velho enfurecido com as estupidez cometida pelo irmão caçula, e após salientar que quebraria todos os meus ossos se eu não retornasse ao prumo, Vittorio me transmitiu uma notícia que muito me agradou : tínhamos um prisioneiro que eu ansiava usar minhas adagas nele, conforme ele ordenou que seus capangas fizessem com as suas facas em mim.
"O embuste nem faz ideia do que lhe aguardar. "- falo mentalmente enquanto olho para a variedades de adornos femininos expostos na bancada de vidro da loja.
Meus olhos percorrem as joias expostas no balcão. Nunca pensei que faria isso: comprar um presente para outra mulher que não fosse a minha Pâmela. No entanto, aqui estou eu, atrás de um mimo para dar à minha noiva.
_ Essa pulseira trançada de ouro amarelo, irei levá-la - peço.
_ Gostaria de ver mais alguma coisa? - pergunta o joalheiro.
_ Não - respondo secamente.
_ Temos conjuntos completos, como o senhor pode ver nos nossos expositores - insiste.
Estou quase sendo rude com o homem irritante quando meus olhos fixam-se num colar que tem uma pedra em formato de coração. A cor da gema é idêntica à cor dos olhos dela: verde.
Molho meus lábios com a ponta da minha língua, lembro-me deles brilhando quando ela me olhava, deles marejados de emoção quando eu tomava seus lábios.
_ Esse colar, quero vê-lo. - falo apontando o dedo em riste na direção da peça.
O homem direciona o seu olhar para a joia.
_ Oh, sim! É uma peça lindíssima, cravejada em diamantes naturais brancos lapidados, 5 pontos, e o pingente é uma Jadeite, Jade Imperial Green, essa preciosidade, como o senhor pode costatar, apresenta uma impressionante cor verde esmeralda de altíssima translucidez. Temos os brincos, anel e pulseira que compõem todo o conjunto. - expressa, enquanto deposita todas as peças na minha frente.
_ Levarei todos. - manifesto enquanto crio em minha mente o cenário em que essa pedra está repousada na pele alva da menina.
_ Excelente escolha, um presente de ótimo gosto! - fala, retirando cada uma das joias e alocando-as em caixinhas de veludo.
Pago uma pequena fortuna pelas compras e deixo o local, na companhia dos meus soldados, que para quem olha de fora, pensam que são somente os meus seguranças.
Entro no carro onde Matteo e Vicenzo me aguardam.
_ c*****o, não pensei que iria demorar tanto para comprar a maldita pulseira e pelo visto não foi só uma.- Matteo diz olhando para as duas sacolas de papel em minha mão.
_ A donzela está irritada? - falo com escárnio.
_ Vai se fuder, Pietro! Sabe que estamos indo para o território da Cosa Nostra, isso me deixa tenso, não confio neles. Por que diabos Vittorio cismou de implantar escutar na casa do pai da sua noiva? - meu primo diz irritado, afrouxando o nó de sua gravata.
_ Também gostaria de saber. - resmunga Vicenzo mexendo no celular.
Isso até eu quero, mas o Don não abriu para ninguém os seus planos, apenas deu ordens e estamos indo cumpri-las.
_ Pode seguir - digo para o soldado que está dirigindo. - Hoje durante a festa de aniversário da Andrea, é o momento ideal para realizarmos esse serviço, dentro da casa só tem uma câmera de segurança localizada na porta do escritório de Giovanni, meus hackers estão infiltrados no sistema de segurança do capo, esperando só o meu contato para desestabilizar o sistema e vocês executaram o serviço, além disso, o Don quer que fiquemos observando os passos de todos os convidados, principalmente Carlo Lombardo, capo de Chicago. Nosso Don está barganhando esse território através do meu casamento; no entanto, Carlo pode querer colocar "areia" nas negociações, pois ele não vai querer perder uma fatia do seu espaço. Lombardo é conhecido por sua ganância.- esclareço.
_ O ítalo-americano casou a filha com o sobrinho do Don da Camorra, buscando ganhar força com isso, talvez no futuro pense em tirar algum proveito disso. Nada no submundo acontece se não tiver uma vantagem envolvida.- ele estala os dedos das mãos, uma mania que me irrita pra c****e -Tenho dó da garota com apenas dezenove anos tendo que receber na cama um homem vinte anos mais velho. - Vicenzo se pronuncia.
Olho para meu primo, lembrando da diferença de idade que Larissa e eu temos, cerca de treze anos, e isso não foi empecilho para a garota se aproximar de mim.
Volto meu rosto para a janela, sentindo um buraco vazio em meu peito. Fico observando sem interesse as pessoas transitando. Então de repente meu coração salta dentro do peito, vejo ela de costas, parada numa esquina conversando com mais duas meninas.
"Dio Santo, a ragazza está aqui?" - penso, sentindo meu corpo aquecer.
_ Pare esse carro agora! - grito, alardeando a todos, que sacam suas armas assustados.
_ O que houve, chefe? - pergunta Dário, olhando para todos os lados em busca da fonte do meu transtorno.
_ Estamos no meio do trânsito, não tem como parar. - diz Francesco.
Fico nervoso com a negativa dele, puxo minha arma das minhas costas e encosto na têmpora do infeliz.
_ Pare esse carro ou vou estourar seus miolos! Estou te dando uma ordem, p***a! - vocifero.
O barulho da frenagem, seguido dos sons de buzinas, explode no ar.
Abro a porta e saio correndo na direção em que vi a garota parada, quase sendo atingido pelos carros que, no último segundo, conseguem desviar do meu corpo, evitando uma colisão.
Me aproximo da menina, pego em seu braço e a puxo para que se vire para mim.
_ Larissa! - chamo-a, só que em questão de átimos de segundos, sinto-me afundar quando meus olhos se deparam com um rosto que não é o dela, sinto meu corpo gelar.
_ O que é isso? - pergunta assustada a jovem que tem o rosto salpicado por pequenas sardas e olhos castanhos.
_ Scusami, io.... scusami. - falo me afastando.
Para mim era ela, a mesma estrutura corporal, cor da pele, comprimento do cabelo e suas ondas, a nuance dos fios, a altura e a cor berrante que gosta de usar presente no vestido, um tom neom de laranja.
Não tinha mais como eu negar para mim mesmo, que sento falta da garota.
Sigo para a SUV, tentando me recompor, precisando me achar. A menina me enfeitiçou, entrou pelos meus olhos de forma sutil e tão fugaz, a saudade que eu achei que conhecia se mostrou maior e mais perturbadora. E vem minando a cada dia minha subsistência.
"p***a, Pietro, raciocina, c****e! Como é que a menina iria cruzar o Oceano Atlântico e vir parar aqui na Itália se não conhece ninguém neste lugar e não sabe o mínimo da língua nativa deste país?" - repreendo-me.
Atravesso a rua para chegar ao veículo estacionado perto da calçada.
Abro a porta e entro sob o olhar perscrutador de todos.
Adentro mudo e sento-me no banco.
_Podemos continuar o percurso. - ordeno.
_ Que merda foi essa, Pietro? - pergunta Vicenzo, fitando-me - Deu para abordar mulheres desconhecidas na rua, agora?- indaga meu primo.
_ Não tente negar, primo, todos nós vimos. - fala Matteo, calmo.
_ Assunto meu, nada que tenha a ver com vocês. - falo frio, fechando o semblante.
Não consegui controlar minha atitude intempestiva; foi mais forte do que eu. Senti como se tivesse sido acionada uma arma termobárica dentro de mim, onde a onda de explosão tipicamente produzida por tal arma é de uma duração significativamente mais longa, uma coisa estranha que nunca senti.
Como eu poderia imaginar que uma jovem mulher me deixaria assim, não sendo mais dono dos meus desejos.
Quando acreditei que fosse Larissa parada bem ali, tão perto de mim, senti minha pele ser tomada por um arrepio. Em meu interior, um fogo vívido crepitou intenso, meu sangue correu mais forte em minhas veias, salivei desejoso e, no final, quando o banho de água fria veio, tudo se silenciou. Pensei que seria simples virar a página e deixar a garota para trás, mas me enganei. No entanto, tudo se mostra arrevesado. Não está nada fácil ficar sem ela.
Minha ansiedade tem triplicado pela necessidade que sinto da garota, busco nas drogas o alívio que preciso, estou vivendo assim uma sombra na mais profunda escuridão.
● Continua....