Dez anos atrás /A partida de um filho. ( Violeta)

1415 Words
" Um adeus pode doer de várias formas e a pior de todas é o adeus em que aquele que amamos se predispõe por pura vontade, a colocar um abismo e nos separar." Por: Violeta. O fim de tarde colore a imensidão acima de nossas cabeças de lilás e tons diversos de laranja tornando a grande tela azul, numa pintura de beleza ímpar. Meus olhos desviam da grandiosidade sublime, suspiro ao pensar que em breve minha casa estará mais vazia. Estou em frangalhos por tudo o que meu filho vem passando, incluindo "coisas" que ocorreram bem antes do fatídico acidente que ceifou a vida de Pâmela. Meu caçula vem levando "porrada atrás de porrada". Olhando para ele agora, nem de longe lembra o rapaz sorridente de outros tempos. Acompanho Pietro com os olhos, meu filho arruma sua mala sem vontade. Algumas lágrimas escapam de seus olhos e escorrem por suas bochechas de pele clara. Apesar de nunca ter simpatizado com Pâmela, durante esses dois anos em que convivemos, entendo que o momento pelo qual meu filho está passando é muito delicado. Pietro sempre foi o filho mais doce, carinhoso, amoroso e atencioso. Uma verdadeira jóia rara. Sempre tive medo de que ele fosse quebrado por alguém ou que fosse manipulado, até que meu medo tornou-se realidade. Quando meu menino atravessou os portões da nossa propriedade trazendo pela mão aquela mulher, naquele momento meu coração gelou. Assim que meus olhos pousaram naquela pessoa, percebi que não se tratava de alguém de boa índole e caráter. Tudo nela soava falso: seus olhares para o meu filho, os sorrisos que não chegavam aos olhos, o modo como falava, o jeito de caminhar... enfim, nada nela me agradava. Como uma boa mãe, tentei alertar meu filho várias vezes, mas todas as minhas tentativas falharam. Acabávamos brigando e meu príncipe ficava com raiva de mim. Então, percebi que não adiantava questionar, brigar ou mostrar meu ponto de vista sobre as atitudes da minha nora. Como diz a frase: "o amor é cego, mudo e surdo, e às vezes burro." Fiz o que fui instruída desde pequena: apenas observei e deixei que aquela pessoa destruísse o coração do meu menino. Foi golpe atrás de golpe, as brigas eram intermináveis. Eu queria me meter, mas Gerardo sempre me impediu. Seu argumento era: "Ele arrumou, agora que sustente toda e qualquer situação" ou "Pietro é um homem feito, quando resolveu casar não nos procurou, agora que se resolva com a esposa". Apesar de não aprovar aquela união, preferindo que fosse uma italiana de boa índole e caráter, sempre tratei bem a minha nora. Nunca tentei ser sua melhor amiga, mas a cordialidade e educação fazem parte de mim. Isso durou até três dias atrás, quando Pâmela sofreu um grave acidente de carro e veio a falecer. Embora tenha sido um grande alívio para mim, não deixou de ser um golpe duro ao ver meu filho desmoronar pouco a pouco. Gerardo sempre diz que nosso filho escolheu aceitar seu destino pelo caminho mais tortuoso. Eu sempre discordei, até vê-lo diante de mim, organizando sua mala para cumprir o seu destino. Caminho até a cama e me sento. Procuro não falar nada. Quero que meu filho fale, quero que ele coloque para fora tudo o que sente sem precisar de álcool para isso. _ Posso pedir uma coisa?- Pietro fala sem me olhar, ele está parado perto da janela seu olhar fixo em algo lá fora, o por do sol, talvez? _ Sim, meu querido. _ Quero que mantenha esse quarto da forma que o estou deixando. Não é para retirar nada da Pâmela daqui, tudo vai permanecer como está. - fala com a voz vazia. _ Será como você deseja meu amor. - respondo sentindo que essa mulher arruinou meu menino para qualquer outra garota.- Esse tempo longe vai ser bom para você, respirar novos ares .... _ Não termine com a frase mãe, não pretendo retornar nunca mais, estou indo de encontro com a mort... _ Nem fale uma merda dessas!- berro me levantando da cama. Pietro me dá um sorriso frio! E esfrega as mãos no rosto. _Acha mesmo que estou preocupado com isso? Acha que não desejo isso? Aqui na sua frente só esta a casca vazia, todo o resto se foi com minha mulher.- Pietro abre os braços fazendo menção para onde estamos- Eu não vejo mais sentido na vida, em nada mais. Fico perplexa ao ouvir tudo isso. _ Não pense assim, você é jovem tem muito o que viver. Vai se reerguer encontrar uma nova pessoa se apaixonar .... formará uma família. - tento reverter os pensamento negativos do meu menino. Pietro dá uma gargalhada sinistra que faz com que eu me assuste e até dou um pequeno pulo no lugar. _ Está de brincadeira comigo? Novo amor?Família ? Qual parte do que eu vivi ,você perdeu?- fico sem ação com os gritos que recebo - Eu não posso ter filhos, não posso entendeu! Meu casamento começou a fracassar por eu ser um homem infértil ! Porrraa! !! Deu para você entender agora! _ Fale baixo comigo garoto! Sou sua mãe ! Você está transcendendo os limites!- berro a plenos pulmões- Eu mais do que ninguém sofri junto contigo quando ficou comprovado isso! Não pense que não vejo o quanto isso te afeta, mas nem por isso a sua vida tem de acabar. Pietro soca a parede ao lado da janela; seus nervos estão à flor da pele, levando-o ao limite. _ Mesmo que eu quisesse ter outra mulher em minha vida, o que não é o caso, o que eu faria quando ela quisesse engravidar e ter filhos? Pedir para ela desistir dos sonhos da maternidade por mim? - ele estala a língua e me olha com olhos marejados - A senhora não sabe, não sabe o que é enxergar o desapontamento nos olhos de quem ama, não sabe o que é ver a pessoa que você carrega no coração te lançar olhares de decepção porque você não pode realizar um sonho dela... a senhora não sabe de nada, então não me venha com seus conselhos inúteis! As mãos do meu filho estão cerradas em punhos, seu maxilar está trincado. Por impulso e extinto protetor envolvo meus braços em seu tronco dando lhe um abraço , entre tanto, o que desejo mesmo é ter o poder de arrancar toda dor que ele carrega dentro do peito. Como fazê-lo compreender que existe outras formas de ser pai sem ser pelo método natural da procriação? Decido não tocar mais nesse assunto. Entrego tudo ao tempo; ele se encarregará de fechar essas feridas e abrir os olhos do meu menino para novas probabilidades. Ser pai é mais do que contribuir para a existência. Ser pai é dar aquilo que uma criança necessita: proteção, afeto e um amigo para todos os momentos. _ Já falou com seu irmão? Ele vai te buscar no aeroporto? Tentei contato com Vittorio , mas estava numa incursão , onde só Deus sabe, e não podia falar muito. Troquei poucas palavras e nem deu para perguntar como está Graziela.- pergunto, desfazendo o laço que nos une. _ Conversei com ele na parte da manhã. Está tudo certado, Matteu ficou de me buscar Vittorio não poderá ir ao aeroporto.- fala passando as mãos nos fios escuros. Somos enterrompidos por Gerardo que adentra ao cômodo. _ Vamos ,está na hora! Pietro apenas assente e dá uma última olhada pelo quarto e fixa os olhos num quadro pindurado na parede, uma foto ampliada de Pâmela. _ Sim, vamos. - a voz do meu filho é rouca pelas noites perdidas de sono, noites em que só fez embrigar- se e chorar chamando pela defunta. Saímos os três e seguimos rumo ao aeroporto. Nunca meu coração ficou tão aflito ao ver um filho saindo de perto do meu colo protetor, ainda mais quando ele não se encontra bem psicologicamente. Era isso ou ver meu príncipe definhando. Segurei o choro o caminho todo e também na hora da despedida, mas quando o avião em que meu filho está decola, eu desabo. Saio do aeroporto carregada por Gerardo, enquanto nossos seguranças fazem a nossa escolta. Meus soluços são audíveis. Nem sequer pensei se eu seria alvo de olhares especulativos. Eu sou uma mãe que está sofrendo com a partida de um filho. Meu menino....será que ele iria mesmo cumprir sua promessa de nunca mais retorna ao Brasil? Isso só o tempo vai dizer.
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