Dez anos atrás/ encontro com os senhores Grecco Romani( Luzia)

1180 Words
"As coisas mais ricas da vida estão nas coisas mais simples." Por:Luzia. Hoje é o nosso segundo dia na fazenda Caravaggio. O novo patrão do Fernando deu a ele três dias livres, onde podemos nos organizar e nos acostumar com a casa. Ontem, aproveitei para conhecer a cidade e o comércio local. Comprei tudo o que precisava para abastecer a despensa, uma vez que a fazenda fica numa área bucólica bem afastada de tudo. Passei na farmácia e comprei medicação que não pode faltar de forma alguma em casa, como antialérgico, antitérmico, analgésicos e as vitaminas da Lari. A fazenda disponibiliza uma caminhonete para os funcionários, caso alguém sofra um acidente ou passe m*l. Um veículo reservado para necessidades extremas. Aqui não é muito diferente de Piraí, o chão é de terra batida e há muita vegetação. Quando retornamos, demos uma volta na parte social da fazenda, exceto onde fica a sede. Larissa ficou encantada com os cavalos que vimos passando, todos sendo levados pelos tratadores. Quando retornamos para casa, fiz uma sopa para o almoço e para ajudar a aquecer os nossos corpos. O frio daqui é congelante, levará tempo até nos acostumarmos. Foi por volta das três horas que o celular do Fernando tocou, era o senhor Gerardo dando permissão para que nós fossemos até a sede. Saímos poucos minutos depois e, ao chegar, instruíram-nos a irmos ao jardim e esperar por lá. Deu-me um arrepio nos ossos ao ver a quantidade de seguranças que guardavam o local. Não passaram despercebidas as câmeras de segurança. Ter poder e dinheiro é assim: te trás conforto e estabilidade, mas o medo vem de brinde. Seguimos o caminho indicado até chegarmos ao local de encontro. Meus olhos quase saltaram das órbitas com a suntuosidade. Pergolados espalhados, um pequeno coreto ao fundo e, no centro, em cima de uma coluna, dentro de uma caixa de vidro, a imagem de uma santa. "Eles são católicos."- falei mentalmente. _ Vamos amor?- fui desperta pela voz do meu marido. _Oh! Sim ,claro!- falei, indo em sua direção. Agora estamos os três, sentados em um dos bancos do imenso jardim da fazenda. São quase quatro da tarde e espero ansiosamente para conhecer os patrões do meu marido. Larissa, encantada com as diversas folhagens, enche o pai de perguntas do tipo: "Por que essa folha é mais larga e aquela mais fina?" "Essa tem tantos buracos, algum bicho comeu elas?" Fernando se desdobra para tentar explicar de uma forma que a nossa filha entenda, e eu rio das respostas elaboradas. Até que, ao olhar para o caminho com calçamento que corta o jardim, avisto um homem alto de cabelos grisalhos, muito bem vestido, e ao seu lado está uma mulher com trajes elegantes. " São eles." - murmuro. Rapidamente, cutuquei as costas do Fernando com o dedo, chamando sua atenção, e discretamente fiz um sinal para que olhasse para o seu lado direito. Assim que ele levantou-se, eu fiz o mesmo. O casal se aproximava cada vez mais, sempre altivo e sério. Senti meus joelhos tremerem, tive medo de abrir a boca e ser um fiasco com as palavras. Quando ambos já estavam perto de nós, foi inevitável perceber a presença marcante deles, a altivez e o comportamento aristocrático. Acho que a Lari também ficou impactada, pois a menina se escondeu atrás de mim, segurando a barra do meu casaco com força. _ Boa tarde senhor senhor Gerardo e Violeta , deixe-me apresentar a minha família, essas são minha esposa Luzia e a minha filha Larissa. - a voz de meu marido soou firme e séria, muito diferente de minutos antes. _ Boa tarde, prazer em conhecê-las. Olá bela ragazza, que gracinha - disse o senhor Gerardo para Larissa, que curiosa, colocou a cabeça para o lado, observando o casal à nossa frente. _ Oi... - diz Lari, tímida. _ Que olhos lindos você tem, Larissa! - diz dona Violeta com um pequeno sorriso nos lábios - vem aqui, deixa-me ver como você é. - pede para minha menina. Larissa, desconfiada, olha do pai para mim e em seguida sai do seu esconderijo. Devagar, dá uns passos vacilantes em direção à senhora, que parece encantada com minha filha. _ È una bella ragazza, una principessa. - Larissa olha para mim com o semblante de quem não está entendendo nada e realmente não está. Após os elogios feitos, poucas palavras são trocadas por nós, adultos. Logo, o casal foi embora e nós retornamos para nossa casa. A conversa foi rápida, mas não deixei de perceber os rostos carregados de ambos, assim como a energia do lugar que ficou esquisita após a chegada deles, carregada de melancolia e tristeza. _ Amor? Você percebeu que os seus patrões pareciam estar tristes, estavam com umas caras. - comentei. _ Pareciam não, estão. - afirmou - Fiquei sabendo que faz pouco tempo que eles perderam a nora, me disseram que foi num acidente. Parece que o filho mais novo deles era o esposo, então o rapaz ficou fora de si, num estado lamentável. Quando me contaram, fiquei triste por ele, um rapaz novo de apenas vinte e dois anos passando por uma situação tão difícil dessas. - Fernando fala, pensativo - Entendo, sabe, eu também ficaria arrasado se perdesse vocês. Não deve ser nada fácil lidar com a perda de quem se ama. - Completa, pegando nossa princesa no colo e passando um braço ao redor de meus ombros. _ Mamãe, por que a moça tem nome de planta?- "Começa" Larissa com seus questionamentos. _ Ora filha, é um nome tão bonito! - respondo segurando o riso. _ Mas é nome de planta mamãe! - exclama. _ Rosa também é nome de planta, Margarida, Hortência e também de pessoas. _ Pode até ser mamãe, mas eu não ia gostar de ter nome de planta já pensou vocês me chamando de crisântemo ou Gerbera ? - Fernando e eu explodimos numa gargalhada. _ Pode deixar que papai só vai te chamar de gotinha de luz, tudo bem?- pergunta e beija o rosto da nossa pequena. _ Tá bom. - afirma dando um beijo no rosto do pai- Sabe eu não entendi nada do que aquela moça falou, eles falam esquisitos, né papai?- diz coçando os olhinhos, sinal evidente do sono chegando. _ É que eles tem são italianos, mas com raizes brasileiras.- meu marido diz e Lari parece mais confusa. _ Raíz? Naciona... o quê mesmo?- diz encostando a cabeça no ombro do pai. _ Outro país, Itália. Eles são de lá. Por isso falam diferente, tem costumes diferentes e até a comida deles é um pouco diferente da nossa.- o homem fala sem perceber que a nossa espoleta já está dormindo. _ Amor, ela dormiu.- ele apenas balança a cabeça em afirmação e continuamos nossa caminhada agora em silêncio. Lari é assim: com apenas nove aninhos, tem muita sede de aprendizado, além da curiosidade que domina minha linda menina. Mas não deixa de ser uma garota doce e cheia de amor para dar, sem medidas e restrições para quem se aproxima dela.
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