" Um homem pode ser quebrado de várias formas, no entanto a pior é o ego e o orgulho ferido."
Por: Pietro.
Há momentos em que sinto vontade de esganar Andrea. Ficar aguentando a voz irritante da mulher por duas horas foi o limite para mim. Não sei como conseguirei conviver no mesmo espaço que ela.
Suportei um jantar chato na companhia dos Ricci.
Respiro fundo, afrouxando o nó da gravata.
Essas formalidades têm sido uma pedra no meu sapato. Ter que interpretar o noivo da garota fútil, que só fala besteiras quando abre a boca. A típica boneca, bonita por fora e sem conteúdo por dentro.
Retiro o meu paletó, jogando-o em cima do sofá. Pego uma bebida para relaxar, sento na sala e coloco uma música ambiente.
Degusto da solidão, mergulhado em meus pensamentos. Me deleito com o gosto da bebida. Escuto meu celular tocando, estico meu braço e puxo o paletó. Pego no bolso interno o aparelho, olho o visor e vejo o nome da minha mãe. Acho estranha a ligação, uma vez que a essa hora, eles deveriam estar embarcados e voando para cá.
_ Oi, mammà.- falo assim que atendo.
_ Como está tudo figlio? - sua voz soa reticente.
Algo estava acontecendo, e ela procurava uma forma de me contar. Eu conheço bem os trejeitos da matriarca dos Greccos.
_ O que houve? Vocês adiaram a viagem ?
_ Não meu amor, seu pai está a caminho do Pantanal. Não me senti disposta, então decidi ficar, mas Gerardo não vai demorar, amanhã a tarde ele chega.
_ Meu pai disse para Vittorio que viria para a Itália, ver o vinhedo e resolver outros assuntos por aqui, não mencinou nada sobre ida ao Pantanal. O que se sucedeu?- indago estranhado a repentina mudança de planos.
_ Meu passaporte está vencido, não me atentei para a data e agora tenho que resolver esse percalço, seu pai não quer ir a Itália sem me ter por perto.
_ Só ligou para me avisar isso? - pergunto, sorvendo um gole da minha bebida destilada.
_ Ou, merda, eu não encontro uma melhor forma de falar algo que eu sei que vai mexer com você! - vocifera nervosa.
_ Apenas fale, não fique de rodeios.
_ Larissa está de volta Pietro e grávida. A p***a da garota disse na minha "cara" que a criança é sua! Tem noção disso?
Me engasgo com a bebida, levanto exasperado com a notícia que recebo.
_ Como é ? Grávida? - berro sentindo o ódio me dominar.
_ Pietro se essa mentira começar a correr por aqui na Caravaggio e em Alegrete, vai manchar a reputação da nossa família.
Somos tidos como exemplo de uma família tradicional pela sociedade, e as palavras dessa ragazza podem manchar nossa imagem, figlio! Dio santo!
_ Nada vai sair do nosso controle, mãe. Tentarei embarcar hoje mesmo para o Brasil e resolver esse problema à minha maneira.
_ Que seja, meu filho. Seu pai ficou possesso quando soube, através dos seguranças, que você e aquela golpista estavam mantendo relações. O problema em si só não tomou proporções maiores porque ela foi embora no mesmo dia em que você retornou para a Itália.
_ Em breve eu chego, mãe. Boa noite.
_ Buonanotte, figlio.
Solto um grito de dor que me rasga o peito, me sinto desintegrar por dentro. Ela iria dar a outro aquilo que eu tanto queria e o destino me negou: filhos.
Fico atordoado ao pensar que o corpo que era unicamente meu, foi tocado por outro e que este tinha sorvido o supra sumo do néctar da flor que eu colhi.
Passo a mão pelos meus fios escuros, sendo tomado pelo mais puro ódio. Pego uma cadeira de madeira maciça que faz parte da decoração do meu partamento e a arremesso na parede.
_ Sua filha da p**a do c*****o, vou acabar com você, Larissa! - grito fora de mim.
Pego a minha pistola que está com um silenciador e sigo para o quarto, olho para a pintura que fiz dela.
Tinha se tornado um hábito acordar ou dormir depois de ficar por minutos admirando-a.
Gemo ao recordar da sua boca colada na minha, seu corpo ligado ao meu provando do mais avassalador dos prazeres, e tudo isso ela deu a outro.
_ Sua mentirosa dos infernos! Você disse que gostava de mim! De mim! E rapidamente se entregou a outro, sua prostituta, e ainda por cima carrega a semente férteil do maldito em seu ventre. Por que você fez isso comigo, ragazza! - profiro entre dentes, sentindo minha voz embargar, minha jugular lateja tanto que parece que vai explodir.
Aponto a arma bem no rosto da imagem e descarrego o pente, criando um buraco na tela.
_ Eu vou te esmagar sem dó, serei impiedoso com você. Vai se arrepender de inventar que esse bastardo que carrega na barriga é meu. - vocifero para o nada.
Jogo a arma longe, retorno para a sala, pego a chave do meu carro e saio do apartamento. Quando piso no corredor, meus soldados me seguem.
_ Não quero ninguém atrás de mim, p***a! Ninguém! - berro colérico.
Desço pelo elevador, sendo consumido pela agonia e raiva.
Entro no meu esportivo e saio acelerando pelas ruas, precisando de um pouco de coca para aliviar a ardência em meu peito. Olho para o céu estrelado, que foi espectador das vezes em que fiz da Larissa minha mulher sobre esse manto desnudo. Sinto meu coração acelerar ao mesmo tempo que aperta, uma dor agonizante me devasta.
Pego o caminho da casa de Vicenzo, o stronzo sempre tem alguns pinos do pó em casa.
Chego totalmente fora do eixo.
_ Vicenzo! Abre essa p***a! - berro descompensado com a cabeça para fora da janela do carro.
Enfio a mão na buzina, fazendo um estardalhaço.
Vejo as luzes se acenderem e, em seguida, o portão automático desliza, cedendo-me passagem.
Assim que acelero para dentro, pulo fora do veículo e subo os degraus que levam à pequena varanda.
_ Que merda é essa, Pietro? Eu estava dormindo, cazzo!
_ Me arruma alguns pinos, estou precisando me acalmar, c*****o! Estou por um fio, por um fio, você entendeu! - falo me aproximando do meu primo.
_ Que diabos você tem? Está parecendo um bicho raivoso.
_ Quero a maldita cocaína, seu filho da p**a! Ou me dá ou vou revirar essa desgraça procurando! - grito fora de mim.
_ Com mil demônios, Pietro, o Don vai arrancar minha mão se souber que eu te dei o bagulho, eu não posso. Sinto muito! - fala passando a mão no rosto.
_ Não pode, não é mesmo? Então eu pego por conta própria. - profiro subindo as escadas indo em direção ao quarto onde o infeliz dorme, todos nós temos conhecimento de que Vicenzo guarda a droga numa cesta perto dos preservativos. O i****a oferecia e até instigava as suas parceiras a usarem para retardar o ápice na hora do sexo. A coca retarda o orgasmo, por diminuir a sensibilidade de áreas extremas do corpo.
_ p**a que pariu, Pietro, você vai me complicar! - reverbera vindo atrás de mim.
_ Não se aproxime, se tentar me impedir, não terei pena, irei fatiar seu corpo! - alerto.
Os olhos do meu primo dobram de tamanho e ele recua um passo, sabendo que estou sendo sincero e totalmente capaz de fazer.
Percebo sua sutil locomoção para o lado esquerdo do quarto, o infeliz iria tentar me parar de alguma forma.
_ Se está pensando em atirar em mim, faça para matar, porque se eu sobreviver, arrancarei suas vísceras com você ainda vivo. - falo ao vê-lo se aproximar do aparador que tem sobre seu tampo uma pistola.
_ Cazzo! Seu endiabrado, filho da p**a! O que está acontecendo? Você não está nada bem, anda, fala comigo. Me conta, primo, o que vem te tirando do prumo.
Como é que eu vou contar que a mulher que eu desejo está grávida de outro? Que a jovem doce e ingênua se mostrou a p***a de uma golpista? E que eu estou percebendo tardiamente que ela está deixando na minha alma uma cicatriz.
_ Só estou na fissura, p***a! Só isso! - minto, pegando os pinos e saio da mesma forma que entrei.
_ Fissura um c****e, tem mais coisa nisso aí! Que desgraça é agora?
_ Nada, p***a! - falo me ajoelhando e fazendo as carreiras em cima da mesa de centro da sala, me abaixo e aspiro duas carreiras em cada narina.
Sinto a queimação costumeira no canal nasal.
""Eu vou matá-la, ela e aquele bastardo em sua barriga. Larissa vai pagar um alto preço por mexer com quem não conhece."- falo mentalmente, fechando meus olhos e sentindo o efeito da coca dominando-me.
_ Cara, você tá com uma expressão assassina. Pietro, o que está se passando pela sua cabeça? O psico só serve à 'ndrangheta e não aqui fora. Não apronta nenhuma das suas que Vittorio não vai aliviar dessa vez.
_ Quero que todos vão para a p**a que pariu! Somos um monte de excrementos marcados para servir ao exército no inferno. Nós estamos mergulhados na lama até o último fiapo do cabelo. Talvez seja por isso que o maldito destino nos cobra a ferro e fogo, arrancando tudo de puro que cruza o nosso caminho. - falo, abrindo meus olhos e fixando no homem que veste calça de moletom e camisa cinza.
_ Do que você está falando? - pergunta, franzindo o sobrolho.
Dela, da filha da p**a que acendeu meu desejo de uma forma única e agora me aparece grávida, carregando frutos de qualquer verme latino-americano.
_ Pode voltar a dormir, estou indo embora. - falo, erguendo-me do chão.
_ Fica por aqui, você não me parece nada legal, Pietro.
_ Estou ótimo, Vicenzo, é apenas impressão sua. - replico, saindo pela porta.
Entro no meu carro e manobro, deixando a residência do meu primo para trás.
Acelero pelo caminho, as folhas secas das árvores levantam do asfalto.
"Estou chegando, querida, para acertar nossas contas. Me aguarde." - falo mentalmente, carregando o pé no acelerador.