"Meu coração não tem mais salvação, ele se rendeu a você. "
Por: Pietro .
Estou completamente dolorido.
Meu corpo protesta a cada pequeno movimento.
_ p**a que pariu!- xingo ao sentir dor.
Um corte na cabeça e mais cinco pontos para a coleção, uma luxação no ombro e outra no cotovelo. Foi o que recebi há dois dias atrás.
Tomo uma lufafa de ar ao recordar aquele dia desgraçado.
Quando saí com meu pai para mostrar os novos piquetes, fomos pegos de surpresa pelo gado que avançou na nossa direção, o cavalo que eu estava montado assombrou-se impinou seu corpo avantajado e jogou-me longe , apaguei assim que minha cabeça bateu numa pedra.
Agora estou aqui, debilitado e em repouso por alguns dias, seguindo indicações médicas.
Pego meu celular vendo a quantidade de ligações que Larissa me fez na noite do acidente e na manhã seguinte.
A menina é meu vício na cama, com seus gostos inebriantes e cheiros únicos; no entanto, não passa disso. Aprecio o prazer que o corpo dela me proporciona. Sem sombra de dúvidas, é o melhor sexo que já tive na minha vida. Mas ultrapassar os limites e vir à minha casa, adentrar no meu quarto, invadir minha privacidade sem minha permissão foi demais.
Ela entrou pela porta no momento em que eu remoía algo que ocorreu anos atrás: quando vi minha esposa cair de cima da égua em que ela montava.
Naquela ocasião, senti meu coração quase sair pela boca. Eu que tinha insistido para cavalgarmos, queria levar minha mulher até a cachoeira que tem aqui dentro da fazenda, pretendia fazer amor com ela naquelas águas límpidas. Pâmela aceitou o convite contra a sua vontade, uma vez que não gostava de morar aqui, muito menos de passear por essas terras. Ela insistia para que nos mudássemos para São Paulo, sonhava em morar nos Jardins, e eu queria muito realizar esse desejo da minha amada. Tinha iniciado a compra de uma mansão, eu pretendia fazer-lhe uma surpresa, no entanto, foi mais uma das coisas que ficou perdidas pelo caminho.
"Só eu sei como amo a minha esposa." - falo mentalmente.
Levanto da poltrona que fica perto das portas duplas de vidro e sigo para perto da mesinha de cabeceira. Abro a gaveta e pego uma caixinha de veludo, levanto sua diminuta tampa e ergo de seu interior o cordão que carrega nossas alianças, dou um beijo nelas e guardo-as.
Esse será o meu último mês aqui no Brasil. Não vejo a hora de estar embarcando para a Itália, deixando para trás as lembranças de uma vida doce que me foi roubada, e retornar para a vida trevosa que me abrigou no meu momento de fragilidade.
Escuto alguém bater na porta e, em seguida, uma funcionária entra trazendo uma bandeja em mãos.
_ Senhor, sua mãe pediu para trazer seu almoço. - diz, depositando a bandeja na mesa que está de frente para a cama.
Estou de costas, fitando a chuva que cai do céu fina e serena em milhares de pequenas gotículas.
_ Se ela entrar nessa casa mais uma vez, você está na rua. - falo calmo.
_ Eu... eu... desculpe-me.
Me viro e fito a mulher. Carmem está com a cabeça inclinada para baixo. Eu sei que foi ela que facilitou a entrada da ragazza aqui em casa.
_ Pode se retirar. - ordeno, vendo a mulher se mover com rapidez.
Olho para a comida coberta por um cloche de vidro, sem vontade de experimentá-la.
Sento-me na frente do computador e vou em busca de revisar os gastos que estamos tendo com a nova fazenda. Vejo algumas abas abertas e vou fechando-as uma a uma. De repente, me deparo com uma em que eu vasculhei as redes sociais da Larissa.
Hackear suas contas e trocar suas senhas, bloqueando seu acesso, foi extremamente fácil, fiquei possesso quando me deparei com a quantidade imensurável de homens que seguem a menina.
Entro em uma de suas redes e fico vendo suas postagens, em sua maioria fotos dela. Paro em uma das foto onde ela está usando um vestido branco, seus olhos verdes vibrantes transbordam vivacidade, seu sorriso alvo como a neve totalmente genuíno, nada forçado, e seus fios arrumados em uma trança enfeitada por pequenas flores coloridas, um conjunto perfeito registrado.
Minha observação é interrompida quando ouço a voz de minha mãe.
_ Figlio, estou entrando. - avisa dona Violeta com a sua cabeça já dentro do meu espaço particular.
Desligo o computador, não permitindo que ela tenha acesso ao que estou vendo.
_ Entre, mamma. - falo me erguendo da cadeira.
_ Não comeu nada, Pietro? Está r**m o sabor da pasta? - pergunta olhando para a bandeja intacta.
_ Estou sem apetite, mamma, depois eu como. - falo indo em busca dos remédios que preciso tomar.
_ Sei bem por que está assim, o maldito tombo acionou a p***a do gatilho das suas lembranças. Quero entender qual é o prazer que você sente se torturando com o passado. Pietro faz dez anos, figlio, hora de virar a página.
Gargalho sem humor com suas palavras.
_ A senhora se esqueçe que faz tempo que não sei o que é respirar, esqueçe que vivo sufocado em minha dor, esqueçe que sou a p***a de um homem seco, destruído pela vida de todas as formas. Fui empurrado para o abismo, mamma, e ninguém me segurou. Então não me venha falar em resetar e recomeçar, porque não tem recomeço e sim continuidade. - falo, engolindo as drágeas a seco.
_ Você está se perdendo a cada ano que se passa, matando aquele Pietro doce, amável e atencioso. Está dando lugar a esse homem frio, calculista, figlio, você sequer sorri. Sempre está com o rosto inexpressivo para tudo. Não se destrua, amore mio.
_ Não se destrói o que está arrebentando.
_ Cazzo, figlio, fico pensando se um dia vai surgir alguma ragazza que resgate você desse mundo trevoso que você se isolou. Uma vez que Andrea, não conseguiu isso!
Olho para minha mãe que tem o olhar totalmente focados em mim.
_ A morte me resgatará quando for o momento. Talvez ela me conceda a liberdade quando eu partir.
_ Dio santo! Não fale uma merda dessas, Pietro! - diz, apontando o dedo em riste para mim.
Me sento na cama, sentindo o meu joelho latejar.
_ Fale, por qual motivo veio aqui? Tem algo para me dizer? - pergunto, sabendo que sua vinda até me quarto não é à toa.
_ Sim, tuo papà aceitou um convite para que você o represente na festa que ocorrerá este mês na cidade. - diz, e o que ouço me inerva.
_ Como? Por que ele fez isso sem falar comigo? - pergunto, apoiando minhas costas no travesseiro e fechando meus olhos.
_ Ele não poderá ir, viajará para São Paulo para resolver aquele problema que você descobriu, o desvio. E não podemos perder oportunidades. Teremos políticos influentes e podemos adicionar mais alguns nomes à nossa lista de pagamentos. É bom ter essas pessoas dentro dos nossos bolsos. O tentáculo da organização aqui no Brasil tem se fortificado, mas empecilhos sempre surgem, você sabe disso. E , futuramente, podemos nos valer dessas "amizades".- Fala tudo que eu já sei. Temos muitos dos nossos infiltrados no alto escalão da política e na nata da sociedade, tanto brasileira quanto italiana.
_ Estarei lá. - falo, fechando os olhos com o sono chegando, efeito da medicação se manifestando silenciosamente.
Sinto meus músculos relaxarem e a escuridão me abrigar.