" O sexo da reconciliação é o melhor de todos, parece que o corpo fica mais sensível a cada pequeno toque, talvez seja apenas o amor voltando a vida depois de ficar agonizando por um período."
Por: Larissa.
Dezesseis dias sem vê-lo, dezesseis dias que ardo iguais às areias do deserto do Saara e esfrio iguais às geleiras da Antártica. Dezesseis dias que eu não o vejo e as poucas notícias que tenho a respeito dele são trazidas pelos meus pais.
Rabisco a folha do meu caderno, talvez um poema ou uma canção que eu possa dedilhar no meu violão. Arrancar melodias tristes de suas cordas, fazer um soneto com a melancolia que se encontra em meu coração.
Amar alguém não é fácil como todo mundo fala.
Amar alguém é extremamente difícil; você nunca está preparado para uma palavra mais dura, uma atitude mais grosseira ou para suportar a saudade.
E eu estou sentindo muita falta dele, mesmo que a raiva do que ele me fez venha me consumindo pouco a pouco. Mas dentro de mim, o sentimento que tenho por ele está intacto, não sofreu um arranhão sequer.
Talvez eu seja a tola enamorada que, mesmo com todas as pancadas que toma, suspira apaixonada pelos cantos, por provar pela primeira vez do amor.
_ Senhorita Medeiros, está prestando atenção no que estou falando! - A voz potente do professor de literatura inglesa vocifera, chamando a minha atenção.
Levanto meu olhar para o homem alto, de pele rosada e magro como um bambu.
_ Desculpe, eu me distraí. - falo, sendo mastigada pela vergonha.
_ Isso tem ocorrido muito nas duas últimas semanas. Tenho reparado que nas minhas aulas você está bem dispersa. O que houve? É tão enfadonho falar sobre literatura inglesa? - pergunta, se aproximando da minha mesa.
Fico sem saber o que fazer: devo responder ou fechar meu caderno para que ele não tenha acesso ao que estou escrevendo.
_Vamos ver o que é tem de tão interessante aqui, que a senhorita não está prestando atenção à minha explicação sobre o clássico Frankenstein.- diz ele, capturando meu caderno.
O sangue fugiu do meu rosto e depois voltou com força, deixando minhas bochechas vermelhas. A sala estava em completo silêncio, todos os alunos com os olhos e ouvidos atentos ao professor Douglas. Se um mosquito voasse, com certeza ouviríamos o bater de suas asas.
Torço minhas mãos no colo e posso ouvir as batidas do meu coração ecoando na minha cabeça, como um grito reverberando numa uma caverna profunda.
Mordo os meus lábios, tentando aplacar o nervosismo que percorre o meu corpo. Na realidade, eu não sei bem por qual razão temos de estudar a bendita literatura inglesa se podemos ler os livros traduzidos para o nosso dialeto. Entretanto, segundo o próprio Douglas, quem lê sabe se expressar bem, escrever bem e, para aprender uma língua estrangeira, é preciso praticar. E uma das melhores formas de não deixar o aprendizado enferrujar é lendo livros.
_ Nossa, que profundo! Uma carta de amor, senhorita Medeiros? - o professor pergunta depois de ler.
_ Não é uma canção. - respondo sem coragem de encarar o seu rosto.
_ Então será uma bela canção - diz para mim e coloca o caderno em minha mesa, voltando-se para a turma. A colega de vocês, senhorita Larissa Medeiros Alencar, parece não ter sido cativada pelo nosso clássico Frankenstein, que é um conto moral que adverte, em tom de horror, que a ciência pode ser também uma forma de ignorância. Deixaremos, então, para outro dia a dissecação dessa obra maravilhosa e vamos partir para outra que com certeza todos já devem ter ouvido falar: Romeu e Julieta! - diz, voltando-se para a lousa branca e escrevendo os nomes bem grandes, como se todos nós tivéssemos problemas de visão.
_ Professor, mas Romeu e Julieta não é uma peça de teatro, algo do tipo?- pergunta uma aluna sentada atrás de mim.
_ Temos o livro, também, minha querida Carolaine - responde, indo até sua bolsa enorme de couro e tirando de lá de dentro o exemplar e nos mostrando. - Quero que todos adquiram esse livro. De primeiro momento, emprestarei o meu para a senhorita Medeiros, que é a responsável por nos enveredar por essa veia de romantismo e sofrência.
Quando o professor fala isso, olho de supetão para ele e balanço a cabeça de leve em negação.
_ Leia e me faça uma dissertação argumentativa sobre seu ponto de vista a respeito do desenrolar do amor do casal e as agruras que permeiam o envolvimento dos dois - gelo por inteira quando Douglas solicita isso para mim. - Tudo em inglês, senhorita Medeiros, não esqueça! - completa, colocando o livro em minha frente.
Meus olhos grudam na capa, no miolo envelhecido, bem oxidado e na lombada gasta.
_ Não acho interessante essa história de Shakespeare, morrer por amor. Isso só aconteceu na época de não sei quantos e lavai bolinhas.Hoje em dia não deu certo, agente parte para outra, se matar por causa de alguém é burrice! História mais b***a essa! - manifesta um rapaz cujo rosto é coberto por piercings.
_ Ronaldo, você deveria ler antes de ter um preconceito sobre a obra. Para quem não sabe, Romeu e Julieta pertence a uma série de romances trágicos. É uma história dramática, intensa e visceral. - o professor anda pela sala entre as carteiras - Essa tragédia é ambientada na Itália, em algum momento do século XVI. Esse clássico fala de amor, ódio e desejo pessoal. Pertencente ao Classicismo, a peça foi escrita por volta do ano 1592, pelo famoso dramaturgo inglês William Shakespeare. É algo bem profundo que envolve uma rivalidade entre duas famílias e....- ele nos olha- o resto vocês terão que descobrir lendo.
Por predestinação ou não, eu estava numa situação parecida, vivendo um drama com um italiano, algo visceral, intenso e regado por amor, raiva e desejos intensos.
_ Bom, meus queridos, quero que pesquisem e leiam o livro em inglês via PDF, EPUB, ou baixem no k****e quem tiver. Não pensem em bancar os espertinhos e ler em português. Irei solicitar que resgatem as passagens na língua que estudamos. - Douglas olha o relógio em seu pulso e caminha para a sua mesa - Bom, até a próxima aula, e meus alunos, se quiserem aprender, devem ler os livros. - diz, pegando seus objetos pessoais e se evadindo da classe.
_ Valeu, hein, Medeiros, por nos meter nessa furada! c****e, custava prestar atenção na bosta da aula, agora vamos ter que ler um livro chato pra caramba e pior, citar trechos daquela bomba.- Christoph, filho de um dos vereadores de Alegrete, fala transbordando descontentamento.
_ Desculpas, eu me distraí. - manifesto, arrumando o meu material dentro da pasta. Olho para o pequeno espaço que não dá para acomodar o livro e resolvo levá-lo na mão.
Quando estou passando pela porta, uma mão toca em meu ombro. Viro minha cabeça por cima do ombro e vejo Nathan me olhando com um sorriso no rosto. O rapaz é assim, de riso fácil, sempre de bem com a vida e sociável com todos.
_ Faça pouco caso das palavras do Christoph, ele detesta esse curso e só faz porque o pai o obriga. - fala, ficando ao meu lado.
_ Não sabia, no entanto, tem muitos que estão como ele, fulos da vida comigo. - falo, abrindo a minha bolsa e procurando meu celular que começou a tocar. Resgato o aparelho dando uma rápida olhada na tela.
_ Oi, pai!- digo atendendo a chamada.
_ Filha, escuta, não poderei te buscar. Surgiu um imprevisto na fazenda e estou "preso" aqui, mas dona Violeta está aí fora e vai fazer a gentileza de trazê-la. Avise-me.
_ Tudo bem, pai, não se preocupe. - falo, desgostosa, porque tudo que eu não queria agora é contato com algum Grecco.
_ Espere por ela na calçada, dona Violeta sabe onde fica o prédio. Beijos, filha, papai te ama.
_ Eu também te amo, pai. - falo, desligando o celular.
Olho para Nathan, que não tem mais o sorriso no rosto e sim os olhos orvalhados.
_ Céus, você está bem? - pergunto diante da comoção que presencio tomar conta do rapaz.
_ Apenas me emocionei vendo o carinho entre você e seu pai. - ele abaixa a cabeça, fita os seus tênis vermelhos e, em seguida, me olha. - Eu não conheço meu pai. Tem vezes que me pergunto se eu teria uma relação de pai e filho tão forte com ele.-ouvir sua confissão trava a minha garganta. Não sei o que dizer e opto por silenciar-me.
_ Eu preciso ir, minha carona deve estar chegando. - falo, fazendo um pedido mudo de licença para me retirar.
_ Oh, sim, claro! Eu descerei com você, mas me conta, senhorita Medeiros - diz ,fazendo troça da forma como o Douglas se refere a mim - não sabia que é uma compositora. Toca algum instrumento? - pergunta conforme descemos o primeiro lance de escadas.
_ Não sou compositora, escrevi só para passar o tempo - falo escondendo que na verdade estava colocando no papel vários sentimentos que tenho por um italiano imprevisível - e toco violão - falo dando um pequeno sorriso para o rapaz.
Continuamos nosso percurso conversando amenidades. Nathan me arranca risos e gargalhadas. Estou tão entretida com a nossa conversa que sequer reparo no carro parado perto da calçada.
_ Foi muito bom conversar com você, Medeiros - diz, pegando a chave do bolso de sua calça. Nathan me dá um beijo no rosto e se afasta indo em direção a uma moto uma
Fazer FZ25 Thor, edição limitada.
Dou um aceninho com a mão quando ele sobe na motocicleta e sou retribuida. Vejo-o partir a toda velocidade.
Quando olho para frente, quase deixo cair o que tenho em mãos. Não somente dona Violeta veio me buscar, mas ele também está aqui e me fuzilando com os olhos.
_ Vamos, bambina! - fala a senhora Grecco, olhando para mim.
Sinto minhas pernas pesarem a cada passo que dou para me aproximar do carro. Minha mão gelada abre a porta e entro no veículo.
_ Boa tarde. - sou educada.
_ Buon pomeriggio, para você também, ragazza.
Somente a mãe me devolve a saudação.
Totalmente deslocada, pego o livro e me refugio nele, faço um coque em meu cabelo e começo a leitura.
_ Gosta de Shakespeare, Larissa? - Dona Violeta pergunta enquanto dirige - Esse exemplar está em inglês, você não está estudando italiano?- a mulher pergunta e só depois me dou-me conta que ela pensa que estou aprendendo sua lingua natal.
" Caramba, porque não falei a verdade!"- penso.
_ Foi um colega que me emprestou.- falo sem desviar meus olhos da folha, vai que se eu a olhar, ela percebe que estou mentindo mais uma vez.
_ Hã, entendi. O velho golpe de usar algo que a menina gosta para poder se aproximar, foi aquele rapaz que estava com você que lhe emprestou ? Você estava tão leve na companhia dele, sorrindo um para o outro. É teu fidanzato ?
"Findan... o quê? Que isso significa? "- falo mentalmente.
Me faço de desentendida, porque não entendi mesmo. Deixo um pequeno espaço de tempo passar para depois olhar na direção da senhora Grecco.
_ Me desculpe eu não prestei atenção. O que me perguntou.
_ Fidanzato, bambina, se é tuo namorado! Capisce?
" Ou droga, então é isso que ela quer saber?"- penso.
_ Não somos apenas amigos., esclareço retornando à minha leitura como se estivesse realmente conseguindo me concentrar, tendo Pietro bem pertinho de mim.
_ Uma pena, é um belo rapaz. Você não gosta de ninguém, Larissa?
Quase me engasgo com minha própria saliva, aperto o livro com os dedos, tentando me livrar do desconforto que a pergunta me causa.
_ Eu...
Ouço a voz dele e meu peito paresse ser insuficiente para segurar o meu coração descompassado.
_ Mamma chega, estou com dor de cabeça.- fala em tom frio.
Violeta olha para o filho e depois retorna a prestar atenção no trajeto.
_ Se a dor continuar, teremos que retornar ao médico, Pietro. O doutor Glauber foi bem claro quanto a isso. Pelo menos agora você está livre da tipoia.
Eu olho pela janela de vidro, vendo a natureza passar num borrão em tons verde e amarronzados.
O silêncio sepulcral se fez presente por algum tempo, até que a senhora Grecco avisa que chegamos.
_ Pronto, estamos em casa, meus queridos.
_ Obrigada pela carona. - falo, fechando o livro e me preparando para desembarcar.
_ Fica, vou até a baia ver como está tudo por lá, deixo você no caminho da sua casa.
Paraliso diante do que ela fala, meu ventre se contorce.
_ Dio Santo, Pietro, deixa isso para outro dia, figlio, você estava reclamando de sentir dor a pouco tempo. - Dona Violeta brada descendo do carro.
_ Será breve, mamma, quero só verificar se tudo está nos conformes. Fiquei muito tempo sem acompanhar a gestão e gerenciamento da fazenda.
_ Então fique, Larissa. Pietro te levará. - a mulher vestida com um conjunto de calça e blusa em tom rosê nos dá as costas e sobe os degraus que dá acesso a sofisticada varanda principal da mansão.
O italiano desce e contorna o veículo, vindo a sentar-se ao volante.
Sem dizer uma palavra, Pietro coloca o carro em movimento. Seguimos rumo ao caminho que nos leva à baia, no entanto estranho quando ele passa direto pela minha residência.
_ Pare, Pietro, eu quero descer. - peço, vendo a casa pintada de branco, ficando cada vez menor conforme nos afastamos.
Sou ignorada com maestria, o italiano acelera o veículo fazendo a poeira levantar. Os tons de laranja e lilás dominam o céu. Desviamos do caminho que nos leva à baía e entramos pelo meio dos matos rasteiros.
_ O que você está fazendo? - vocifero nervosa.
Salto para o banco da frente, tento pegar o volante das mãos dele, tentando atrapalhá-lo, contudo seu braço direito me bloqueia.
Nos aproximamos de uma construção antiga, uma espécie de galpão abandonado, cercado por várias árvores e escondido pela vegetação. É aí que ele para o carro.
Olhei para a coisa em ruínas, com suas paredes carcomidas pelo tempo, um lugar pavoroso digno de filmes de terror.
_ Por que estamos aqui? - pergunto.
_ Quero ficar um pouco com você. - diz, olhando para mim.
_ Mas eu não quero. Você me repeliu, Pietro. - falo, fitando a noite que se aproxima através da janela.
_ Não era o momento para você estar por perto.
_ Então existem momentos certos para que eu possa te ver, estar com você. - não faço uma pergunta, e sim uma afirmação. - Caramba! Acontece que eu fui lá porque estava preocupada com você. Entrei em desespero quando soube que tinha se acidentado. Você me ignorou, Pietro. - desabafo, sentindo as lágrimas se acumularem nos cantos dos meus olhos- Quer saber? Me deixa em paz. - falo, descendo do veículo.
Não chego a ir muito longe porque o italiano atravessa com o carro na minha frente. Pietro vem na minha direção com passadas apressadas.
_ Preciso de você, Larissa. - diz, enlaçando a minha cintura e colando sua testa na minha - Te quero muito, bella mia, te peço, fica comigo, fica perto. Estou com saudades, morrendo de vontade de você. - seus olhos acinzentados me atingem em cheio.
As minhas lágrimas descem pelo meu rosto, a minha saudade gritando por ele, por seus toques.Tudo sendo externado, me desnudando na frente dele, minha alma clara revelando-se com minhas fraquesas.
Seus lábios procuram pelos meus, derrubando todas as minhas barreiras de proteção. Largo a pasta e o livro que vinha carregando e seguro seu rosto, puxando-o para mim, aprofundando o nosso beijo. Nossas línguas se enroscam numa dança pecaminosa.
As mãos ágeis do italiano arrancam as minhas roupas. Pietro forra o seu sobretudo no chão e me deposita em cima da peça, acompanho com o olhar o homem se livrar de suas vestes. Meu coração palpita de ansiedade.
Ele se deita sobre mim, seus olhos nos meus olhos, ele segura as minhas mãos acima da minha cabeça. Sou invadida por seu m****o, ao mesmo tempo que sua boca mordisca o meu pescoço.
Enquanto ele me devora, a emoção de ser mais uma vez dele me invade, e choro em meio ao prazer. Pietro colhe cada gota salgada que escorre pelos meus olhos.
- Te aprecio tanto, piccola! - diz, investindo duro e pesado em meu interior.
Meu orgasmo chega como um tsunami, embolando e revirando tudo dentro de mim.
_ Aaahhh, Pietro! - chamo por ele, perdendo-me no prazer.
Sinto suas investidas pararem. Quando abro meus olhos, ele está me mirando com tanta intensidade. Sua boca cola na minha outra vez e seu quadril se arremete contra mim com mais ímpeto, acompanho o seu ápice chegar. Seu tronco desaba sobre o meu corpo.
_ Você é maravilhosa, ragazza. - diz baixinho, arfando.
Todos esses dias que estivemos longe um do outro me perguntei o que faria com o calor do meu corpo sem ter o dele para aquece-lo , com meus beijos que só querem a sua boca , com meus olhos que só querem vê-lo, e o que faria com esse amor inútil sem tê-lo para amar.
_ Preciso ir. - falo preocupada com a hora.
Pietro sai de dentro de mim e começa a se recompor. Eu faço o mesmo, pegando as peças espalhadas.
Depois de vestida, recolho meu material e minha bolsa.
O italiano cola seu tronco em minhas costas, sua boca tecendo uma trilha de beijos em meu pescoço.
_ Te pego mais tarde no mesmo lugar, bella mia. Seu cheiro é tão instigante, Lari.- murmura ao pé do meu ouvido.
Meu coração infla ouvindo ele me chamar de uma forma tão íntima.