" O infinito e mais um pouco, é onde eu vou para te roubar para mim."
Por: Larissa.
Ontem à noite, cheguei aterrorizada em casa, chorei muito durante o banho. O pior foi a desculpa esfarrapada que inventei para explicar o machucado na minha boca.
" Nossa, Larissa, o que aconteceu? Sua boca está sangrando!" - perguntou minha mãe assim que passei pela porta, seus olhos preocupados me reviravam para todos os lados.
Meu pai correu ao meu encontro, meu corpo tremia feito uma vara de bambu.
"O que houve, filha? Você está pálida e gelada?" - disse ao tocar a minha mão.
Eu disse meias verdades, que alguém fechou o cadeado da porteira e tive que entrar pela passagem utilizada pelos patrões. No entanto, por lá estava tudo muito escuro e acabei me assustando quando escutei um barulho. Acabei correndo e cai, assim consegui o machucado.
_ Por Deus, filha! Que barulho foi esse? Está nos escondendo que algum dos seguranças dos Grecco tentou fazer alguma coisa contigo? - A indagação do meu progenitor me fez arregalar os olhos.
Balancei a cabeça em negação várias vezes. Por ironia do destino ou não, um canto horripilante entrou pela porta.
- Foi isso! Isso que eu ouvi? - falei, apontando para fora.
- Caramba, Lari, é o canto do Urutau. Quando você era pequenina, lá em Piraí, nós encontramos um, lembra? - minha mãe disse, alisando meus fios.
_ Lembro, mas não desse canto horripilante que esse bicho crocita!
Meu pai me olha, como se não tivesse acreditando em nenhuma palavra que saí da minha boca.
- Leva a menina para tomar um copo de água com açúcar, Luzia. Que o susto foi grande.- diz, balançando a cabeça em negação.
- Vou levar sim, Fernando. Vamos, filha.
Levantei-me com as pernas parecendo duas gelatinas e a segui bem de perto.
Como eu poderia dizer aos meus pais que o filho do patrão cismou comigo? E se eu contasse e ele negasse, quem ficaria com a cara de tacho seria eu.
Depois de beber um copo duplo de água adocicada, minha mãe me levou até o meu quarto.
_ Fora esse susto que você levou. Como foi o passeio?
Sentei na minha cama e retirei as botas dos meus pés.
_ Rodrigo me deixou desconfortável, disse que gosta de mim e me pediu em namoro. Foi....nem sei como dizer.- comento retirando os brincos das minhas orelhas.
_ Você disse o quê para o rapaz?
_ A verdade é que eu não sinto amor por ele.
_ Antes uma verdade que dói do que uma mentira que pode provocar verdadeiros desastres. - minha mãe profere.
Agora estou aqui, um dia depois do ocorrido, com os nervos me matando pouco a pouco.
Decidida a não atender nenhuma ligação do sujeitinho.
"Se ele pensa que vou fazer o que ele quer, está muito enganado" - falo mentalmente.
_ Irei te evitar, Pietro. Você acabará se cansando e partindo para outra.- murmuro enquanto passo uma pilha de roupas que acabei de tirar do varal.
São por volta das cinco, quando estou saindo do banho e ouço meu celular tocando. Apreensiva, olho para o visor e reconheço o número do infeliz. Rejeito a chamada e coloco o telefone no modo silencioso.
_ Vai à merda, seu babaca dos infernos - falo com o celular na mão.
Deixo o meu quarto e rumo para a cozinha com a intenção de fazer um lanche. Pego algumas frutas, pico, coloco mel por cima e retorno para a sala, onde ligo a televisão e fico assistindo alguns filmes até a hora dos meus pais chegarem.
Escuto as vozes deles ao entrarem na varanda.
Levanto do sofá e abro a porta para recebê-los .
_ Olá, boa noite!
_ Boa noite, minha princesa. - meu pai diz, adentrando em casa.
_ Oi, filha! Passou pomada direitinho no machucado? - Dona Luzia pergunta ao me dar um beijo no rosto.
_ Sim, mãe. Fiz uma salada de frutas e deixei na geladeira para vocês. - aviso.
Noto o semblante carregado da minha mãe e do meu pai. Estranho, normalmente eles chegam em casa bem humorados.
_ O que houve? Vocês estão com umas caras? Seu Gerardo piorou, é isso? - pergunto intrigada.
_ Nada, meu anjo. O senhor Pietro estava com todos os demônios e mais um pouco hoje, o homem estava possesso com alguma coisa. Sobrou para todos os funcionários, hoje foi só fúria.
Estremessi com as palavras que meu pai disse.
_ Ai, nem fala Fernando. E o pior é que ele estava sempre tentando falar com alguém pelo celular e quando não era atendido, seu humor piorova.
Ouvir minha mãe comentar sobre isso, faz meus pelos eriçarem.
_ Certeza que é dinheiro, gente rica não gosta de perder um centavo, quem dirá ser passado para trás, ser feito de bobo. Tenho pena do infeliz que está tentando enganar um homem da estirpe do senhor Pietro, vai se lascar todo.- meu pai fala, e some pelo corredor.
Engulo em seco.
" Será? "
_ Espero que amanhã dona Violeta retorne. Era para o patrão ter alta hoje, mas houve uma alteração nos exames dele e os médicos decidiram segurá-lo. Ela, pelo menos, estando em casa, deve amenizar o clima pesado que o filho deixa no ambiente. O homem é estranho, minha filha, aparece nos lugares sem fazer nenhum barulho, nos olha como se sempre estivesse nos avaliando. Fala pouco, sempre taciturno. Às vezes tenho medo dele. - minha mãe diz enquanto se senta no sofá.
Travo minhas mãos, estou suando frio. Que tipo de pessoa é esse Pietro? A imagem daquela quantidade absurda de facas arrumadas dentro de uma maleta que mais parecia um estojo não sai da minha mente.
_ Foi bom mesmo você ter saído daquela casa. O sujeito não gosta muito de você. Já pensou se, em um dia sombrio como o que ele estava imerso hoje, você cruzasse o caminho dele? Nem quero imaginar! - dona Luiza diz, mudando o canal da televisão.
Emudeço, olhando para a porta que ficou aberta e com os meus pensamentos à todo vapor.
_ Bom, eu vou me deitar. - aviso me levantando do meu lugar.
_ Vai sim, filha, bom descanso.
_ Obrigada, mãe.
Assim que fecho a porta do meu quarto, corro e pego o celular, tem muitas chamadas perdidas dele e uma porção de mensagens de voz.
Minha boca seca, meus dedos travam, perco a coragem de ouvir os áudios.
Solto o aparelho como se ele queimasse em minhas mãos.
Desligo a luz do cômodo e me deito, cubrindo o meu corpo.
Penso nele, nos seus olhos, na sua boca desenhada, no seu nariz afilado e nos nossos beijos.
Eu não posso mentir para mim mesma e dizer que o italiano não me atrai, porque atrai e muito. No entanto, ao mesmo tempo que me sinto arrebatada por Pietro, sou repelida por essa nuvem pesada que o cerca. Vivo dentro de mim uma mistura louca de sentimentos.
Respiro profundamente, aos poucos meu corpo relaxa e o sono me embala.
O mago dos sonhos vem me buscar e me leva em seus braços para a terra dos pesadelos, nele sou perseguida por muitos homens armados que querem retirar de mim dois diamantes que escondo nas palmas das minhas mãos.
Acordo assustada, levanto e vejo uma iluminação fraca entrar pela janela. Esfrego meus olhos, abro uma pequena fresta na cortina e dou uma espiadinha.
O céu está feio, cinzento, o evidente presságio de uma chuva pesada que vai cair.
Saio do quarto sonolenta, me arrasto até o banheiro, tomo um banho quente para despertar. Coloco uma saia longa verde e uma blusa azul bebê, penteio os meus cabelos e escovo os dentes.
Depois de arrumada, sigo para a cozinha e vejo em cima da pia uma sacola com as garrafas de café que meu pai costuma levar para o serviço.
Suspiro, não era a primeira vez que isso acontece.
Olho para o relógio e são oito da manhã. Pego as garrafas e as coloco dentro de uma sacola de tecido, decidida a entregá-las. Faço meu desjejum, pensando no que preparar para o almoço.
Assim que termino, pego na área de lavar minhas botas de cano curto e calço-as.
Deixo a minha casa para trás e ando apressada pelo caminho. Olho para o céu tempestuoso com suas nuvens carregadas. O vento gelado bate na pele do meu rosto, e me xingo mentalmente por não ter colocado um casaco para me proteger do frio.
Não cruzo com ninguém pelo caminho; a fazenda parece um deserto, um lugar abandonado sem uma viva alma circulando.
Olho ressabiada para a mansão dos Greccos.
"Você não manda em mim, seu i****a. Eu vou aonde quero e quando quero", murmuro.
Depois de minutos andando, finalmente chego na baia.
_ Pai, trouxe as suas garrafas térmicas. - aviso fechando o trinco da porteira.
A cabeça do senhor Fernando, surge na outra ponta do longo corredor.
Meu progenitor olha de uma lado para outro parecendo preocupado, logo dispara em minha direção.
_ O quê você está fazendo aqui? Caramba, Larissa, não ouviu as ordens do senhor Pietro?- ela brada, bravio porém com a entonação da voz baixa.
_ Eu fiquei preocupada. Sei que quando tem muito trabalho, o senhor nem aparece para almoçar, por isso gosta de trazer o seu cafezinho para enganar a fome.- falo, estendendo a sacola com as garrafas.
_ Oh, minha boneca, eu agradeço muito, mas vai embora logo antes que o italiano surja e arrume confusão por causa da sua presença.
_ Eu já estou indo. Tenha um bom serviço, pai.- me despeço dando um beijo em seu rosto.
Dirijo-me para a saída e quando estou prestes a pisar na grama, a chuva cai pesada.
Olho para o corredor e meu pai não estava mais lá, olho para o céu desabando.
Fico parada debaixo da cobertura no lado exterior da construção, esperando dar uma amenizada no aguaceiro que cai. De repente, vejo dois homens correndo na direção de onde estou, reconheço-os: são Pedro e Carmelindo.
_ Rapaz, tomamos um banho, hein! - diz Pedro, retirando o seu chapéu e dando umas sacudidas para tirar o excesso de água.
_ Faz parte, dizem que lava a alma quando nos molhamos na chuva. - Carmelindo replica.
Escuto os passos deles se aproximando de mim.
_ Oi, Larissa, está perdida por aqui? - Pedro pergunta, parando ao meu lado.
Olho para o rapaz moreno que tem um talo de capim na boca.
_ Não, trouxe as garrafas de café que meu pai esqueceu. - falo, cruzando os braços.
_ A entrega do feno vai ter que ser adiada, descarregar o capim de baixo desse toró vai mofar tudo. - Carmelindo diz, olhando ao longe.
_ Nem me fale, aquele italiano da desgraça é capaz de querer nos fazer comer o capim mofado. Nunca senti tanta saudade do senhor Gerardo. - Pedro manifesta-se.
_ Falando no d***o. - Carmelindo sussurra.
O barulho do motor de um carro parando na lateral da construção me causa um pânico.
" Pai amado, ele me viu aqui."- falo olhando de r**o de olho para o veículo.
Pietro salta do carro e segue a passos largos na nossa direção.
Finjo que não percebo sua aproximação, mesmo que meus joelhos estejam perdendo as forças.
_ Está com frio, Larissa? Quer um abraço para se aquecer? - Pedro que é muito brincalhão, diz sem malícia alguma.
_ Não, obrigada, eu já estou indo. - Falo e saio no meio da chuva, não dei tempo para o infeliz conseguir se aproximar.
_ Oou, garota! Espera a chuva passar, vai acabar ficando doente!- escuto a voz de Carmelindo se sobrepondo ao barulho da das inúmeras gotas que cai do céu.
Começo a correr, sinto a minha roupa ficar ensopada e pesada a cada segundo.
Sem fôlego, paro um pouco e puxo o ar pela boca, meus pulmões protestando.
Fico em alerta quando o som de um carro se aproximando chega aos meus ouvidos.
Evito olhar para trás, continuo andando com passos rápidos.
Vejo pela minha visão periférica a caminhonete preta ficar ao meu lado.
_ Entra no carro, Larissa. - a voz grave do homem faz meu corpo esquentar.
Olho para Pietro, com seu típico olhar frio.
_ Vai para o inferno, italiano. - falo, iniciando uma nova corrida.
Me assusto quando ele joga o carro na minha frente, fico tensa.
Pietro desce do veículo.
_ Mas o quê... - minha frase fica incompletada, o italiano pega meu braço e me leva até o carro.
_ Entra, cazzo! Agora! - vocifera alterado.
Sou empurrada para dentro do veículo.
Sento no banco do carona, minhas roupas encharcadas deixa tudo molhado pelo caminho.
Pietro entra no veículo e bate a porta com tanta força que encolho meu corpo diante do barulho.
_ Pensou mesmo que ia se livrar de mim, ragazza? Testarda!
Estou congelando aqui dentro, o ar-condicionado do carro está no talo, isso faz com que eu abrace meu corpo, procurando me aquecer.
Pietro estica a mão e pega no banco traseiro um casaco grosso e me estende.
_ Se cubra com isso, vai minimizar o frio.
_ Obrigada.-falo batendo queixo.
Pego a blusa de tecido macio e coloco em cima de mim, sentindo o cheirinho gostoso vindo da peça, perfume do homem que dirige.
_ Onde estamos indo? - pergunto quando vejo ele manobrar o carro- Para agora! Quero descer, Pietro!- grito alterada, enfio a mão na maçaneta da porta, mas não consigo abri-lá, a porta está travada.
O italiano me ignora, não responde minha pergunta. Observo suas mãos segurarem com tanta força o volante que suas falanges ficam esbranquiçadas.
Seguimos pela estrada de terra que corta a fazenda e paramos no final dela. Ele desliga o carro.
_ Desce! - ordena, destravando a porta.
Meu coração vai à boca quando olho e só vejo mato por todos os lados.
_ Você está de brincadeira, né? Pietro, o que você vai fazer comigo? - pergunto aflita.
_ Desce, Larissa! - fala, saindo e fechando a porta atrás de si.
Levo um tempo até me mexer e deixar o assento onde estou.
Pietro pega minha mão e me arrasta para dentro do mato.
_ Você vai me matar? - pergunto, sentindo como se minha alma estivesse saindo do corpo.
_ Não curto n********a, garota. - diz taciturno.
Tento me livrar do seu aperto, no entanto isso só faz o homem intensificar a pressão que exerce sobre meu pulso.
Seguimos por dentro da mata, sendo golpeados pela chuva incessante.
● Continua .....