Meus filhos. ( Larissa)

1253 Words
" A vida se encarrega de colocar tudo no seu lugar, mesmo que não esteja no nosso entendimento o caminhar de tudo. " Por: Larissa. Nunca a emoção foi tão grande em mim, nunca senti algo semelhante. Dos meus olhos correm lágrimas ininterruptas. Estou aqui perto dos meus filhos, vendo-os através de uma caixa acrílica chamada de incubadora. Eles são tão pequenos e frágeis, tão delicados e sensíveis. Meu coração parece que vai explodir no peito de tanto amor, são meus filhos que vieram de dentro de mim. Olho para eles com tanto carinho, um amor que desabrochou em meu coração e não cabe em mim, ele transborda atingindo todas as camadas do meu ser. Observo cada detalhe do pequeno corpinho, os pezinhos que cabem com folga na palma da minha mão, os dedinhos miúdos, as veias que aparecem por baixo da pele rosada e brilhante. Fecho os meus olhos agradecendo a Deus pela dádiva que me foi concedida: ser mãe. Agradeço pela vida e existência deles. Dante e Giulia são partes de mim, são a minha razão para, a cada dia, querer ser mais forte e mais capaz. - Amo muito vocês! - sussurro, olhando para eles, que ocupam cada um uma incubadora individual. - Feliz por conhecer os seus filhos, mãezinha? - pergunta-me uma enfermeira neonatal. - Sim, quando poderei pegá-los, quero muito amamentá-los. - falo ansiosa. - Em breve, por enquanto eles precisam do calor desse "berço", precisam ficar mais fortes e depois virá a hora do colinho e tudo mais. Vai ser um processo lento, um passo de cada vez. Me entende, mãezinha? Assinto olhando para eles, os meus olhos não queriam deixá-los por um segundo. É difícil para mim, como mãe, saber que os meus filhos estavam nessas condições por causa do pai que os renegou, que o Pietro é o culpado por os meus filhos estarem conectados a inúmeros fios, tubos e monitores. _ Vamos, maezinha, a senhora precisa descansar também. - uma enfermeira diz ao se aproximar. _ Eu não quero deixá-los. - falo aflita. _ Eles estão muito bem assistidos. Mais tarde a senhora retorna, traz o paizinho junto. É bom a família ter esse contato com os bebês, eu acredito que... _ Eles não têm pai. - falo, abaixando o olhar - Ele morreu. - Não minto, pois para mim, o italiano não existe mais. A enfermeira olha para mim totalmente sem jeito, desconcertada. _ Oh, me perdoe! Nossa, eu fui tão... _ Não se preocupe. - digo, dando-lhe um sorriso triste. - Não tinha como você saber. - completo. E sim, Pietro tinha morrido para mim. Ele aos poucos foi exterminando sua existência em minha vida através de suas atitudes, suas p************s e cruéis. Como podemos amar tanto uma pessoa e passar a odiá-la em outro momento? Aquele sentimento quente e maravilhoso que senti pelo italiano tinha sofrido uma metamorfose brusca, transformou-se em ódio. Olho uma última vez para as minhas riquezas na Terra e saio andando vagarosamente para o quarto onde ocupo com outras mulheres que acabaram de dar à luz. Sinto os pontos do parto cesariano repuxarem a cada passo. Estou há dois dias no hospital, do primeiro dia quase não tenho recordações. Foi tudo tão sofrido. Recordo que acordei hoje de madrugada desorientada, apalpando a minha barriga. Quando não senti o volume, entrei em desespero. Entre soluços e lágrimas, eu só perguntava por meus filhos. Com muita paciência, foi-me esclarecido que ambos estavam na UTI neonatal do hospital. Vivos. Eles estavam vivos, e essa notícia foi o que me acalmou. No entanto, a ansiedade por vê-los não me permitiu descansar. Por volta das sete da manhã, fui transferida da UTI adulta para o alojamento materno. Às oito horas em ponto, a enfermeira passou a ministrar as medicações nas pacientes. Pouco depois, chegou a hora do banho. Eu ainda não tinha me levantado do leito, quando a técnica de enfermagem responsável veio me auxiliar com a higienização corporal e também a me erguer. Fui ao céu e voltei quando ela me pegou pelo tórax e me fez sentar. A dor que senti no local da cirurgia foi tremenda, soltei até um gemido. Desci do leito alto com dificuldade, e ela me entregou uma mala que eu bem reconhecia. Minha mãe tinha comprado para eu poder levar para a maternidade. _ Pegue sutiã, calcinha e uma camisola ou vestido, mãezinha. Sabonete e todo material de higiene pessoal que a senhora trouxe.- pediu-me. Assim eu fiz, seguindo com ela bem próxima de mim para o banheiro enorme. Depositei minhas coisas numa bancada de mármore e segui para o banho. Nunca na vida sentir a água molhar meu corpo foi tão satisfatório. Eu estava dando mais valor às pequenas coisas. Eu sentia no meu íntimo que a chave tinha virado. Talvez fosse a maturidade dando as caras, talvez fosse o sofrimento me deixando mais forte, ou a vida que está se encarregando de me colocar num novo prumo. Agora estou aqui, sentada no meu leito, em pleno horário de visita, vendo as famílias das outras mulheres vindo visitá-las. Olho para cada uma delas, sentindo o vazio que ele deixou. Acompanho os companheiros delas pegarem seus filhos nos braços, o sorriso de alegria que ambos compartilham. Não queria que isso me magoasse, mas magoa, não queria me sentir m*l com essas cenas de simples demonstração de amor e cuidado, no entanto eu me sinto. Só ganhei desprezo e rejeição de quem eu tanto amei, e agora meus filhos também provam do mesmo amargor. _ Como vai a mãe mais linda do mundo? - Volto a cabeça para o dono da voz e vejo meu pai e minha mãe se aproximarem. Choro esticando meus braços, pedindo por um abraço, necessitando muito de colo, conforto e proteção. Minha mãe me abraça apertado, dando beijos em meu rosto. _ Chora não, Lari, nós estamos aqui, meu amor, estamos aqui com vocês e para vocês! - diz ao se desprender do nó afetuoso que nos unia. _ Já viu os meus netinhos, filha? - meu pai pergunta emocionado. Balanço a cabeça em afirmação com o pranto ainda presente. _ São tão frágeis, pai, tão pequenos. Estou com medo de perdê-los.- revelo. _Ei, você não vai perder ninguém. Em breve eles estarão lá em casa, perfumando o ar com seus cheirinhos delicados, meu solzinho. - diz meu herói sem capa ao me dar um beijo na testa. _ Você conseguiu, Lari, você é uma guerreira - minha mãe diz, segurando minhas mãos. - Você morreu por alguns segundos, mas voltou, princesa, e foi para cuidar daqueles pequenos. Nada nessa vida é em vão, minha filha. Olho assustada para meus pais. _ Eu... eu... morri? - pergunto com a voz falhando. _ Você teve uma parada cardiorrespiratória, Larissa, logo após os gêmeos nascerem. - senhor Fernando revela, com os olhos orvalhados. Fecho meus olhos, respiro fundo. _ Isso já passou. O importante é que vocês estão aqui conosco. Agora é focar na recuperação dos três, para podermos ir embora desse lugar e das terras daqueles Grec... _ Por favor, mãe, não cite o nome e nem sobrenome daquele pessoal. Eu não quero ouvir ou saber deles, por favor. - peço, me sentindo totalmente estilhaçada por dentro. _ Isso, Lari, siga em frente sem olhar para trás, minha filha. - meu pai expressa. E é o que irei fazer, seguir minha vida na companhia dos meus pais e dos meus filhos e deixar o passado onde ele deve ficar, no passado.
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