Atitudes. = part I ( Violeta)

1295 Words
" O melhor lugar do mundo é ao lado de quem se ama, melhor cheiro do mundo é o da pessoa que faz seu coração disparar e seus sorriso surgir sem ressalvas, melhor colo do mundo é o seu amor." Por: Violeta. Um mês e meio havia se passado e eu via Pietro se afundando cada vez mais. Meu filho estava entregue ao álcool e às drogas. Não atendi sequer as ligações de Vittorio, o que estava deixando meu primogênito louco do outro lado do oceano Atlântico. Tenho medo de que a recusa do meu filho a retornar para Itália lhe traga consequências desastrosas. Mais uma vez, meu caçula mergulhou na escuridão, só que dessa vez está sendo bem pior. Ele não emerge nem por um segundo. Gerardo tentou por vezes conversar com Pietro, mas o meu menino se fechou em copas. Estou neste momento no quarto dele, são nove horas da manhã e, depois de virar a noite bebendo e fumando maconha, meu filho dorme usando as roupas do dia anterior. Sua barba está por fazer e o cheiro insuportável da erva está impregnado em cada canto desse local. Abro a porta que dá para o solário para arejar o cômodo e saio para fora. Estou angustiada com receio de que meu menino tente fazer uma besteira contra sua própria vida, como já tentou. Naquela noite, senti meu coração parar. Eu jamais me recuperaria se perdesse meus filhos, isso é certo, ainda mais por suicídio. Ando pelo amplo espaço e apoio as minhas mãos na mureta, olho para o céu nublado, e parece que o sinto dentro de mim, me sinto tão pesada quanto estas nuvens que pairam acima de minha cabeça. Olho ao longe na direção da casa da maledeta que vem terminando de ferrar com a vida quebrada do meu filho e vejo mais uma vez o táxi entrar na fazenda. "Veio buscá-la."- falo mentalmente. É assim todos os dias, sempre no mesmo horário, e tem sido assim desde que ela recebeu alta. A filha do veterinário vai todos os dias ao hospital ver os seus filhos. Apesar de muito novinha, me parece que a menina cuida com dedicação dos seus pequenos. Vejo o momento em que ela deixa a casa e embarca no carro. Admiro sua fibra, determinação e o seu amor de mãe, apesar de tudo. Deixo o solário e adentro ao quarto do meu filho, fico de pé próxima da cama, observando-o e as lembranças do passado me atingem em cheio, o momento em que ele disse durante o almoço que Pâmela estava tentando engravidar, os meses que a gestação nunca era confirmada, a briga deles por essa questão, a viagem para São Paulo a fim de realizar os exames, o desespero com o qual ele me ligou quando pegou os resultados e neles estavam confirmados sua infertilidade. Lembro que quando meu filho retornou uma semana depois, eu via em seus olhos o vazio e a tristeza. Naquele dia, um pedaço dele tinha morrido. Ele não confessou, não me disse nada, mas nem precisava; ninguém conhece melhor os filhos do que nós, mães. Gerardo também sentiu com a notícia. As esperanças do meu marido de ter um sucessor, encarregado de ramificar nossa dinastia e liderar nosso clã, estavam todas depositadas em Pietro, seriam os filhos dele encarregados de perpetuar nosso sangue, nossa genética na face dessa Terra. Porém não contavamos com essa rasteira que o destino nos deu, e com isso, não sobrou nada para acalmar acalmar nossos corações, seriamos extintos. É dolorido saber que os Greccos acabariam por aqui, e é mais ainda saber que um deles simplesmente está deixando de viver por escolha própria. Suspiro olhando para o homem deitado. Pietro sempre foi frágil para as coisas do coração, nunca soube lidar bem com elas. Desde criança, ele é assim. Ele está sofrendo por gostar da garota, pela gestação dela. Meu filho não precisou confessar nada; eu vi em seus olhos quando chegou bêbado em casa. Meu menino está perdido, desnorteado, e dessa vez temo que ele se perca de vez. Sento em uma poltrona, olho para o chão e vejo os resquícios de pó branco e as garrafas de bebidas espalhadas. Fecho meus olhos apertando bem as palpebras, a angustia me flechando com suas pontas afiadas. Lembro das palavras do veterinário, da força e verdade que transmitia em seu olhar. "Como ela pode mentir tão bem para os próprios pais? Como ela pode..." - minha indagação morre quando um pensamento me corta a mente, meu corpo gela. Miro o rosto do meu filho, minhas mãos ficam frias, meus olhos dobram de tamanho. "Deus não pode ser, ela não seria capaz de fazer isso com ele ou seria?" - murmuro. Me levanto, trôpega, sentindo o ar me faltar nos pulmões. Saio para o corredor e fecho a porta atrás de mim, ainda "pesando" tudo que circula por minha mente. Sigo até o escritório, aproveito o momento em que Gerardo está fora para uma reunião com os gestores do nosso frigorífico. Entro dividida, nunca me senti tão hesitante quanto a algo que devo fazer. Me aproximo da mesa, pego a alça da terceira gaveta e deslizo a mesma, indecisa se prossigo ou não. Respiro fundo e busco debaixo de um monte de papéis a agenda onde constam os nossos contatos políticos de Alegrete, Rio, São Paulo, enfim, do Brasil. Coloco o caderno de couro preto em cima do risque e rabisque. Ando até a porta e a fecho com a chave. "Meu Deus, que eu esteja fazendo a coisa certa." - peço, voltando meus olhos para o teto. Ligo para o governador do Rio Grande do Sul, que recebeu uma generosa contribuição financeira feita por nós do clã Grecco para a sua campanha eleitoral. Sou atendida com toda a cordialidade, sem usar de subterfúgios ou rodeios me faço pragmática e peço o que quero, a gargalhada do outro lado da linha foi inevitável. _ Claro que a senhora pode, apenas deixe-me falar com o prefeito da cidade para que ele deixe tudo dentro dos conformes. Mais tarde eu retorno a ligação e lhe informo o dia e a hora. _ Agradeço. - falo, encerrando a ligação. Apoiei minhas mãos no espaldar da cadeira e tomei uma lufada de ar. Estava feito, agora era aguardar pelo telefonema. Deixo para trás o cômodo depois de guardar a agenda. Dirijo-me para o jardim, onde fico horas pensando e remoendo cada coisa que brota em minha mente. "Vai ser uma decepção tremenda para ele ou talvez não, um m*l necessário. Mas tenho que fazer." - falo mentalmente. _ Dona Violeta, o que eu faço para o almoço? - Carmem me pergunta, fazendo com que eu retorne para o tempo real. Olho para a senhora que se aproxima. _ Faça canelone, Pietro adora. Quem sabe ele não se anima em comer - falo, sabendo que tem dias em que meu filho não se alimenta adequadamente. _ Vou preparar. Quero avisar que o almoço de amanhã deixarei pronto e congelado, apenas para a senhora esquentar, como é minha folga, Mônica não dará conta de todos os afazeres. - fala esfregando as mãos numa toalha felpuda - Depois a senhora me diz o cardápio de amanhã. Não queria comentar sobre isso, mas desde que Luzia parou de vir trabalhar aqui, estou fazendo de tudo para dar conta do serviço. No entanto, estamos precisando de uma pessoa para ocupar o lugar dela. _ Verei isso, Carmem, não se preocupe. Depois de Pietro ter literalmente enviado Larissa para o hospital, tanto Fernando quanto Luzia não estavam mais comparecendo ao serviço. Isso estava deixando Gerardo nervoso. Carmem sai da minha presença. Olho para o horizonte. "Falta pouco para eu colocar um fim em tudo."- falo mentalmente. ♡ Continua.................
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