Sofrimento.( Larissa)

2417 Words
" Não te vejo com meus olhos e sim com o coração e ele nem percebe que você não está mais aqui, minha mente engana esse órgão bobo, folheando minhas lembranças e pegando imagens suas para que este pulse feliz." . Por: Larissa. O tempo não corre, ele voa. Faz oito dias hoje que não vejo o Pietro. Me condeno por ser uma burra e acreditar nas palavras do italiano. Achei que ele gostasse de mim, que de alguma forma eu tinha entrado no coração dele como ele chegou ao meu de um modo fácil demais. Talvez eu que não quis enxergar os sinais, a mudança logo depois que ele conseguiu o que queria. Aquela frieza toda não é tipo de quem se sente atraído por outra pessoa. Quando nós transamos com quem toca o nosso coração, depois do ápice vêm as trocas de carinho, as conversas leves ou até mesmo um tempo em silêncio onde cada um saboreia do seu jeito todos os detalhes do que acabou de acontecer, e no meu caso foi tudo às avessas. Esperei pelo telefonema dele no outro dia; no entanto, isso não ocorreu. Nenhuma mísera mensagem eu recebi. Pensei que ele tivesse a hombridade de me perguntar se eu estava bem. Afinal, tudo foi novo para mim. Ele sequer mensurou que eu podia estar com um monte de dúvidas me torturando, que eu podia estar insegura, me sentindo perdida diante desse novo passo que dei. Pietro praticamente me abandonou à minha própria sorte. Fiquei sozinha, remoendo as lembranças e o arrependimento. Durante duas noites, chorei baixinho deitada no meu travesseiro, dizendo para mim mesma: "Vai passar, vai passar." Sofri sozinha a dor de ter sentimentos pelo homem errado, a dor de ser usada e descartada como um pedaço de nada, a dor de ter de esconder dos meus pais que traí a confiança deles e a dor da vergonha que sinto de mim, por ser uma estúpida e acreditar que um homem como Pietro poderia chegar a me amar. Disfarcei o meu sofrimento diante da dona Luzia e do senhor Fernando, entregando-me à tristeza quando estes não estavam em casa. Pensei em ligar para o crápula diversas vezes e perguntar o que estava acontecendo. Até mesmo digitei vários textos para enviar, porém me acovardei em todas as tentativas. Tive medo de ser rechaçada de uma forma mais aberta. Ouvir p************s da boca do homem que me fez mulher iria, sem sombra de dúvidas, destruir ainda mais o meu emocional. Depois de quatro dias mergulhada nas águas profundas da dor, uma notícia me fez ganhar um fôlego novo. _ Seu curso começa amanhã, filha.- disse meu pai se sentando à mesa para jantarmos. Olhei para ele, sentindo que precisava me dedicar a algo para parar de pensar no Pietro e em tudo o que aconteceu entre nós. _ Sério, mas eu não comprei nada! Como farei sem material algum para iniciar às aulas? _ Oras, isso não é problema, amanhã bem cedo vamos a cidade e adquirimos tudo o que você precisar. O que acha? _ Não sei, pai, e o seu serviço como vai ficar? Não quero que tenhas problemas por minha causa. _ Esquenta a sua cabecinha com isso não, depois eu reponho as horas de trabalho que irei perder. Meu pai manifesta-se com alegria. _ Esse curso vai ser bom para você, filha. Te abrirá muitas portas, terá mais oportunidades na vida.- disse minha mãe, temperando a salada de folhas verdes em seu prato. _ Creio que sim, irei gostar de ocupar minha mente com algo novo.- falei espentando os dentes do garfo numa batata calabresa. _ A propósito, Fernando, você não disse qual é o idioma que a Lari vai aprender.- dona Luiza levantou uma questão que eu com a cabeça em outro lugar, melhor dizendo, em outra pessoa sequer me ocorreu saber. Olhei para o meu pai que apenas nos deu um sorriso. _ É surpresa, amanhã a Larissa vai descobrir. - ele fez mistério. E que surpresa r**m eu tive no meu primeiro dia de aula: meu pai, dentre todos os idiomas ofertados pelo curso, escolheu um que eu quero distância: italiano. Quase tive um surto. Eu não queria saber nada sobre a Itália e tudo que remete a ela, muito menos sobre a língua italiana, que é proveniente quase que inteiramente do latim vulgar. Conversei com a responsável por ministrar os módulos dos cursos e felizmente consegui mudar de turma e de língua. Passei para o bloco 3A, onde é ensinado o Inglês. Minha sala está abarrotada de alunos, cerca de sessenta estudantes contando comigo. No entanto, como nada é cem por cento perfeito, Daniel, o rapaz que ganhou o meu primeiro beijo, estuda junto comigo. Foi só eu pisar na sala que os olhos deles ficaram fixos em mim. Daniel vivia se oferecendo para me levar para casa, no entanto, sempre recusei. Meu pai sempre vinha me buscar com o carro da fazenda depois das cinco, horário que encerra as aulas. Entretanto, imprevistos aconteceram e o ser humano é o felizardo, afortunado que recebeu uma dose cavalar deste. Hoje, minha turma foi liberada mais cedo em razão de nossa segunda professora, Carolina, estar gestante e não se sentir bem para iniciar o seu tempo de aula. Tentei ligar várias vezes para o meu pai, mas o celular está fora de área ou desligado. Não tinha outra alternativa, eu teria de caminhar muito. Ao chegar na portaria, sou abordada por Daniel, que simplesmente entra na minha frente, bloqueando a passagem. _ Dei uma olhadinha lá fora e seu pai não está ai. Como você vai embora para casa hoje?- perguntou enquanto eu recuava dois passos. _ Hoje ele está com muito serviço, não teve como vir. Irei andando para casa.- falo, arrumando a alça da minha bolsa. _ Então, você não tem desculpas para recusar minha carona hoje.- diz, pegando numa mecha do meu cabelo. Eu não sou tola. Sei muito bem que o rapaz está procurando uma forma de se aproximar, mas eu não quero. No entanto, não posso me fazer de rogada, pois estou precisando mesmo de uma carona. _ Eu aceito, Daniel.- falo de forma branda. _ Ótimo, assim podemos colocar o assunto em dia. Faz tempo que eu não converso com você, senti saudades suas Larissa. O modo como suas palavras carregadas de mais alguma outra coisa, sem ser o sentimento que banha o coleguismo, fez-me arrepender de ter aceitado sua oferta, mas agora já era tarde para voltar atrás. Sou guiada por Daniel até uma SUV de cor branca. _ Você é a primeira mulher a entrar no meu carro. Quando meu pai me deu de presente eu queria você lá comigo para eu poder dividir contigo a minha felicidade. Fiquei sem saber o que falar e como agir. _ Você sabe que eu não te esqueci, né Larissa! Eu ainda te carrego dentro do meu peito, ainda sinto o gosto da sua boca na minha. Aquilo estava indo longe demais. Eu precisava frear Daniel, senão as coisas não ficariam nada boas. _ Daniel, por favor, para. Eu aceitei sua carona como amiga, não com outras intenções se é isso que ocorre em seus pensamentos. Acho melhor você ir para sua casa, não quero que você confunda nada entre nós. _ Não, Larissa. Eu faço questão de te levar. E... caramba, me desculpa, deixei me levar pelas lembranças do passado. Prometo não comentar mais nada, agora entra. - diz abrindo a porta do carro para mim. Titubeio, ainda indecisa se estou fazendo o que é certo. Por fim, acabo cedendo e entro no veículo. Meus olhos observam o rapaz dar a volta no veículo e sentar-se atrás do volante. Daniel coloca o carro em movimento e, tempos depois, estamos nos aproximando da fazenda. _ Ou, Droga! O que houve aqui?- pergunto-me ao avistar varios homens trabalhando na entrada que leva para a minha casa. Vejo a porteira no chão, os pilares de concreto que a sustentavam de pé estão caídos e a ferragem à mostra para quem quiser ver. _ Parece que houve um acidente, as colunas apresentam marcas. Olha, tem pedaços de lanternas espalhados pelo chão. - o rapaz comenta. Eu tentei me erguer para poder enxergar melhor, contudo não vi absolutamente nada. _ Vamos para entrada dos patrões.- peço e Daniel prontamente atende. Na portaria, eu me identifico e estou prestes a desembarcar quando o homem sentado ao meu lado segura o meu braço. _ Pode me dar um copo de água, está bem na hora de eu tomar minha medicação e não posso interromper o tratamento. - diz pegando no porta-luvas uma caixinha transparente com algumas pílulas dentro. Como dizer um não diante da gentileza que ele me prestou. _ Claro, vou pedir para liberarem a entrada do seu carro. E assim o faço. Salazar, o segurança que hoje está na portaria, interfonou para a mansão dos Greccos e fui avisada de que Daniel tem permissão para seguir comigo. Quando me viro de costas para seguir até a SUV, ouço a voz de Salazar. _ Dona Violeta disse que assim que a senhorita entrasse, fosse procurá-la. Ela está à sua espera na varanda da parte de trás da casa. Achei aquilo muito estranho, dona Violeta nunca foi de me chamar para conversar. Respirei fundo, temendo que uma grande confusão me aguardasse. _ Obrigada pelo aviso, senhor Salazar. - falo, dando continuidade aos meus passos. Assim que entro, Daniel me olha e um vinco se forma em sua testa. _ Te trouxe problemas? _ Não sei ,a senhora Grecco quer falar comigo. _ Sobre o quê? _ Não sei, Daniel. Talvez queira chamar minha atenção por trazer um "desconhecido" - faço aspas com os dedos - pela passagem de uso restrito deles. Os patrões dos meus pais têm muita minúncia quando o assunto é a segurança da família. _ Mas também, como não teriam? Os Greccos são podres de ricos, Larissa. Têm tanto dinheiro que poderiam comprar Alegrete em peso. Vais me dizer que não sabias? Fico espantada ao ouvir o que Daniel diz. Eu sabia que eles tinham uma condição financeira abastada, no entanto, jamais imaginei que eram bilionários. _ Claro que não! - falo com sinceridade. Os portões abrem-se e nós entramos. Ao descermos, um detector de metais é passado pelo corpo do Daniel e seu carro é revistado por inteiro. Depois da varredura, somos liberados. _ Preciso ir até a dona Violeta, aproveitarei para pedir um copo de água para que tome o seu medicamento- falo pegando minha pasta que contém o meu material do curso. _ c*****o! Os patrões dos seus pais, parecem esperar por uma guerra! Olha a quantidade absurda de câmeras de segurança, e de homens circulando por aqui e fora esse gradil que separa o pavimento da residência do restante das terras.- diz baixinho mais abismado com tudo que vê. Descemos do veículo e sigo para a casa, subindo uma pequena rampa, uma vez que a imponente construção fica no topo de uma elevação. Daniel me segue de perto com a mão apoiada em minhas costas. Assim que pisamos na imensa varanda, que tem uma parte retangular coberta, vejo dona Violeta sentada numa cadeira de madeira, digitando algo em seu celular. _ Boa tarde! - falo para que ela saiba que cheguei. A senhora me olha e um sorriso brota em sua face, seus olhos pousam no homem ao meu lado e reparo que o seu olhar muda para um analítico. _ Olá, bela ragazza! Chegue mais.- diz fazendo um gesto com a mão. Olho para Daniel e em seguida nos andamos em direção a mulher que está vestida com extrema elegância. _ Salazar, me disse que a senhora deseja falar comigo. _ Sim, querida, sua mãe comentou comigo que está fazendo um curso de idiomas, que está aprendendo minha língua materna, então separei alguns livros para te ajudar nos estudos. Eu lhe dei um sorriso que escondia minha agonia, quando troquei o curso de italiano pelo de Inglês, escondi esse fato dos meus pais. Não queria que eles ficassem tristes, principalmente o meu pai que se mostrou felicíssimo com a escolha que ele fez para mim. _ Mas não é o In.... _ A senhora pode me dar um copo de água? Interrompo a fala do Daniel, antes que ele acabe expondo minha omissão diante da senhora que obviamente, contaria tudo para minha mãe. _ Sí, ragazza.- dona Violeta, retira-se de nossa presença e minutos depois retorna com a água. _ Obrigada!-peço pegando o copo e dando para Daniel. _Ma quanto è bello questo ragazzo! Il tuo amore, Larissa? Engasgo com minha própria saliva ao ouvir suas palavras, com o combo de ver surgir na porta Pietro, sustentando expressões severas e olhos extremamente afiados, me mirando sem cessar. _ Eu entendi o que a senhora disse! - fala o rapaz ao meu lado, que enlaça minha cintura e puxa meu corpo para junto de si. - Estou querendo muito isso, só resta ela dizer que aceita. - Daniel completa a frase, me dando um beijo no topo da minha cabeça. _Ma sono bellissimi! Formaram um lindo casal! _ Algum problema, madre?- Pietro diz se aproximando de onde estamos. Seus olhos estão ameaçadores, carregados de ameaças veladas e com uma névoa sombria pairando em suas íris. Um arrepio frio percorre a minha espinha. _ Nenhum meu figlio. Estou apenas conversando com o casal. _ Bom, eu preciso ir, Larissa. O trabalho me espera.- Daniel fala olhando para o relógio em seu pulso- Senhora muito obrigada pela água.- completa dando um sorriso para a senhora Violeta e em seguida deposita o copo vazio no tampo da mesa de vidro que se encontra próxima a nós. _ Eu também estou indo - falo, não me aguentando de vontade de esmurrar a cara do calhorda que está a um passo atrás de onde se encontra a mãe dele. _ Os livros, Larissa! Espere um minuto, sim, já volto. A senhora entra em sua casa e fico inquieta com os olhos de Pietro pousados sobre Daniel e eu. Foram minutos torturantes, até a Grecco retornar trazendo sete livros em mãos. _ Aproveite bastante, caríssima. Gostará dos romances - diz, depositando-os em meus braços. _ Obrigada! _ De nada, ragazza! Saio da presença dos dois, Daniel repousa sua mão na base da minha coluna, me guiando pelo caminho. Me despeço do rapaz e sigo para a casa, com meu peito martelando e garganta embargada.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD