"Filhos são os nossos corações fora do peito e onde o sangue deles pingar o nosso jorrar."
Por: Fernando .
Foi duro vê-la partir, ver minha menina ir para longe com seu coraçãozinho destruído e eu aqui impotente, sem poder colar os pedaços que aquele desgraçado destruiu sem ter um pingo de misericórdia por ela.
Minha filha estava sofrendo e eu não podia fazer nada para ajudá-la. Por mais que minha intenção seja preservá-la, afastando-a de tudo e das vistas das pessoas maldosas e de língua ferina, ela carrega no peito uma dor que minhas mãos não podem arrancar.
Quando o ônibus some na estrada, me permito chorar agarrado à minha esposa, que soluça em meu peito. Eles nos atingiram onde mais dói, nos atingiram com ela, que é tudo de mais importante que temos.
Eu não consigo entender como pode haver no mundo pessoas tão cruéis e aproveitadoras, porque é isso que aquele moleque é. Isso mesmo, moleque! Um homem de verdade jamais brincaria com os sentimentos de uma jovem doce e inocente. Sob hipótese nenhuma se aproveitaria da ingenuidade de uma menina simples, criada no campo.
_ Minha redoma de proteção falhou, minha filha, me perdoa. - falo vendo os fundos da condução levando meu maior tesouro, embora.
O que mais me dói não é o fato dela não ser mais uma moça virgem, e sim a forma como tudo aconteceu com a minha menina. Larissa não defendeu o crápula nenhuma vez. Isso fez acender o alerta de que tinha coisas que ela esconde de nós, talvez p************s e ásperas que tenha ouvido do italiano maldito depois da consumação do seu propósito.
Eu sei que minha garotinha está sentindo o peso do mundo sobre si, no entanto ela é forte e vai superar. E eu estarei sempre por perto para sustentá-la quando seus pés falharem durante essa árdua caminhada.
- Vamos, Luzia, tenho assuntos pendentes para resolver com os Greccos. - falo, enlaçando a cintura da minha esposa.
Saímos andando até o carro que peguei emprestado com um amigo para poder trazer minha filha ao terminal rodoviário.
Entramos no automóvel, e o silêncio se abate sobre nós. Sinto que falta um pedaço em mim. Chegar em casa agora e não ver mais meu pequeno sol vai me quebrar por inteiro.
_ Ela vai ficar bem, não vai, Fernando?
_ Vai, querida. Nossa menina é forte - respondo, querendo acreditar nas minhas próprias palavras.
Dirijo para Caravaggio e sigo direto para o portão principal.
_ Preciso falar com a senhora Grecco. Diga que é urgente - falo para o segurança que resguarda a portaria, assim que chego.
Não demora para que nossa entrada seja liberada.
Subimos a rampa e somos recebidos pela porta dos fundos, lugar onde pessoas sem grande importância, como nós sempre somos atendidos.
Dona Violeta surge com seu vestido azul esvoaçante, seu ar aristocrata nem um pouco abalado, seu nariz em pé e olhos argutos pousados sobre minha esposa e eu.
_ Não preciso nem dizer o que nos traz até aqui, não é mesmo? Sou direto e dispenso o uso de formalidades.
- Se querem falar com meu filho, podem dar meia volta e retornar por onde vieram. Pietro, nesse momento, está em pleno voo a caminho da Itália. - fala com aspereza.
- Isso não me surpreende. O que eu poderia esperar de um sujeito como ele? Seu filho não presta! - berro, apontando um dedo em riste para a mulher, que não sofre qualquer abalo com minhas palavras.
- Pietro é um homem de ouro. Não impute a ele o erro que foi cometido por duas partes. Sua filha não foi obrigada a nada, fez tudo porque assim o quis.
- Não me faça rir, senhora. Minha filha é apenas uma menina recém-saída da adolescência, sem malícia para competir com a mente de um homem de trinta e dois anos. Seu filho é um ser podre, sórdido!
_ A criação que vocês deram a ela então foi frágil demais, cadê a honestidade dela para com vocês? Larissa mentiu, não foi mesmo? Escondeu tudo?
_ Não toque no nome da minha filha! O único pecado da minha menina foi se apaixonar pelo crápula que você gestou!
_ Pecado eu não diria, mas erro com toda certeza. Pietro não é dado a sentimentalismo, ele é bem pragmático quanto a tudo.
_ Olha, senhora, não quero mais saber de conversa. Minha filha já está bem longe dessa merda toda e...
_ O senhor fez o quê com a garota?
_ Fiz o que qualquer pai que deseja proteger faria: tirei minha menina de Alegrete e o próximo passo é eu deixar esse lugar com minha esposa. Vim pedir nossa demissão. Não queremos nenhum tipo de contato ou vínculo com nenhum Grecco.
A senhora Violeta me fita em linha fina.
_ Seu contrato se encerra daqui a três anos. Assim como o da sua esposa. Antes desse prazo, os senhores não pode se evadir dessa fazenda.
_ Eu estou pouco me lixando para um pedaço de papel, estou comunicando a nossa partida desse lugar. - falo puxando Luzia pela mão e me dirigindo à saída.
_ O senhor ama muito a sua filha, não é mesmo, senhor Fernando?
Sua frase entoada em tom de ameaça faz minha espinha gelar. Paro de andar e me viro para a mulher que me encara sem titubear. A p***a dessa família era formada de quê, blocos de gelo? Os miseráveis parecem que foram forjados todos na mesma forma, raça r**m esse bando de italianos.
_ A senhora está me ameaçando usando a minha filha?
Um sorriso frio brota em seus lábios pintados de vermelho.
_ Não mesmo, eu só lhe fiz uma pergunta.
_ Aqui não tem nenhum burro, senhora Grecco. Não use de meios termos comigo, seja franca.
_ Cumpra o contrato e, depois desse prazo, os senhores podem ir se juntar à vossa filha. Nós italianos não gostamos de romper acordos; somos muito criteriosos quanto a isso. Se algo não sai como queremos, então agimos do nosso modo, e isso pode desagradar muita gente - diz, deixando-me horrorizado ao perceber que a família inteira é nebulosa e não só o filho.
Olho com desprezo para a mulher que mantém a postura altiva.
_ Vocês são um bando de abutres. Tenho asco de pessoas como vocês! - falo, retorcendo minha cara numa careta que denota puro nojo.
_ O senhor não deveria ter nojo e sim sentir.- seu olhar, pela primeira vez, se abaixa.
_ Sentir? - pergunto, sem entender.
_ Medo. - diz, erguendo-me o olhar.
Sinto uma corrente gélida atravessar meu corpo.
_ Bom, acho que tudo está mais que esclarecido. Com licença, senhores. - diz, entrando pela porta. Antes de desaparecer pelo corredor, a mulher levanta um dedo no ar e olha por cima do ombro - Ah, antes que eu me esqueça, no horário de sempre amanhã, Luzia, não se atrase. - completa
Vejo a senhora Grecco sumir dentro da mansão.
Respiro com dificuldade ao perceber que nos envolvemos com uma família "barra pesada". Agora estamos nas garras deles, sendo ameaçados a permanecer neste lugar, com um grande alvo pairando sobre a cabeça da nossa Larissa.