" Nós, mariposas, somos animais oriundos da noite, mas a luz nos atraí. "
Por: Pietro.
Faz três dias que estou sem tocá-la, três dias sem sentir na minha pele o calor dela. Estou pirando de desejo, "ando" mais nervoso do que o normal.
O celular dela não completa as minhas ligações, com certeza desligou o aparelho para não manter contato comigo.
Não a vejo mais andando pela fazenda, sequer vai mais à baia atrás do pai. Olho para a construção que tem a fachada pintada de um cinza claro, nem sombra da Larissa. Estou mais uma vez próximo do prédio onde a ragazza faz um curso, da última vez Fernando apareceu para pegar a garota e pelo que vejo hoje não vai ser diferente.
Observo o homem estacionar e, em seguida, a piccola sai do pequeno prédio indo em direção ao pai com um sorriso lindo estampado no rosto.
Meus olhos famintos percorrem o corpo da ragazza. Larissa veste uma calça jeans justa, muito justa para o meu gosto, e uma blusa de cor laranja de mangas compridas. As porras das cores vívidas que cisma em usar.
Sem ter como me aproximar, coloco o carro em movimento. Mas, ela que não pensasse que eu estava conformado com a distância que impôs entre nós. Por que não estou.
Dou um soco no volante, colérico com o andamento das coisas. O sexo entre nós dois é surreal, um prazer que nunca antes provei e não abrirei mão disso, não mesmo.
Acelero pela estrada de terra batida, possesso. Recordo do nosso último encontro; ela tentou tocar na dor representada em minha pele.
Tentou tocar na lembrança fúnebre que eternizei em meu corpo: a morte engolindo a minha vida, consumindo tudo de belo que tive, todo amor que vivi e compartilhei com minha amada Pâmela.
Memorizei em minha carne o sofrimento de tudo que enegreceu meu interior, dois anos após chegar na Itália. As demais tatuagens são todas intrincadas, repletas de significados dentro da organização da qual faço parte, além de ter a função de camuflar as cicatrizes que adquiri em campo de batalha e em seções de torturas.
Chego em casa, meus olhos voam para o espaço verdejante salpicado por flores e lembro das palavras da minha mãe: "Larissa gosta do jardim."
A menina gosta das cores que explodem nele quando as flores desabrocham. Larissa é completamente o oposto de mim, ela irradia vida por onde passa, parece ter uma luz dentro de si que ilumina tudo ao seu redor. Enquanto eu sou a personificação do medo e do terror, um soldado forjado nas trevas onde a minha escuridão faminta, engole quem se aproxima.
Passo a mão pelos fios do meu cabelo, que teimam em cair na minha testa, e sigo para dentro. Porém, antes que eu possa me refugiar no meu quarto, ouço a voz do meu pai.
_ Pietro, não se recolha agora, Fernando está vindo para cá. Quero que ele me fale sobre esses animais que você comprou, com seu olhar de veterinário. Preciso que esteja conosco. - fala, caminhando para o bar feito todo de Branco Thassos, um mármore originário da Grécia - Estou sedento por uma bebida. - diz, abrindo uma garrafa de vodka e aproximando seu nariz da boca da garrafa. Meu velho aspira o cheiro do álcool.
Olho para trás e retorno meu foco para ele.
_ Se dona Violeta te pegar com essa garrafa nas mãos, vai te esfolar vivo. - falo, acompanhando os movimentos que meu pai faz para livrar-se do fruto de seu desejo.
_ Dio santo, nem fala isso. Sua mãe, quando quer, sabe ser má. - diz se afastando do bar.
_ Fernando vai demorar? - pergunto, sabendo exatamente onde o funcionário estava há poucos minutos.
_ Não, ele vai buscar a filha, passar em mais algum lugar e virá ter conosco.
"Então, ela estará junto com o pai!" - penso.
_ Certo, papà, estarei presente. Subirei para tomar um banho e já desço. - aviso, saindo de sua presença.
A noite chegou e eu estava sentado na sala na companhia dos meus pais, sorvendo uma taça de vinho, quando nos foi avisado que o trabalhador tinha chegado.
_ Conversaremos aqui mesmo, papà?
_ No, figlio mio. Vamos ao escritório, é um ambiente mais formal.
_ Certo! - respondo, sorvendo um gole generoso da taça.
Minha mãe me lança um olhar desconfiado.
_ Pietro, você não está bebendo demais, po acaso voltou a us...
_ Não, mãe. - respondo, sabendo o que ela iria perguntar.
_ Então, diminua a quantidade de álcool que está ingerindo, ragazzo! - pede, levantando-se do sofá e seguindo para as escadas.
Meu pai me olha com uma fagulha de preocupação.
_ Sua mãe tem razão, Pietro! Eu sei que sua inquietação é por estar aqui na fazenda, mas o tempo está chegando ao fim. Terá que suportar só mais um mês. - diz, fitando-me com seriedade.
Respirei, sentindo um alívio por saber que em breve eu me livraria dessa casa cheia de lembranças, de ter meus olhos sempre encarando a porta no final do corredor do segundo andar, de desejar retornar no tempo e mudar tudo para que ela ainda estivesse aqui comigo, do meu lado.
_ Senhor Gerardo, o veterinário chegou. - Avisou Carmen entrando na sala.
_Vamos, filho, hora de eu me inteirar sobre essas suas ideias, tomara que não prejudique meu rebanho. - fala indo em direção ao corredor que dá para o escritório do térreo.
Eu o sigo, ao entrarmos, meu pai toma o seu lugar atrás da mesa de angelim, enquanto me sento numa poltrona lateral.
Meu velho dedilha a caixa de charutos cubanos que tanto aprecia.
_ Vida maledeta! O coração me castigando, me privando de tragar essas delícias. - brada fechando a tampa da charuteira num baque seco.
Escutamos alguém bater à porta. Gerardo autoriza a entrada e passa pelo limiar um Fernando meio tímido e totalmente desconcertado.
Meu pai o olha com toda a sua altivez.
_ Com licença, senhores. - diz o homem segurando o seu chapéu surrado em mãos - Primeiramente, quero dizer que estou muito satisfeito com sua recuperação, senhor Grecco. - completa, dando um singelo sorriso.
_ Obrigado, Fernando. Agora, sente-se, que temos muito para conversar. - pede meu pai, apontando a cadeira em frente à mesa.
O veterinário se senta, meio tenso.
_ Desculpe-me a pergunta, mas iremos demorar muito? É que a minha filha está me esperando. Ela queria ir sozinha para casa, mas achei por bem não deixar. Da última vez que o fez, chegou machucada, levou um tombo enquanto passava por aqui. - revelou. Tive vontade de rir da desculpa estapafúrdia que a ragazza arranjou para encobrir que fui eu o causador da ferida em seu lábio.
Meu pai levanta uma sobrancelha.
_ Demoraremos o tempo necessário, Fernando. E como assim passou por aqui, se o portão de vocês é o que faz parte da área onde vocês residem?- pergunta, enquanto entrelaça os dedos em seu colo.
Fernando, arruma a armação dos seus óculos, ajustando-os sobre o dorso do seu nariz.
_ Foi uma exceção, esse dia, senhor Grecco. O motorista da carreta que trouxe os fardos de feno se perdeu na hora de dar ré e acabou derrubando a porteira. Pensei que o seu filho estivesse lhe informado. -fala, desviando o olhar para mim.
_Não preocupo meu pai com besteiras.- sou rude em meu comentário.
_ Bom, deixamos esse assunto de lado e vamos ao que interessa.- diz Gerardo, antes de começar a fazer perguntas para o veterinário, que as responde, esclarecendo todos os pontos e dúvidas que meu pai tem.
_ Preciso fazer um telefonema importante, com a licença dos senhores.- falo, me retirando do cômodo.
Ando até a área externa. Quando chego na varanda, vejo Larissa tirando uma foto, a menina posiciona o rosto angelical perto de um cacho de flores.
A ragazza gosta disso, tem várias fotografias em suas redes sociais, algumas receberam tantas curtidas e comentários de homens que me inervei ao ler alguns.
Ando até a piccola, pegando-a de surpresa, e a puxo para baixo do pergolado, onde uma Tumbergia azul desce em cascatas pelas laterais, formando uma longa cortina natural.
_ Mas o quê.... - ela tenta se manifestar.
_ Está fugindo de mim, bella mia? - pergunto, fitando-a com intensidade.
A pouca iluminação que entra por entre as folhas me permite enxergar os olhos da menina dobrarem de tamanho. Ela umedece os lábios com a ponta da língua, uma tentação para mim.
_ Você me assustou, Pietro. Achei que fosse morrer por suas mãos. - fala baixo enquanto ajeita a alça da sua bolsa e faz uma careta de dor.
_ Ainda dói? - pergunto, levando dois dedos ao local onde possuiu as marcas dos meus dentes no ombro da menina.
_ Um pouco, está cicatrizando. - revela, abaixando o olhar.
Me aproximo mais da ragazza, que tenta se afastar. Eu a encurralo em um dos roliços troncos de madeira que sustentam a estrutura elaborada.
Larissa tenta sair, no entanto, meu corpo a subjuga. Tomo sua boca num beijo sofrido, desesperado e cheio de vontades: vontade do seu corpo, do seu gosto, do seu cheiro, dos seus gemidos e de tudo que vem com ela.
A ragazza, num primeiro momento, não corresponde, protestando com minha língua em busca da sua. Direciono uma das minhas mãos para a base do seu pescoço, aprofundando o beijo, bebendo dela, do seu sabor viciante que me instiga a querer mais.
Trocamos nossas salivas, um sorvendo do outro a secreção aquosa e transparente.
Perco-me em seus lábios desenhados. Quando me afasto, acompanho o arfar da menina.
_ Quero te ter essa noite - aviso.
_ Não posso, estou menstruada - fala baixinho, desviando o olhar, típico de quem está envergonhado.
_ Venha assim mesmo.
Ela volta seu olhar para mim de supetão.
_ Claro que não! Não terei relações com você, estou sangrando! E outra, depois do que aconteceu, acho melhor pararmos por aqui.
_ Quem decide quando parar sou eu, e não pretendo abrir mão de você, piccola.
_ Não so...
_ Quantos dias?
_ O quê? - me olha com semblante de quem não está entendendo nada.
Aponto para o seu baixo ventre. A menina segue com os seus olhos o que meu dedo indica e entende a minha pergunta.
Ela levanta a cabeça e me olha, embora negue, vejo a fome escancarada em suas duas gemas verdes.
_ Quatro dias, hoje é o segundo.
_ Daqui a dois dias estarei te esperando no mesmo lugar, na mesma hora. Ligue o seu aparelho, não fuja de mim, bella mia. - falo deslizando dois dedos por seu rosto.
Larissa fecha os olhos diante do meu toque.
_ Preciso ir, Pietro. Meu pai pode sair da reunião com seu, e dar por minha falta.- diz ela, saindo da minha frente e passando pela cortina viva feita de vegetação.
Sigo atrás dela, ao sair meu corpo colide com o de Larissa. Olho para a minha direita e vejo a razão pela qual a menina ficou paralisada como uma estátua: Carmem tem os olhos arregalados em nossa direção.
Deixo o jardim e caminho para dentro da minha residência, mais sedento do que antes. Lanço um olhar de aviso para a empregada que não desvia os olhos de mim.
Nós, os Grecco, prezamos pela discrição e sigilo. Esses são pontos fortes para que nenhum subalterno sirva ao nosso clã.
Carmem não comentaria nada do que viu e, se porventura o fizer, ti strappo la lingua.